Caxias do Sul - Uma manifestação pacífica ocorreu em frente ao Centro de Cultura Henrique Ordovás Filho nesta quarta-feira (8). O ato, organizado de forma espontânea pela comunidade cultural da cidade, foi motivado pelo recente fechamento temporário do espaço, após ameaças direcionadas à exposição ‘Baixa Colateral Distópica’ e a funcionários do local.
O protesto contou com cerca de 50 pessoas, que participaram da leitura de um manifesto solicitando ao município que promova a imediata reabertura do Centro e a continuidade da mostra até a data prevista para o encerramento, em 2 de fevereiro.
Um dos participantes da manifestação, Carlinhos Santos, destaca que o objetivo do movimento é demonstrar afeto e apoio ao centro cultural e às atividades que ele abriga.
“Estamos aqui para sinalizar a importância do Ordovás como espaço de convivência, diversidade e cultura. Queremos que ele continue sendo frequentado de forma livre, alegre e segura pela comunidade”, afirma.
A comunidade cultural também pediu à prefeitura que garanta a segurança permanente do local, solicitando a presença da Guarda Municipal (GM) de forma contínua.
“Quando anunciamos o ato, a Guarda Municipal apareceu, mas normalmente ela não está aqui. Não queremos violência, apenas que o espaço seja protegido para que todos possam usufruir dele”, completou Carlinhos.
Uma reunião do Conselho Municipal de Cultura, marcada para esta quinta-feira (09), às 17h, na Câmara de Vereadores, deve abordar o assunto. A expectativa é de que o encontro traga informações sobre a reabertura do centro e a continuidade da exposição, que tem gerado debates acalorados sobre liberdade artística e segurança pública.
Questionada pela reportagem, a Secretária da Cultura, Tatiane Frizzo, afirmou, no entanto, que um anúncio oficial sobre o funcionamento do Ordovás está previsto para a próxima sexta-feira (10).
Entenda o caso
A exposição “Baixa Colateral Distópica” foi criada pelo artista goiano Rondinelli Linhares e propõe uma reflexão sobre a forma como a sociedade venera alguns símbolos religiosos e como outros elementos fugazes da contemporaneidade são idealizados. A exposição aborda temas como o fetichismo, culto ao sagrado, exploração do corpo e sexualidade.
O assunto ganhou repercussão nas redes sociais há mais de duas semanas, quando a Unidade de Artes Visuais lançou um comunicado oficial reafirmando a legalidade da mostra, cujo processo seletivo foi efetuado por uma comissão de especialistas na área. Na mesma nota, a pasta informou que a exposição seguia a classificação indicativa estabelecida pela legislação e que é contrária a qualquer tipo de censura.
“O que precisa ficar claro é que todos os aspectos legais foram cumpridos para que a exposição estivesse ali. Outro aspecto que precisa ficar claro é que a exposição é de conteúdo acima de 18 anos, então tem uma classificação indicativa, é para adultos, e não para crianças ou adolescentes. Essa galeria onde estão essas obras não é um local de passagem das pessoas, portanto quem está indo para a exposição está indo especificamente para esse fim”, pontuou Tatiane Frizzo.
Os vereadores Hiago Morandi (PL), Capitão Ramon (PL) e Alexandre Bortoluz (PP) fizeram duras críticas à exposição. Nas redes sociais, Morandi afirmou que a mostra “zomba com a fé alheia”. Capitão Ramon encaminhou uma denúncia ao MP, porém foi arquivada.
Ao comentar sobre as críticas à exposição no Ordovás por conta dos elementos sexuais, Linhares explicou que não existe nenhum tipo de apologia ao sexo.
“Não é nada tão absurdo, não é nada fazendo apologia ao sexo, muito pelo contrário, é uma proposição de reflexão acerca dos rumos mentais que a sociedade tem tomado, principalmente de 2018 para cá, que é quando o bolsonarismo se inflamou na sociedade”, argumenta Linhares.
Ele relatou à reportagem que também sofreu ameaças em função da exposição. Apesar de não concordar com o encerramento prematuro da mostra, Linhares comenta que sua principal preocupação é com a integridade das pessoas que trabalham no local. Assim, ele exige que, se o projeto acabar antes, a prefeitura explique de forma detalhada que isso ocorreu por conta de influência política e fomento a ações de ódio de pessoas que não compreenderam a real natureza da exposição.
“Não podemos fazer isso de forma calada. Eles (os que mandaram mensagens de ódio e ameaças) promoveram um estrago através de uma ação de pessoas e a gente tem que responder isso. Não podemos ficar calados diante de uma manifestação fascista, porque vamos estar empoderando eles se simplesmente cancelar a exposição e não notificar a imprensa e colocar o assunto nas redes sociais. A gente tem que fazer algo que traga visibilidade para o que está acontecendo”, comentou.