A tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul, entre o final de abril e o início de maio, trouxe consequências para a economia do Estado. A queda de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, em relação ao trimestre anterior, por exemplo, evidenciou o impacto das inundações, principalmente na indústria.
Entretanto, a retração foi inferior à esperada, devido ao alto desempenho da agropecuária, puxado pela colheita de soja, cuja maior parcela havia sido colhida antes do desastre. Apesar dos impactos das enchentes sobre a produção, as quantidades de grãos colhidos este ano na agricultura deverão ser superiores às do ano passado.
A análise está no Boletim de Conjuntura de outubro, produzido pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG). O o documento foi divulgado nesta quinta-feira (31), assinado pelos pesquisadores Martinho Lazzari e Tomás Amaral Torezani,
Em alta
Cerca de seis meses depois das enchentes, a economia gaúcha mostra sinais de recuperação, impulsionada principalmente pelo aumento do consumo. A arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cresceu 16,2% nos meses de julho, agosto e setembro, em comparação com o mesmo período do ano passado.
O comércio foi um dos setores que mais se recuperaram no período. A situação ocorreu pelo aumento do consumo, a partir das transferências de recursos públicos às famílias e pela necessidade de recomposição de bens de primeira necessidade perdidos ou danificados pelas enchentes, como móveis, eletrodomésticos e veículos automotores.
Em recuperação
Ainda segundo o levantamento, a atividade mais impactada pelos efeitos das enchentes, em maio, foi a indústria de transformação, que apresentou queda de 26,5% em relação a abril. Em junho, porém, os números de produção praticamente se igualaram à produção anterior às enchentes.
Um dos fatores para a recuperação foi o aumento da Utilização da Capacidade Instalada (UCI). O indicador, medido pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), mostra que a indústria precisou usar a capacidade de produção de forma mais intensa, impulsionada pela injeção de recursos públicos destinados à reconstrução do Estado, além da demanda nacional.
Análise
Conforme Lazzari, a análise dos dados mensais permite a observação do processo de retomada da economia gaúcha, após o momento mais agudo dos impactos das enchentes sobre a produção.
“Embora ainda de forma heterogênea, as atividades produtivas têm apresentado uma evolução positiva nos últimos meses, principalmente o comércio, que se beneficiou do aumento do consumo ocasionado pelas transferências de recursos públicos às famílias atingidas. Com a volta das operações no aeroporto Salgado Filho, o comércio, junto com o setor de serviços, deve receber novo impulso”, avalia.
A projeção, entretanto, é que os estímulos diretos ao consumo percam força à medida que as políticas públicas alterem o foco para as obras de reconstrução de infraestrutura. Os investimentos terão impacto direto em atividades como a construção, e indiretos sobre indústria, comércio e serviços. A tendência, entretanto, é que o consumo permaneça aquecido em decorrência dos aumentos da renda do trabalho.