As tarifas de 50% que afetam as importações de produtos brasileiros nos Estados Unidos entraram em vigor nesta quarta-feira (6). Essas tarifas incluem mercadorias como café e carne. Essa medida faz parte de uma disputa do presidente americano, Donald Trump, que tensiona a relação com a maior economia da América Latina.
Os Estados Unidos exportam mais para o Brasil do que importam. No entanto, o mandatário republicano desafiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo que considera uma “caça às bruxas”. Essa caça é contra seu antecessor de extrema direita Jair Bolsonaro, julgado por uma suposta tentativa de golpe em 2022.
Além disso, a Casa Branca classifica a política brasileira como uma “ameaça incomum e extraordinária”.
Com essas alegações, Washington aumentou de 10% para 50% as tarifas alfandegárias de muitos produtos brasileiros. Isso começou a partir desta quarta-feira. O governo americano concedeu um prazo adicional para os produtos embarcados em navios antes de 7 de agosto e que devem chegar aos Estados Unidos antes de 5 de outubro.
Trump excluiu das novas tarifas produtos essenciais para o Brasil, como suco de laranja, energia, aviões civis e seus componentes. Também foram excluídos fertilizantes, metais preciosos, pasta de celulose, entre outros. Mas incluiu o café e a carne.
Segundo Brasília, 36% das exportações do país para os Estados Unidos serão afetadas pelas tarifas adicionais, uma situação que incomoda Lula.
“À prova”
“Eu acho que nós, brasileiros, estamos à prova”, declarou Lula na terça-feira no Palácio do Itamaraty. “Nossa democracia está sendo questionada, nossa soberania está sendo atacada, nossa economia está sendo agredida. Este é um desafio que nós não pedimos e que nós não desejamos. Em nenhum tarifaço aplicado a outros países, houve tentativa de ingerência sobre a independência dos poderes do país”, acrescentou.
O presidente, que deve ser candidato à reeleição em 2026, criticou, sem mencionar o nome, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro.
O filho do ex-presidente Bolsonaro mantém vínculos estreitos com líderes trumpistas e coordena, nos Estados Unidos, uma campanha em defesa de seu pai.
“Essa interferência em temas internos contou com o auxílio de verdadeiros traidores da pátria”, disse Lula. Ele descarta ligar para Trump “porque ele não quer falar”.
Tensão entre Brasil e Estados Unidos
A raiva de Trump foi ressaltada em julho em duas cartas. Uma carta foi contra o Brasil do governo Lula e outra fez solidariedade com Bolsonaro. Essa atitude tensionou a relação entre os dois países.
Ficou para trás a cordialidade encenada por Lula e o ex-presidente democrata dos Estados Unidos Joe Biden. Isso ocorreu em uma visita do brasileiro à Casa Branca em 2023, quando os dois se posicionaram como guardiões dos valores democráticos.
Trump também atacou o Judiciário, com sanções ao juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Ele preside o julgamento contra Bolsonaro por “autorizar detenções arbitrárias” e “suprimir a liberdade de expressão”.
Uma pressão crescente que não impediu Moraes de decretar a prisão domiciliar de Bolsonaro por descumprir uma proibição de uso de redes sociais.
Tarifas em série
O Brasil foi o primeiro de dezenas de parceiros dos Estados Unidos submetidos a aumentos nas tarifas.
Em abril, Trump implementou um aumento mínimo universal de 10% nas tarifas. Este nível continuará sendo pago pelos produtos de muitos países aliados, incluindo a maioria dos latino-americanos.
Impacto das tarifas em outros países
A partir de quinta-feira (07), vários produtos terão que pagar sobretaxas de até 41%. A maioria pagará uma taxa adicional de 15%, como Costa Rica, Bolívia, Equador e Venezuela. A Nicarágua terá uma tarifa de 18%.
O México tem um prazo de 90 dias para negociar os aumentos tarifários. Mesmo assim, já enfrenta taxas adicionais de 25% para produtos que não são protegidos pelo Tratado de Livre Comércio da América do Norte (T-MEC), que o país integra com Estados Unidos e Canadá.
Além disso, Trump impôs sobretaxas específicas a alguns setores, como 50% ao aço, ao alumínio e ao cobre. E 25% para automóveis e autopeças que não estão incluídas no T-MEC.
Informações: Correio do Povo