Comportamento

Fronteiras fechadas e legalização de imigrantes; como Portugal trabalha para combater a Covid-19

Confira a segunda reportagem da série "A bandeira verde e amarelo no mundo em pandeia", com a jornalista Roberta Mattana

Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal
Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

A segunda reportagem da série “A bandeira verde e amarela no mundo em pandemia”, viaja até Lisboa, capital de Portugal. É lá que vive, há dois anos, a jornalista e consultora de comunicação empresarial caxiense Roberta Mattana, de 33 anos. Antes de firmar residência na capital portuguesa, ela morou por seis meses na França após ter saído do Brasil.

A pandemia da Covid-19 teve na Europa o seu segundo pico a nível mundial após a sua aparição na China, em meados de novembro de 2019. Em Portugal, onde Roberta vive, dados apontam para 24.322 casos confirmados e 948 óbitos causados pelo novo coronavírus.

Ela elencou três fatores essenciais para que Portugal tenha sido apresentado como um case de conduta correta no combate à pandemia. O país tem apenas uma fronteira: a Espanha. Logo, a medida antecipada de fechar as fronteiras entre ambos, deixando apenas algumas portas abertas para a entrada e saída de bens essenciais, mostrou-se eficaz na contenção do vírus.

Depois, a localização no extremo Oeste da Europa, que por vezes tem as suas dificuldades, permitiu a Portugal “ver o futuro” e aprender com outras nações como deveria proceder nesse enfrentamento à doença. Por fim, a economia portuguesa depende muito do turismo. Mas, como fevereiro é baixa temporada, este fator foi importante para evitar a chegada em massa de casos importados, como se verificou na maioria dos países.

O primeiro caso da doença foi registrado em 2 de março. Já no dia 18 o governo decretou estado de emergência em todo o território nacional. A previsão é que ele se encerre em 2 de maio. Porém, conforme a jornalista, nos 16 dias de intervalo, a população local, alertada pelo que via acontecer na vizinha Espanha, iniciou por conta própria uma quarentena voluntária. Muito portugueses optaram por deixar a cidade e ir para o campo para se isolarem, deixaram de ir a bares e restaurantes e retiraram os filhos das escolas mesmo antes do surto assumir as proporções que tem hoje

Ela diz que foi nesse momento que entendeu a importância do isolamento e a gravidade da situação.

“Eu, admito, demorei a perceber que a situação fosse mesmo grave. Quando surgiram os primeiros casos, não se sabia muito bem como seria a vida dali para a frente. Eu ia ao parque ao lado de casa para caminhar e apanhar sol, e aos poucos fui notando menos pessoas nas ruas, menos circulação de carros. Foi quando os primeiros óbitos por complicações da doença começaram a ser confirmados em Portugal que entendi que estávamos enfrentando um momento verdadeiramente difícil em escala global”, disse.

Outra percepção foi uma corrida aos supermercados. Em alguns dias foi possível notar as prateleiras dos supermercados vazias, faltavam itens básicos de higiene e vários alimentos. As ruas ficaram absolutamente desertas.

Com relação a rotina, Roberta diz que transferiu o trabalho para casa, atuando em home office e que as reuniões, antes presenciais, se tornaram videoconferências. Além disso, ela tem saído de casa para realizar compras apenas uma vez por semana e para levar a sua labradora para passear, porém, por não mais que meia hora.

Ela relata como tem usado o tempo da quarentena para se qualificar profissional e pessoalmente.

“Eu estipulei metas pessoais para a minha quarentena, como realizar pelo menos 30 minutos de aulas online de inglês e aprimorar meu nível no idioma, ler pelo menos 60 páginas de livro por dia, assistir um filme por semana, estar em contato diário com amigos e meus familiares do Brasil, entre outras. Foi tudo isso que ajudou a manter a sanidade mental durante o confinamento!”, disse ela.

Uma das primeiras ações de auxílio do governo português foi com relação aos imigrantes. Todos os estrangeiros que tinham solicitado visto de residência até a declaração do estado de emergência, foram automaticamente legalizados. A ação foi encarada como uma medida de saúde pública, uma vez que, desta forma, foi dado acesso a toda a população residente em Portugal ao sistema de saúde gratuito e universal.

Roberta diz que por ter dupla cidadania, brasileira e italiana, ela é considerada oficialmente uma cidadã da União Européia e que essa medida não se aplica a ela, mas aos imigrantes que fizeram o pedido.

Além disso as empresas puderam aderir ao lay-off. Na prática, trata-se de um regime que permite suspender o contrato de trabalho ou reduzir o período normal de trabalho, com cortes salariais e apoios do Estado, de forma mais simples e com critérios de acesso alargados. Neste regime, por regra, o trabalhador tem direito a dois terços da retribuição normal bruta, com o limite mínimo de € 635 e máximo de € 1.905 euros. Em caso de suspensão de contrato, o empregador paga 30% e a Segurança Social paga 70%.

Ela diz que a vontade de voltar ao Brasil existe, mas que ela não necessariamente tem a ver com a pandemia. Roberta também relata que, na sua visão, o brasileiro demorou para levar a sério essa pandemia. Como em Portugal só se registaram os primeiros casos confirmados algumas semanas depois de Itália e Espanha, por exemplo, o governo teve tempo para ver e aprender com os outros, e antecipar-se nas medidas de contingência. Por isso, para ela, é importante que Brasil também aproveite para olhar para a Europa e seguir um modelo que já se mostrou efetivo.

Sobre o futuro, não só de Portugal ou do Brasil, mas também em outros lugares, Roberta acredita que deve haver serenidade no processo de reabertura das empresas para a retomada das atividades no pós-quarentena da Covid-19. Ela acredita que nada é por acaso e que há sim uma razão para estarmos todos juntos, nesta geração, enfrentando um inimigo invisível tão devastador.

Confira um vídeo gravado por Roberta em que ela relata o seu dia a dia em Lisboa