O esporte é uma paixão do brasileiro. Na maioria das vezes, o futebol é o escolhido por meninas e meninos ainda na infância, ao jogar com os amigos perto de casa, principalmente na rua. E foi nesse cenário que a caxiense Diana Santos, 31 anos, cresceu. Do início no bairro Mariani quando jogava com o irmão e amigos ao estrelato no futsal italiano e com a camisa da Seleção Brasileira, sua história teve muitos desafios e mudanças.
Neste mês de junho, a atleta, que atua como fixa nas quadras, foi campeã da Liga Italiana de Futsal pelo Bitonto C5, coroando uma temporada perfeita com a equipe, que ainda levou a Copa Itália. De volta ao Brasil com o final das competições, Diana conversou com a reportagem do Portal Leouve e aproveitou para passar a carreira a limpo.
Os primeiros chutes de Diana Santos
Do espelho em craques como Falcão nas quadras e Ronaldinho nos campos, Diana passou a dar os primeiros chutes ainda na infância. Em dado momento, realizou um teste no bairro Cidade Nova para vestir a camisa de um clube caxiense de futebol de campo. Após três meses, a parceria teve fim, e acabou migrando para o futsal, onde passou a defender o Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza, com disputadas regionais e estaduais.
“A minha vida inteira eu tinha para mim que queria ser jogadora, e até hoje eu não consigo me ver fazendo outra coisa que não seja jogar. Então, eu sempre quis, sempre batalhei muito para isso”.
No ano de 2007, quando estava com 15 anos, teve a possibilidade de dar um primeiro passo alto na carreira, indo atuar no Chimarrão, tradicional equipe de futsal feminino na cidade de Estância Velha. A ida foi intermedida por uma amiga e, após conhecer a estrutura e alinhar com o clube, disputou uma Taça Brasil Sub-15. O bom rendimento lhe deu chances de, mesmo nova, atuar também pelo Sub-20.
“O primeiro impacto foi: ‘será que eu realmente vou conseguir ficar longe de casa, passar alguns dias fora’. Mas desde sempre minha família me apoiou. A gente fazia almoços beneficentes na escola para arrecadar dinheiro para as viagens, materiais, bola. Minha família sempre foi muito envolvida e fez total diferença para eu chegar até onde cheguei agora”.
Os títulos em Santa Catarina
Após a Taça Brasil Sub-20, Diana recebeu um contato do Kindermann e, em 2010, passou a defender equipe da cidade de Caçador, em Santa Catarina. Por lá, ficou duas temporadas. O bom desempenho nas quadras despertou interesse do Barateiro Futsal, uma das mais tradicionais equipes catarinenses.
Em quatro anos com a camisa da equipe de Brusque, os títulos foram aumentando e nesse mesmo período teve aen primeira experiência na Seleção Brasileira. Ela contou que o anuncio da primeira convocação foi surpreendente. A dona da equipe reuniu todas as atletas e disse: “uma de vocês foi convocada”. Ai começou o burburinho para saber quem era.
“Fiquei muito feliz, a minha família também. Porque a gente olha para trás e vê tudo o que batalhou para chegar até ali e aquele sonho se realizar, eu lembro que foi muita alegria e um sentimento indescritível”, hoje a atleta é uma das líderes da Seleção e inclusive usa a braçadeira de capitã quando está em quadra.
Com uma trajetória já consolidada, ao lado das amigas Amandinha (eleita oito vezes a melhor jogadora do mundo) e Jhennif, resolveu que era hora de arriscar um pouco. Dessa forma, em 2017, rumaram para a cidade de Lages, na divisa com o Rio Grande do Sul, e aceitaram o desafio do projeto do Leoas da Serra. Dois anos depois, a aposta deu certo.
“Foi um desafio muito grande, porque a gente teve meio que se reinventar em questão de rendimento. (…) E ali a gente foi muito feliz, muitas conquistas”, dentre elas a Libertadoras da América e o Mundial de Clubes.
Ainda assim, de 2016 a 2018 Diana figurou no top-10 de melhoras jogadoras de futsal do mundo. No Brasil, em 2021 a caxiense teve uma breve passagem pela equipe do Pato Futsal.
Mudança para a Itália
Com experiências no estado de Santa Catarina, em 2021 a caxiense Diana Santos viu a oportunidade de ir à Europa bater na sua porta. Após receber o convite de uma amiga, ao lado da irmã Tamara, dois anos mais nova, não pensou duas vezes e aceitou o desafio de defender as cores do Bitondo C5, da Itália.
“Pensei: ‘chegou o momento de conquistar outras coisas, ter outras experiências’. Porque no Brasil já havia ganhado tudo o que poderia. E achei que aquele poderia ser um momento bom e oportuno, conhecendo e jogar com outras jogadoras, não só brasileiras. Isso é um enriquecimento pessoal”.
Segundo ela, a ida da irmã foi fundamental para o seu desenvolvimento. Além de ter uma ligação familiar, também tem uma pessoa de confiança que pode lhe auxiliar na carreira.
Fora das quadras, Diana diz ter pouco tempo para aproveitar os lazeres italianos. Com uma rotina intensa de treinos e partidas, tem apenas a segunda-feira livre, optando por fazer passeios mais rápidos e buscar conhecer outras cidades próximas. Além disso, se surpreendeu com a relação criada com os vizinho italianos.
“As pessoas são muito família, nos receberam de braços abertos como se nós conhecessem há anos e nos tem como parte da família”.
No segundo ano atuando atuando na Itália, viu o sonho se tornar realidade. Conquistou a Liga Italiana e também a Copa Itália pelo Bitonto, sendo eleita uma das melhores jogadoras das duas competições.
De olho no futuro
Quando passam dos 30 anos, muitos atletas já começam a pensar em penduras as chuteiras, algo que ainda nem passa pela cabeça de Diana. Aos 31, ainda se diz com gás para mais desafios e pensa também em jogar mais alguns anos na Itália, além de ter buscar experiências na Espanha.
Mas, quando retornar a Caxias do Sul, já tem uma missão: criar uma escolinha. Seu sonho nos pós-carreira é trabalhar com as crianças e ajudar elas no desenvolvimento dentro do esporte.
“Desenvolver a base para chegar na equipe adulta entendendo do futsal, e não só pegar e largar um bola. Fazer com que eles entendam o contexto do jogo e ser um atleta por ser”.