Ame-o ou deixe-o

O slogan que dá título a este comentário entre outros, talvez seja o que melhor represente o período da ditadura no Brasil. Sugeria que, não sendo possível amar o Brasil da forma como era, melhor ir embora. Ou assumir as consequências que muitos conheceram nos porões obscuros daqueles tempos.

Foi nesta época que um jovem com talento para a política começou a se destacar em Bento e se elegeu pela primeira, de três vezes, prefeito. Depois viria a ser deputado federal e deputado constituinte. Inegável dizer que Darcy Pozza, tardiamente, faleceu nesta quarta-feira – sua doença prolongou-se por mais de cinco anos causando sofrimento a ele e tantos outros.

e trago o slogan da ditadura não é porque seu traço mais forte seja o alinhamento com os militares, mesmo que sempre tenha sido da Arena, PDS e PP, partidos de direita. A verdade é que ao longo dos anos e com poder que exercia às últimas consequências, colecionou uma legião de amigos, outra de desafetos, cujos desencontros nem o tempo conseguiu resolver e um séquito enorme de puxa-sacos. Por isso o ame-o ou deixe-o.

Na política, incontestavelmente, foi um vencedor. Não perdia eleição e em dado momento, com a cidade precisando voltar a ter representante em Brasília, não se sentiu seguro e preferiu impor condições que mais pareceram um auto boicote. Então, não concorreu e Bento Gonçalves desde lá não elege um deputado. Ferida aberta e que incomoda.

Pozza inscreve seu nome na história muito antes de seu afilhado político, Guilherme Pasin, se eleger. Aliás, a vida pregou esta peça – rei morto, rei posto, mesmo que falte ainda muita vitamina ao sucessor. Mas foi assim mesmo, sempre se disse que o velho político não queria uma sombra. Como um goleiro, a grama não cresceria sob seus pés. Pois, quando fez o sucessor, se retirou de forma dramática da política e da vida.

O ex-prefeito será lembrado por gerações, goste-se dele ou não. De minha parte nem sei se cheguei a votar nele. Não fui amigo, mas sempre nos tratamos com respeito recíproco e isto é algo que deve ser celebrado. Lembro que nunca me faltou com a palavra. Algumas vezes disse não e em outras  tentou influenciar em notícias a serem publicadas, mas tudo com ética e sem avançar o sinal.

Então, fica meu respeito à família e que ele tenha finalmente o descanso que um dia será de todos nós.

Talvez se diga que seja cedo para uma análise sobre quem foi e o que representou o ex-prefeito Darcy Pozza. O caminho mais confortável nestas horas é engrossar o coro de elogios, referir que ele efetivamente agora pode entrar para a história do município como o prefeito que por mais tempo ficou na prefeitura, deputado federal que defendeu os interesses regionais, etc. etc.