Comportamento

"O ciclo da violência precisa ser quebrado", afirma titular da Delegacia da Mulher de Caxias

Apenas em janeiro deste ano foram registrados 10 feminicídios no RS

(Foto: PAULO PINTO / AGPT / FOTOS PÚBLICAS)
(Foto: PAULO PINTO / AGPT / FOTOS PÚBLICAS)

No mês de março é celebrado o Dia Internacional da Mulher, mas infelizmente, o simples fato de ser mulher continua trazendo muita dor e sofrimento. No Brasil, em 2019, 1.314 mulheres foram mortas pelo simples fato de serem mulheres. Uma morte a cada 7 horas.

No Rio Grande do Sul, no mesmo ano, foram registrados mais de 20 mil casos de agressão, 3.520 apenas em Porto Alegre. Em 2020, já foram registradas 32 tentativas de feminicídio e 10 feminicídios consumados no Estado.

A luta pelos direitos e pelo combate a violência doméstica, ao abuso e ao feminicídio aumenta a cada dia, assim como a conscientização para que todas as mulheres que se encontram em situação vulnerável busquem ajuda.

Segundo a delegada Carla Zanetti, titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Caxias do Sul (Deam), apenas 10% das mulheres agredidas registram ocorrência contra o agressor. O dado é referente a dados apresentados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ela ainda afirma que a violência doméstica é um ciclo que deve ser rompido. “O ciclo começa com a tensão, vai para a fase de explosão, que é quando ocorre a agressão, e depois volta para a fase da lua de mel, onde há o arrependimento e o casal se reconcilia”, ressalta. “Se a mulher não denunciar a agressão, a tendência é que cada vez mais a violência se torne pior”.

Um fator de extrema importância, que muitas mulheres deixam de lado quando se trata do assunto, é manter familiares e amigos cientes da situação. Caso seja feita medida protetiva, a vítima deve deixar uma cópia com a família, outra no trabalho, para que todos ao seu redor estejam cientes de que o agressor não pode estar no mesmo ambiente que ela, e caso aconteça, a polícia deve ser acionada.

Mesmo com tantos meios para buscar ajuda, muitas mulheres temem que ao registrar uma ocorrência contra o agressor, a violência aumente e algo pior possa acontecer. “É muito importante quebrar esse pensamento, porque o que acontece é exatamente o contrário. Tanto que de 97 mulheres que foram vítimas de feminicídio no RS no ano passado, apenas quatro tinham medida protetiva”, comenta a delegada.

O famoso ditado ‘em briga de marido e mulher ninguém mete a colher’, não se aplica mais nos tempos atuais. Se alguém próximo estiver sofrendo abusos ou agressões, você deve orientar essa pessoa a procurar um Centro de Referência para a Mulher, para que ela receba todo o suporte necessário, incluindo acompanhamento psicológico. “Caso a mulher não queira procurar ajuda e continue presa no ciclo da agressão, você pode fazer uma denúncia anônima no Disque 180, que é um canal de denúncia nacional. Você só vai precisar fornecer alguns elementos básicos para que as pessoas sejam contatadas e possamos fazer uma intervenção”, informa a delegada.

“As vezes a gente se sente de mãos amarradas e frustrados quando sabemos que a mulher é vítima de violência, vem aqui, mas não fala nada. A gente se sente impotente em algumas situações, mas temos que pensar em quantas pessoas conseguimos ajudar. Quantas situações conseguimos mudar”, desabafa.

Onde buscar ajuda?

Se você ou alguém que você conhece sofre algum tipo de abuso ou agressão, tanto física quanto verbal, procure ajuda em um dos locais citados abaixo:

> Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher

> Delegacia de Polícia (de qualquer município)

> PM – Disque 190

> Central de Atendimento à Mulher – Disque 180

> Defensoria Pública

> Centro de Referência da Mulher