Opinião

Álcool nas ruas e pancadão

Álcool nas ruas e pancadão


Na semana passada me surpreendi com a repercussão de um tema votado na Câmara de Vereadores. Exatamente aquele que prevê o consumo de bebidas alcoólicas em vias públicas após às 22 horas.

É verdade, tem gente que brada por conta daquilo que acredita ser uma violação aos direitos individuais. Mas pelo número de manifestações raivosas em redes sociais a impressão que fica é que toda aquela garotada que  bebe na rua se manifestou e os incomodados pela algazarra calaram.

Aliás, é preciso um parênteses: as redes sociais são hoje o que foram num passado recente os estádios de futebol, onde pais de família e garotinhos imberbes iam aos domingos só pra soltar seus monstros contra o juiz ou a mulher que se atrevia a entrar naquele reduto que era apenas masculino. O que se gritava no estádio, dentro do estádio ficava. O problema é que as sandices que se diz numa rede social ganham o mundo, expõem a pessoa no seu íntimo.

 

Voltando à questão do consumo de bebida nas ruas, não é fácil entender tanta indignação. Não há afronta à liberdade, nem ao direito de ir e vir. Haverá a regulamentação de um comportamento que tem se demonstrado pouco sociável. A turma do agito bebe além da conta e sai dirigindo seu carro. A turma grita, põe o som do carro em volume alto, atravessa a rua sem o devido cuidado, deixa a rua imunda e tudo o mais – álcool é o motor, mas há outros aditivos perniciosos nestas noitadas.

 O professor Felipe de Vargas trouxe à pauta no programa Sem Nome que apresentamos aqui diariamente das 13 às 14 horas a colocação do sociólogo polonês já falecido Zygmunt Bauman: se queremos mais segurança, logo teremos menos liberdade. E o clamor hoje é por segurança. Sou o primeiro a defender as liberdades individuais e, sim, temo pelo que possa vir pela frente. A ideia é agir com bom senso. Mas a gente sabe que esta é uma figura de limites tão imprecisos quanto uma arbitragem de futebol. Há regras fixas, mas há muita subjetividade em jogo.

 O certo é que havia muita queixa quanto ao comportamento nas ruas; a concentração de jovens bebendo aumentava a cada dia e os pontos de reunião também. Dizer que não há opções de lazer parece um exagero. Mas é preciso convir que e não estiverem reunidos nas ruas, para a cama, de pijama, é que estes jovens não irão às 22 horas. Certamente haverá dificuldades em fiscalizar. Esta é uma equação a ser resolvida. A concentração de jovens nas ruas em Bento equivale aos pancadões nas favelas cariocas. Quem duvida que não seja por aí a saída da turma? E aí teremos tirado o bode da sala e colocado no quarto.