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A impunidade venceu

A impunidade venceu

O resultado da votação que rejeitou a denúncia do Procurador-Geral da República Rodrigo Janot não surpreendeu ninguém que conhece ao menos um pouco dos bastidores do Congresso Nacional. A vitória de Temer na Câmara dos Deputados, em nome das reformas, da economia, da estabilidade política, ou pra deixar as investigações pra depois do mandato ou mesmo pra deixar tudo por isso mesmo, é o retrato acabado de uma política fisiológica, da corrupção institucionalizada e do toma-lá-dá-cá que grassa impunemente nesta nossa república de bananas.

Depois de quase um ano, o país voltou a acompanhar uma votação no Congresso para decidir o destino do presidente da República. No caso de Dilma Rousseff, o processo de impeachment por crime de responsabilidade e pelas tais pedaladas fiscais foi encarado no Senado como uma virada anticorrupção. Hoje, o temerário enfrentou um pedido para que fosse permitido ao Supremo Tribunal processar o presidente por corrupção passiva, depois de todos os indícios e gravações que colocaram Temer no olho do furacão da corrupção.

Mesmo assim, os nobres deputados blindaram o presidente suspeito.

Por força das emendas bilionárias, das promessas de cargos, das pedaladas nas dívidas com a previdência e uma miríade de manobras politiqueiras que nas últimas semanas jogaram por terra todo o discurso de austeridade para se agarrar ao poder a qualquer custo, o governo dos corruptos venceu mais um round.

Os R$ 4,1 bilhões liberados em emendas parlamentares, os agrados à bancada ruralista, as trocas de deputados na Comissão de Constituição e Justiça e a volta à Câmara de ministros e secretários estaduais garantiram os poucos votos necessários para barrar a denúncia.

Mas essa vitória não vai dar a segurança para um governo que segue sob a espada afiada da próxima denúncia, e  fará com que o país continue sangrando pelas malas de dinheiro, pela operação estanca sangria, pelo acobertamento da corrupção, pela certeza de que estamos sendo todos enganados pela maioria de uma câmara de representantes que não representa nada além de seus interesses mesquinhos.

Não podemos admitir que a continuidade das reformas seja mais importante que a necessidade de investigar as graves denúncias que recaem sobre a prática de crimes pelo Presidente da República.

E não há como aceitar que a permanência de um homem cercado pelas dúvidas na cadeira mais alta do Planalto seja a garantia de uma estabilidade tão necessária ao país.

Não.

Impedir a investigação é a confirmação de que tudo pode ser relevado em nome de outros interesses, até mesmo a lei e a ética, independentemente de ideologias e partidos. Essa, com certeza, não foi a escolha dos brasileiros, mas foi a decisão de seus representantes.

Desse jeito, o primeiro sinal é que o combate à corrupção está em segundo plano.

O segundo sinal é que não há austeridade e economia quando o assunto é se agarrar ao poder.

E o terceiro sinal, e definitivo, é que nesse país dos botocudos, a impunidade, definitivamente, venceu. E a impunidade é a mãe da corrupção.