Gatos lambendo o dono é uma cena que costuma arrancar sorrisos e aquecer o coração de qualquer tutor. Mas o que parece apenas um gesto de carinho pode esconder significados mais complexos — e até alguns riscos. A língua áspera desses felinos não é usada só para higiene própria ou demonstrações de afeto. Quando o comportamento se torna excessivo, pode indicar estresse, tentativa de marcar território ou até mesmo sinais de problemas de saúde. Entender esses sinais é fundamental para fortalecer o vínculo com seu gato e evitar que algo aparentemente fofo se transforme em dor de cabeça.
Gatos lambendo o dono: além do afeto
A lambida dos gatos é um comportamento herdado desde filhotes. As mães lambem os filhotes para limpar, estimular e transmitir segurança. Quando um gato lambe o tutor, ele está replicando esse cuidado. Porém, quando essa atitude se repete de forma insistente, pode ser um alerta.
Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária (SBMV), lambidas constantes podem indicar ansiedade ou tentativa de chamar atenção. Já pesquisas divulgadas pela Universidade de São Paulo (USP) mostram que gatos usam a lambida também como forma de marcar cheiros, integrando o tutor ao seu grupo social.
O excesso de lambidas e seus significados
Nem sempre a lambida é sinal de amor. Veja o que pode estar por trás:
- Ansiedade e tédio: gatos que ficam muito tempo sozinhos podem usar o ato como forma de aliviar estresse.
- Marcação de território: ao lamber, o gato deposita feromônios, “avisando” que você é parte do território dele.
- Busca por atenção: lambidas podem ser um pedido direto de interação.
- Problemas de saúde: em alguns casos, lambidas insistentes podem estar ligadas a distúrbios compulsivos.
Esse último ponto exige observação cuidadosa. Se o gato não só lambe o tutor, mas também a si mesmo de maneira exagerada, chegando a arrancar pelos, pode ser hora de procurar um veterinário.
Os riscos das lambidas felinas
Apesar da ternura do gesto, permitir lambidas em excesso pode trazer riscos. A boca do gato abriga uma grande variedade de bactérias, que podem causar irritações ou até infecções na pele humana, especialmente em pessoas com imunidade baixa.
Um estudo publicado na Fiocruz destacou que felinos podem carregar micro-organismos como Pasteurella multocida, capaz de provocar lesões cutâneas em casos de contato frequente com saliva. Embora raro, o risco aumenta quando há feridas abertas ou pequenas rachaduras na pele.
Outro ponto é a ingestão acidental de pelos. Gatos que lambem com frequência podem transferir fios soltos para o tutor, causando desconforto na boca ou garganta.
Como lidar com lambidas excessivas
Ignorar o comportamento não é o caminho. A chave é redirecionar a atenção do gato para outras atividades:
- Brinquedos interativos: bolas, arranhadores e jogos que estimulem a caça podem reduzir o estresse.
- Rotina mais ativa: dedicar tempo diário para brincar ajuda o gato a gastar energia.
- Ambiente enriquecido: prateleiras, túneis e espaços para exploração diminuem o tédio.
- Atenção à alimentação: rações balanceadas e petiscos específicos para gatos também contribuem para o bem-estar.
Se, mesmo com esses ajustes, o comportamento persistir, a consulta com um veterinário especializado em comportamento animal é essencial.
O equilíbrio no vínculo afetivo
É importante lembrar que a lambida não deve ser vista como algo negativo. Ela é, sim, um gesto de confiança e proximidade. O problema surge quando se torna exagerada e prejudicial para o tutor ou para o próprio animal. O ideal é equilibrar o afeto com limites saudáveis.
Esse cuidado garante que o carinho continue sendo prazeroso para ambos, sem abrir espaço para riscos desnecessários.
Quando procurar ajuda profissional
Os sinais de alerta mais comuns são:
- Lambidas insistentes acompanhadas de miados ou inquietação.
- O gato lambendo o próprio corpo a ponto de formar falhas no pelo.
- Mudanças bruscas no comportamento, como agressividade ou apatia.
Nesses casos, o veterinário pode investigar causas médicas ou comportamentais e indicar o tratamento adequado, que pode incluir mudanças no ambiente ou até uso de feromônios sintéticos.
Cuidar de um gato é aprender a decifrar gestos que vão muito além do óbvio. A lambida pode ser amor, mas também pode ser um pedido de socorro. O olhar atento do tutor é o maior gesto de carinho que um felino pode receber.