Bento Gonçalves e Monte Belo do Sul estão entre as 17 cidades gaúchas que fazem parte da lista de 312 municípios brasileiros que não vacinaram nem metade dos bebês de até um ano contra a poliomielite. Os números, que alarmaram o Ministério da Saúde a ponto de recomendar a antecipação de uma campanha nacional de vacinação, alertam para o risco de que todas as localidades com cobertura vacinal contra a polio abaixo de 95% estão sob ameaça de surto da doença. Em Bento Gonçalves, apenas 33,52% dos bebês receberam a vacina, enquanto a cobertura em Monte Belo alcança 35,29%. Os números foram contestados pelo município.
Os dados, relativos a 2017, foram divulgados pela coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde (PNI), Carla Domingues, durante reunião da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) na semana passada. “Uma cidade com esses indicadores tem todas as condições de voltar a transmitir a doença em nosso país. Será um desastre para a saúde como um todo”, afirmou a gestora do programa.
O secretário adjunto de Saúde de Bento Gonçalves, Marlon Pompermayer, que esteve reunido com a equipe técnica da secretaria para avaliar os dados na tarde desta quarta-feira, dia 4, os dados não estão corretos. Ele suspeita que pode ter havido problemas na transmissão dos números.
“Acreditamos que tenha havido um problema na exportação dos dados. Historicamente, nossa cidade sempre tem ficado muito próximo ou até atingido as metas propostas pelo governo federal. Em 2018, estamos com mais de 80% da meta atingida, e esse número de 2017 fica totalmente fora de contexto”, avalia Pompermayer, que garante que a secretaria deverá contrapor os números apresentados pelo governo federal.
De acordo com o coordenador da vigilância epidemiológica da secretaria da Saúde, Rafael Vieira, algum problema ocorreu na transmissão das informações. “Bento sempre atinge no mínimo do mínimo 80% de cobertura vacinal”, garantiu, lembrando que teve um ano em que a imunização atingiu 101% da meta. Ele afirmou que a vigilância está cobrando uma reparação das informações à 5ª Coordenadoria Regional da Saúde (CRS), com sede em Caxias do Sul. Para ele, uma mudança no sistema de contabilização dos dados pode ter causado a discrepância.
O Ministério acredita que uma das explicações para a diminuição da imunização é que o país não registra casos de poliomielite há 28 anos e, exatamente por isso, a falta de conhecimento e a falta de percepção de risco podem contribuir para a baixa procura das vacinas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poliomielite foi erradicada nas Américas em 1994, embora no mês passado a Venezuela tenha registrado o primeiro caso em anos. O problema é que essa resistência de pais e mães em imunizar os filhos contra a doença tem aumentado o risco de novos casos.
Por conta disso, o Ministério da Saúde brasileiro informou no mês passado que a campanha de vacinação contra a doença no país deve recomeçar no mês que vem: de 6 a 31 de agosto. Nos dois últimos anos a campanha aconteceu em setembro. Em 2017, 22 unidades da Federação não atingiram a cobertura considerada ideal durante a campanha: pelo menos 800 mil crianças ficaram sem o esquema vacinal completo, que compreende três doses do imunizante.
Diante dessa realidade, o ministério orienta os gestores locais a organizarem as redes de prevenção, levantando a possibilidade de readequação de horários, para que sejam compatíveis com a rotina da população brasileira. O ministério ainda recomenda o reforço de parcerias com creches e escolas, para ajudar na mobilização sobre a vacinação.
Além dos 17 municípios gaúchos, quase 30% das cidades onde a situação é mais grave estão localizadas na Bahia e no Maranhão, e São Paulo tem 44 cidades com índices de imunização abaixo dos 50% dos bebês com menos de um ano de idade.
Poliomielite
Também conhecida como paralisia infantil, a poliomielite é causada por um vírus que vive no intestino (poliovírus), atingindo crianças com menos de 4 anos, mas pode contaminar adultos também. A doença pode ser transmitida de uma pessoa para outra por meio de saliva e fezes, assim como água e alimentos contaminados.
A maioria das infecções apresenta poucos sintomas, geralmente semelhantes às infecções respiratórias (febre e dor de garganta) e gastrintestinais (náusea, vômito e prisão de ventre). A forma paralítica da poliomielite pode atingir cerca de 1% dos infectados pelo vírus, deixar sequelas permanentes e causar insuficiência respiratória — em alguns casos, levar à morte.
Apesar de não ter um tratamento específico, é possível prevenir a doença através da vacinação, que é oferecida pelos postos da rede pública de saúde. O esquema de vacinação contra a poliomielite oral trivalente deve ser administrado aos 2, 4 e 6 meses de vida. O primeiro reforço é feito aos 15 meses e o segundo entre 4 e 6 anos de idade.
As cidades gaúchas na lista (%)
Herval 7,4
Tupanciretã 33,33
Bento Gonçalves 33,52
Inhacorá 34,29
Monte Belo do Sul 35,29
Pelotas 35,65
Portão 37,14
Osório 37,94
Santana da Boa Vista 38,24
Tupanci 38,89
Santo Expedito do Sul 39,29
Chuvisca 41,79
Venâncio Aires 41,91
Chuí 43,10
Ubiretama 44,44
Taquara 47,30
Vista Gaúcha 48