Jennifer Santos, de 19 anos, foi avisada ontem (23), sobre a morte do namorado, Tiago Escarcell Boher, de 32 anos. A notícia foi dada pela mãe, Angélica Santos Pereira, de 49 anos, acompanhada de médicos, psicólogos e psiquiatras. Os dois viajavam há 8 meses e 13 dias pelo Brasil e conheceram todos os estados do país e o distrito federal.
O casal gaúcho sofreu um acidente na BR-060, na altura do município de Paraíso de Águas (MS) na terça-feira passada (16). Tiago não resistiu aos ferimentos e morreu na sexta (19).
Dar essa notícia foi o dia mais triste da minha vida”, contou Angélica ao UOL. “Ela começou a gritar, dizendo que o Tiago não poderia ir embora. Ela amava ele. Estava tão feliz. Eu estava segurando o choro, mas naquele momento não tinha como aguentar. Foi muito difícil.”
Angélica chegou na quinta-feira (18) a Campo Grande, após uma viagem de 30 horas de ônibus, saindo de Pelotas, cidade natal de Jennifer e Tiago. Ela embarcou na quarta-feira (17), logo após saber da notícia do acidente da filha e do namorado. Jennifer, segundo a mãe, teve fraturas múltiplas e quebrou a bacia, o tornozelo, a perna e ainda teve dois dedos do pé amputados.
A mãe conta que Jennifer está em situação de fragilidade e que contou sobre a morte do namorado, mas ainda revelará mais detalhes do acidente e a repercussão entre familiares, amigos e seguidores do casal.
“Ela está muito frágil, emocional e fisicamente. Quando ela estiver pronta, vou contar tudo para ela. A única coisa que disse é que ela é amada pelo Brasil inteiro. Eles fizeram muitos amigos. O Tiago era uma pessoa maravilhosa.”
Ainda não há previsão de alta e a mochileira deverá passar por mais duas cirurgias para correção dos ossos. Ela teve alta da CTI (Centro de Terapia Intensiva) no domingo (21). A previsão da família é que ela mantenha o acompanhamento psicológico e psiquiátrico após deixar o hospital.
História de amor
Jennifer e Tiago se conheceram no ano passado. A jovem trabalhava em uma sorveteria em Pelotas e deixava o trabalho por volta da meia-noite. Para retornar à casa em segurança, ela costumava pedir um carro por aplicativo de celular. Em uma determinada noite, foi Tiago quem apareceu.
“Ele trabalhava como motorista de aplicativo e no carro dele estava escrito ‘Canal do Mochileiro’. Minha filha, muito curiosa, perguntou para o que era aquilo e descobriu que ele queria fazer uma viagem pelo Brasil inteiro. Ele já havia viajado por vários lugares anos atrás de bicicleta, mas desta vez queria ir de moto. Ela ficou animada e disse querer ir junto.”
Jennifer manteve o contato com Tiago; os dois acabaram se envolvendo e oficializaram um namoro. “Foi a primeira vez que eu a vi feliz. Vi o sorriso encantado, o olho brilhante, ela estava muito satisfeita”, relembra a mãe.
Em um determinado dia, a viagem sonhada ganhou uma data. “Na época, como mãe, fiquei com o coração fechado. A viagem só não foi totalmente completada por causa do acidente. O Mato Grosso do Sul foi o último estado do Brasil que eles estavam visitando. Pelotas estava em festa esperando a chegada deles”, conta Angélica.
A notícia do acidente, segundo ela, veio como um soco no estômago para os amigos e familiares. A chegada do corpo de Tiago na cidade foi acompanhada de uma série de homenagens. “Estava a cidade inteira. Foi muito triste”, diz.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, uma apuração preliminar aponta que um homem de 63 anos que dirigia uma motocicleta de luxo, da marca BMW, seria o possível responsável pelo acidente.
O motociclista, que tinha placas de Balneário Arroio do Silva (SC), trafegava acompanhado dos amigos na rodovia e teria tentado ultrapassar um caminhão. Ao realizar a manobra, chocou-se com a moto em que estavam os dois mochileiros. Após a colisão, o condutor do BMW acabou rolando para debaixo do caminhão. Ele não resistiu e morreu no local.
Tiago chegou a ter a perna esquerda amputada e foi socorrido. Ele estava no CTI (Centro de Terapia Intensiva) sedado e intubado e havia realizado um procedimento para correção da área atingida. No entanto, não resistiu aos ferimentos.
A mãe de Jennifer afirma que está recebendo uma série de mensagens de apoio e que amigos e fãs que acompanhavam a página do casal têm enviado muito suporte para a família no momento. “Um seguidor do canal deles que mora aqui em MS foi uma das primeiras pessoas a entrar em contato com a gente. Ele nos buscou na rodoviária, pagou um hotel, andou com a gente para todos os lados”, diz ela.
Angélica ainda conta que diversas pessoas realizaram vaquinhas em diferentes grupos e que está recebendo até doações para conseguir se manter em Campo Grande enquanto assiste à recuperação da filha. “Uma mulher nos doou almoço, outra nos trouxe frutas. Teve gente que levou nossa roupa para lavar. É uma corrente de solidariedade. Isso me comove muito. Apesar da tragédia, nós vemos esse amor gigante. O povo brasileiro ainda acredita no amor, na solidariedade e na amizade.”
A mãe diz que pretende contar à filha em breve sobre a reação do público, mas que, no momento, a missão é apoiar a recuperação e eventual retorno dela para casa, ainda sem data definida, devido à gravidade das fraturas.
“Esse foi o maior amor, amizade e companheirismo que eu vi em toda a minha vida. O brilho no olhar de um para o outro estava estampado. A lembrança que fica do Tiago é a de um jovem guri que não se apegava a nada, só ao amor, à felicidade. E isso é uma coisa que não tem como uma pessoa esquecer”, finaliza Angélica.
Fonte: UOL