Um duplo homicídio cometido em 5 de abril de 2021, quando o casal Vanessa Silvestre Lisot (foto), de 37 anos, e Adriano Camargo Leopoldo, de 28, foram rendidos e mortos em casa, no distrito de Santa Lúcia do Piaí, interior de Caxias do Sul, terá o julgamento na próxima semana. Mais de 2 anos depois, os quatro acusados pelo homicídio do casal, que estão em prisão preventiva, vão à júri popular. O julgamento está marcado para o próximo dia 22 de setembro, às 9h, no salão do Tribunal do Júri do município.
Os quatro acusados serão julgados por homicídio triplamente qualificado. A primeira circunstância qualificadora é por motivo torpe, pois os crimes teriam sido cometidos em razão de a vítima estar cobrando uma dívida do acusado e ex-namorado Rudinei Obregon dos Santos, hoje com 27 anos. Também incidem as qualificadoras de promessa de recompensa e do recurso que dificultou a defesa dos ofendidos, esta porque os acusados teriam cometido os crimes “à noite, em local afastado e ermo, adentraram a propriedade por uma via de acesso anormal (pelo meio do milharal) e ingressaram na residência de Vanessa armados e em superioridade numérica, aniquilando com qualquer possibilidade das vítimas de escaparem da ação delituosa, o que dificultou que esboçassem qualquer reação eficiente”.
O advogado criminalista Reginaldo Leonel Ferreira, atuará no júri representando os familiares de Vanessa habilitados como Assistentes da Acusação, auxiliando o Ministério Público na sustentação da acusação. Durante todo o processo, o advogado defendeu que o crime se tratava de feminicídio, já que o delito “foi cometido contra mulher, em contexto de relação íntima de afeto”. Se aceito, o argumento poderia resultar em uma pena mais rígida para o acusado Rudinei. Entretanto, a tese não foi acolhida pelo Juízo e pelo Tribunal de Justiça, o que significa que os acusados não responderão por essa qualificadora.
Além das acusações de homicídios qualificados, os quatro acusados enfrentarão a imputação de ocultação de cadáver; enquanto um deles responderá, também, por porte de arma de fogo. Para cada homicídio, as penas podem variar entre 12 e 30 anos.
A tendência, segundo o advogado Leonel Ferreira, é que o júri comece na sexta-feira, dia 22 de setembro, e avance para o sábado, dia 23, em razão do elevado número de testemunhas e da pluralidade de vítimas e acusados.
A expectativa da família, conforme o criminalista, “é de que a justiça seja realizada na sua inteireza, trazendo solução para esse grave crime que abalou não só os familiares das vítimas e o pacífico distrito de Santa Lúcia do Piaí, mas toda a comunidade caxiense”. Segundo o advogado, a acusação deve sustentar a condenação dos réus nos termos da pronúncia e das decisões posteriores, no que será seguida pelos Assistentes da Acusação.
Relembre o caso que vai a Júri Popular
Na noite de 5 de abril de 2021, quatro homens invadiram a residência de Vanessa e Adriano, renderam o casal e trancaram o filho dela em um quarto. Na entrada da casa, Adriano foi executado. Os criminosos utilizaram o carro de Vanessa, um Ônix vermelho, para levar ela e o corpo de Adriano.
Segundo a acusação, Vanessa também foi morta com um tiro na cabeça e jogada de uma ribanceira com 60 metros de altura, a cerca de 10 quilômetros da casa onde morava com o filho. O corpo de Adriano foi arremessado no mesmo local.
Em 9 de abril, 4 dias após o crime, com o auxílio de aeronaves da Brigada Militar e da Polícia Civil, o carro de Vanessa foi encontrado carbonizado na estrada de Caravaggio da 6ª Légua. Com a ajuda de Rudinei, ex-namorado da vítima, que à época confessou o crime, a equipe formada por policiais e moradores da região encontrou os corpos no dia 11. A dificuldade para o resgate dos corpos foi tão elevada que um policial chegou a ficar ferido na operação.
A motivação dos homicídios seria uma dívida que o mandante, Rudinei, tinha com a vítima, Vanessa. Enquanto namorados, ela teria emprestado R$100 mil a ele. Rudinei, por sua vez, alega que teria recebido o dinheiro em doação e, na época do crime, vinha sendo cobrado por Adriano.
Na fase do inquérito policial houve confissões, mas durante a ação penal, apenas o corréu Ricardo confessou a prática do delito. Por decisão judicial, todos os quatro permanecem presos até o julgamento pelo tribunal do júri.