A abertura de um consulado do Senegal em Porto Alegre, confirmada no final de fevereiro durante um encontro entre o governador gaúcho, José Ivo Sartori, e a cônsul honorária do país africano no estado, Reginete Souza Bispo, deve facilitar a vida dos imigrantes no estado.
De acordo com Reginete, o local será uma área de orientação e assistência aos cidadãos do Senegal. Para ela, a representação oficial será um ponto de auxílio e fortalecimento para os tantos senegaleses que saíram do seu país em busca de melhores oportunidades no estado. Atualmente, as entidades ligadas ao atendimento à imigração de senegaleses calculam que atualmente cerca de 4,2 mil pessoas tenham trocado o país da África Ocidental pelo estado. O anúncio confirma a intenção apresentada no estado em março de 2017 pela embaixadora senegalesa no país, Fatoumata Binetou Rassoul Correa.
A abertura de um departamento oficial do país no estado é bem recebida em Caxias do Sul, onde cerca de 600 senegaleses vivem atualmente, conforme a Associação dos Senegaleses em Caxias do Sul. O número já foi bem maior, mas, de acordo com o Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), há muita mobilidade desses migrantes entre as cidades gaúchas e até com outros estados.
Os imigrantes receberam a notícia da criação do consulado de forma muito positiva. O presidente da associação que representa os senegaleses, Abdoulahat Ndiaye, conhecido como Billy, acredita que a instalação da representação diplomática vai facilitar a adaptação dos imigrantes que escolheram Caxias e o estado para fixar moradia.
“Estávamos acompanhando esta situação, ajudando e apoiando para isso acontecer. Este consulado vai nos ajudar muito melhor. Tem muitas coisas que precisamos ir até Brasília para conseguir. Neste sentido, este consulado poderá ajudar bastante. Hoje temos muita dificuldade. Aqui no Rio Grande do Sul a maioria está trabalhando por contrato, e para sair daqui até Brasília, uma viagem que pode levar até três dias e custa muito dinheiro, fica difícil. Este consulado vai ajudar bastante”, afirmou.
Com a crise econômica que atingiu o país, a quantidade de imigrantes senegaleses diminuiu em Caxias do Sul. A coordenadora do Centro de Atenção ao Migrante (CAM), Maria do Carmo Gonçalves, acredita que muitos senegaleses migraram para a região metropolitana de Porto Alegre em busca de trabalho. Segundo ela, no fim do ano passado, o centro registrou 800 novos cadastros referentes a Caxias e região, mas esse número não significa, necessariamente, nova imigração, pois pode se tratar de imigrantes que decidiram buscar o serviço do CAM somente agora.
Para ela, a representação diplomática deve ter como um dos principais objetivos “agilizar as questões ligadas à regulamentação migratória”. Ela lembra que desde 1962 o país possui acordos bilaterais de cooperação com o Senegal na área da cultura e na área da assistência, mas a questão da migração dos senegaleses ao Brasil hoje é relativamente recente.
“Há de fato um grande clamor da comunidade senegalesa com relação a essa questão da regulamentação. Não que eles estejam irregulares aqui no Brasil, mas há uma preocupação com relação à permanência. A grande maioria não é refugiada, mas, por uma questão de regulamentação, eles acabam fazendo a solicitação de refúgio para permanecer no país. Eu acredito que um dos papéis fundamentais de uma representação consular seria justamente este de buscar caminhos e acordos bilaterais que favorecessem essa permanência mais regularizada ou melhor entendida”, afirmou.
Outra questão que poderá ser agilizada por uma representação consular é com relação ao reconhecimento do desenvolvimento educacional dos imigrantes. Como ocorre também com outros imigrantes, os senegaleses sofrem sem o reconhecimento de diplomas de nível superior ou mesmo dos certificados de conclusão de etapas básicas.
“Outra questão é que haja um processo de reconhecimento ou de nivelamento, por exemplo, do que é o ensino médio no Senegal com o Brasil. Temos muitos imigrantes que vem de lá com curso universitário, com ensino médio completo e outras qualificações e que chegando aqui, por conta desse vácuo que existe, acabam não conseguindo exercer aquelas funções que gostariam”, explica a coordenadora do CAM, ressaltando que esse é o modelo que ela entende necessário. “Isso tudo é expectativa, estou falando sobre o que eu imagino que deveria ser esse papel de uma representação consular, mas não sabemos qual a estrutura, como vão dinamizar isso”, conclui.