Opinião

A próxima vítima

A próxima vítima

Não serei o primeiro a falar do assunto, nem esta será, infelizmente, a última vez que o assunto será abordado. Mas que cena triste, repugnante e revoltante aquela do jovem sendo agredido por um grupo de outros jovens na noite de Caxias do Sul. É o retrato da banalização da violência. É a cena que reflete o ponto a que chegamos.

Fim de Carnaval e grupos rivais aproveitam para ajustes de contas. Nada justifica, mas é de se entender que o que se passou ali, quando um idiota bateu na cabeça do cara e outros, não menos idiotas, chutaram sua cabeça, não é um ato isolado. O clima estava armado, e certamente aquilo ali é o ápice de uma rivalidade cujo princípio não saberemos. Mas deve ter droga, desacerto comercial, ou simplesmente vontade de uma disputa tribal como se poderia esperar só acontecesse nos grotões da África mais selvagem.

Hoje a Câmara Federal vota a aprovação da intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro. Jogo de cena de um governo em desespero? Pode ser. Mas o Carnaval expôs, mais uma vez, esta realidade assustadora da Cidade Maravilhosa, com arrastões e balas perdias matando crianças. No RJ já tem aplicativo que mostra onde está acontecendo tiroteio. Desde 1º de janeiro de 2016, quando foi criado, o aplicativo não ficou um dia sem que houvesse ao menos um tiroteio. Então era preciso uma resposta.

Mas aí vemos que no Ceará, a coisa não vai bem e em Caxias tampouco. E não venha dizer que o Exército precisa intervir em todo o país. Não há solução rápida nem indolor. Não se resolve a parada com uma bala de prata, nem vendendo carros com juros subsidiados e em oito anos. Não se busca paz social com repressão ou distribuindo bolsa auxílio. É preciso um pouco dos dois, mas, sobretudo organizar o que está deturpado. Mais presídios, mais escolas, melhores escolas.

Hoje contamos número de mortes violentas, número de policiais assassinados e nos impressionamos com recordes atrás de recordes. Enquanto os bandidos se matam – como aconteceu no Ceará neste final de semana, mas acontece semanalmente nas disputas de gangues – ficamos consolados. Pelo menos “eles” fazem a faxina que as autoridades não fazem.

Veja bem, este não deixa de ser o caso do jovem agredido em Caxias. Ele estava junto com o grupo que o agrediu. Porque se tornou vítima ainda precisa ser esclarecido. Mas não podemos entrar neste jogo de conformismo de que “morram eles enquanto estivermos a salvo”. É preciso intervir e reduzir drasticamente os números de mortes violentas. Fora isto é selvageria, lei de Talião e, longe da civilidade, logo seremos a próxima vítima.