Nesta quarta-feira, 27, a 18ª Jornada da Viticultura Gaúcha reuniu no Distrito de Faria Lemos em Bento Gonçalves, mais de 380 pessoas ligadas ao setor.
Com a participação de produtores do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, o evento não se limitou a troca de experiências positivas, mas, a identificação dos problemas enfrentados dentro e fora dos parreirais.
Márcio Roberto Ferrari, vice presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e Coordenador Interestadual da Uva, entidade que representa 31 municípios, apresentou a história da entidade mostrando dados numéricos sobre produção e defasagem no preço do produto.
Dados do cadastro da viticultura de 2015 apontam que o Rio Grande do Sul produz 40.336,2 hectares de uva, sendo que as micro regiões formada por Caxias, Guaporé e Vacaria, respondem por 36.075,64 hectares.
As que mais concentram preferência de plantio são as do tipo Isabel e Bordô, representando 50% da área com tendência na variedade bordô a ampliação de plantio. Dentre as sete variedades mais produzidas as americanas e as híbridas dominam.
Os problemas, aponta Ferrari, estão no custo variável e no custo fixo de produção comparado ao preço mínimo. Para 2018 o preço mínimo é R$ 0,92 enquanto o custo variável representa R$ 1,01. Quando os valores são comparados com o custo fixo que inclui parreirais, terra, defensivos e custo operacional o prejuízo aumenta em R$ 0,42.
Para minimizar as discrepâncias entre o valor de produção e o valor praticado no mercado a entidade defende subvenção para o seguro agrícola, maior fiscalização sobre os derivados da uva.
Outro gargalo identificado está na infraestrutura rodoviária para escoamento da produção que é precária que encarece o preço do frete e na carência de comunicação nas propriedades pela ausência de sinal telefônico e de internet. Este último fator torna inviável a implementação da nota fiscal eletrônica que passa a vigorar a partir de janeiro de 2019.
O vice presidente do Ibravin está preocupado com o projeto que tramita no Congresso Nacional que afeta questões fitossanitárias mudando a denominação de agrotóxicos para pesticidas o que vai exigir maior cuidado entre os produtores para que o uso de um produto não atinja os parreirais lindeiros que não sejam compatíveis com o tipo de produto utilizado.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Cedenir Postal, que representa Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul e Santa Tereza afirma que os produtores estão atendendo as exigências de qualidade e aumento de produção, mas não estão sendo remunerados como deveriam.
Produtores ainda convivem com prazo prolongado para receber o valor da safra. Algumas vinícolas pagam parcelado e atingem o prazo de safra a safra. Descapitalizado, os produtores se obrigam buscar empréstimos ou gastam a pouca reserva que têm para se manter na atividade.
“Os preços pagos pela uva, não cobrem o preço de produção. A valorização entre o discurso e a prática não está acontecendo. Temos ainda os longos prazos para os viticultores receberem a sua produção. Tem agricultores que levam até um ano para receber e não tem reajuste, concluiu.”
A falta de incentivo e valorização do setor afeta até a sucessão nas propriedades rurais, levando os jovens a buscar outras atividades mas rentáveis e mais segura.
Um dos pontos positivos citado no evento foi a aprovação em 2014 da comercialização do vinho colonial, cuja instrução normativa foi publicada em 2016 e os primeiros registros ocorreram em 2018. Com a regulamentação os produtores podem comercializar diretamente ao consumidor até 20 mil litros de vinho.
Cominado com a regulamentação do vinho colonial está a alteração no Simples Nacional que permite o pagamento do imposto único tendo 239 vitivinícolas aderido a esta modalidade tributária.
A Jornada da Viticultura Gaúcha ainda apresentou painel sobre assistência técnica como estratégia para otimização dos custos de produção, apresentado Leandro Venturin da Emater e Perspectivas climáticas: primavera/verão com a meteorologista Stael Sias.