EXPECTATIVA

Comunidade lota Câmara de Caxias do Sul e reforça apoio à chegada da UFRGS na Serra Gaúcha

À frente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Marcia Barbosa expressou seu sentimento, em audiência pública no legislativo caxiense, onde detalhou como será o futuro campus da instituição na Serra Gaúcha

Foto: Câmara Municipal de Caxias do Sul / Divulgação
Foto: Câmara Municipal de Caxias do Sul / Divulgação

A comunidade da Serra Gaúcha lotou, mais uma vez, o plenário do Legislativo caxiense para dizer que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) é mais que bem-vinda na região. É esperada e sonhada há, pelo menos, meio século, lembraram as autoridades presentes na audiência pública promovida pela Frente Parlamentar em Defesa da Universidade Federal da Região Nordeste do Estado do RS, que tem na presidência a vereadora Rose Frigeri/PT. De outra ponta, do coração da instituição de ensino, o sentimento também é de expectativa e desejo. E quem o expressa é a própria reitora da UFRGS, Marcia Barbosa, que fez um pedido, ou melhor, deixou uma tarefa de casa aos moradores da região:

“Eu vou precisar de uma voz ativa da comunidade. Quero que vocês me mandem, seja das câmaras de vereadores, seja das prefeituras, seja das escolas, dos grupos de trabalhadores, das empresas, mensagens, moções, o que vocês puderem instrumentalizar, dizendo que desejam ter a UFRGS na Serra. Este é o tema de casa de vocês. É assim que vão ajudar para que eu possa dizer, como já me sinto: sou a reitora de todos vocês”.

Marcia conta que essa demonstração de querer auxiliará a mostrar a força da região para o Conselho Universitário da UFRGS, que agora precisa aprovar o projeto. Pois ela, com base em dados estatísticos, já sabe que a Serra tem demanda para Ensino Superior atualmente (mencionou um potencial de estudantes de 56 mil jovens, sem contar as outras faixas etárias que também almeja abraçar) e terá mais logo adiante, pois é a única região do Estado gaúcho em que, entre os anos de 2010 e 2022, cresceu a população de zero a cinco anos, ou seja, está tendo mais filhos.

A reitora exemplificou, através da Ciência, em pesquisas desenvolvidas especialmente no âmbito rural, como a UFRGS se tornou uma referência na nação brasileira. A partir disso, ressaltou que está chegando à Serra Gaúcha por um desejo e uma necessidade da população, porque é uma região que, no mapa do Estado, tem poucas vagas públicas disponíveis, mas grande potencial para o ensino e a aprendizagem. Também chega à Serra porque houve mobilização comunitária e de autoridades, e há um anseio do governo federal, mais pontualmente do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva/PT, para a criação de 10 campi novos federais no Brasil. Para o caso da UFRGS na Serra, há a disponibilidade de R$ 50 milhões para compra, R$ 10 milhões para equipar, 160 vagas para docentes e 140 para técnicos administrativos. Num primeiro momento (em cinco anos), o objetivo é atender 2,8 mil alunos, por meio de seis cursos, vindo a ampliar na sequência. “Temos um desafio colocado e o governo vai implementar. Essa é a proposta. E a UFRGS é a solução natural porque ela tem participado dos avanços do nosso Estado do Rio Grande do Sul. A UFRGS é, segundo o MEC (Ministério da Educação), a melhor federal do país”, comemora Marcia, citando fatos que permitiram a instituição chegar a esse status.

Conforme a reitora, os cursos terão nomes tradicionais, mas o formato, a estrutura curricular, olhará para as demandas da região e para a capacidade de gerar emprego, considerando que a região é de pessoas que trabalham. Para auxiliar nesse processo e garantir que o trabalhador tenha a possibilidade de se formar numa universidade e aplicar o conhecimento no seu campo de atuação, ela disse que baterá à porta do setor empresarial.

Administração, Engenharia Agrícola, Engenharia de Produção Mecânica, Engenharia de Materiais e Manufatura, Ciências de Dados e Pedagogia forma anunciados, podendo já num primeiro momento também abrir os cursos de Artes Cênicas e Psicologia, além de opções na pós-graduação. De acordo com Marcia, que enxerga a implantação do campus na Serra como um desafio e, ao mesmo tempo, uma oportunidade, o foco será em projetos de ensino inovadores, numa aprendizagem ativa, que cônjuge ensino e trabalho ao mesmo tempo e tenha em vista soluções para problemas reais.

“Quando eu falo em administração, não estou pensando naquela administração tradicional. Eu estou pensando numa administração que vai ter terminalidades, podendo ser administração rural, por exemplo. Como eles estão construídos nessa parceria, esses cursos ainda não estão fechados, mas eles têm essa ideia de uma formação que atenda muitas das capacidades locais. Quando eu penso em Engenharia Agrícola, é porque eu sei que, hoje, um dos instrumentos fundamentais na nossa agricultura é a sua resiliência às mudanças  climáticas ambientais, aos cortes de financiamento e ao fato que temos de transformá-la em mais sustentável, o que significa que é impensável para o século XXI eu não ter, mesmo numa pequena propriedade, uma agricultura que não seja digitalizada. Nós temos que trazer uma camada de digitalização para a nossa agricultura, e isso significa uma formação muita específica”, explicou a docente.

Ao lado da reitora, na mesa de autoridades e representações, além da presidente da Frente, Rose Frigeri, estiveram o presidente da Câmara caxiense, vereador Lucas Caregnato/PT; o prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico/PSDB; o presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Pepe Vargas/PT; a deputada federal Denise Pessôa/PT; o presidente do Parlamento Regional, que é apoiador da audiência, vereador Márcio de Conto (de Nova Bassano/RS); o estudante da Escola Família Agrícola da Serra Gaucha/EFASERRA William Melo; e a representante do Fórum de Entidades e Movimentos Sociais, a ex-deputada estadual, ex-vice-prefeita, professora e doutora em Educação Marisa Formolo.

Caregnato colocou o Legislativo à disposição para viabilizar aprovações que ajudam a garantir a UFRGS na cidade. Na mesma linha, se posicionou Márcio De Conto, que também preside a Câmara de Nova Bassano/RS. Adiló, Pepe e Marisa lembraram que acompanham a luta por uma universidade federal para a região há 50 anos, no tempo em que eles próprios eram universitários. Adilo também disse que o município está à disposição da instituição de ensino.

Pepe fez um histórico de audiências recentes e que ajudaram a embasar a decisão e a destinação de recursos da União no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para que o sonho da universidade federal na Serra Gaúcha estivesse acontecendo agora. Marisa entregou à reitora um dossiê com matérias e reportagens que expressam a vontade de uma população de mais de 1,3 milhão de moradores pela vinda da UFRGS.

A deputada federal Denise Pessôa, que tem sido a interlocutora da região junto ao Planalto na viabilização do campus da UFRGS em Caxias, sintetizou o porquê de tanto esforço pelo Ensino Superior gratuito atender à Serra, aos Campos de Cima da Serra e à região das Hortênsias:

“O maior incentivo para os jovens permanecerem no Ensino Médio é ter uma perspectiva do que vão fazer depois. Que nossa UFRGS seja um motor de esperança, um farol para nossa juventude”.

Na voz do estudante William Melo, da EFASERRA, escola de Ensino Médio que forma técnicos em Agropecuária situada na Terceira Légua, em Caxias, mas que tem alunos de 34 municípios, veio a expressão clara do que a juventude da região quer fazer depois:

“Os meus colegas estudantes e também essa categoria de trabalhadores, que envolve os agricultores familiares, necessitam de uma universidade de ensino gratuito que olhe para o campo, olhe para a gente, os jovens do presente e do futuro deste Brasil. Senhora reitora, é uma grande oportunidade e um privilégio estar aqui representando todos os estudantes. É também uma grande responsabilidade. Assim como eu gostaria de estar fazendo meu ensino superior na UFRGS, acredito que todos esses estudantes também gostariam”.

No mesmo tom de William, se manifestaram outras 12 pessoas inscritas para falar durante a audiência. Na maioria, líderes políticos, estudantes de Ensino Médio e atuais acadêmicos do Ensino Superior em instituições privadas.

Por fim, a vereadora Rose Frigeri/PT, que conduziu a audiência pública, abriu espaço a profissionais fazerem entrega de um material indicando possíveis locais em que a UFRGS poderá ser instalar em solo caxiense. A parlamentar ainda anunciou que o Parlamento Municipal apreciará uma noção referendando o desejo e o apoio para a UFRGS estar o mais rápido possível na cidade. 

“Este processo histórico que estamos construindo coletivamente há muitas décadas, o da implantação da universidade federal na região nordeste do Rio Grande do Sul, é uma pauta estratégica para ampliar o acesso à educação pública de qualidade; gerar oportunidades para a nossa juventude e também às pessoas que pararam de estudar por falta de oportunidades e agora têm uma oportunidade de voltar para o ensino; e fomentar a ciência, a cultura, e o desenvolvimento social e econômico. Queremos uma universidade que seja construída com participação popular, enraizada na realidade da nossa região, capaz de dialogar com as demandas locais e de abrir caminhos para o futuro. Esse é um sonho antigo, mas que está cada vez mais próximo de se concluir, de se concretizar”, enfatizou Rose, agradecendo pela presença de todos no plenário e de quem acompanhou a audiência pela TV Câmara Caxias ou pelas redes sociais do Legislativo.