Há algum tempo venho refletindo sobre o passar dos anos e como geração após geração somos pegos de surpresa porque a vida passa tão depressa. De fato, quando se vai entrando nos sessenta percebemos que dois terços e mais um pouco já se foram e sonhar com muitos anos a mais pode significar torcer por uma prorrogação dolorosa, com limitações, qualidade de vida ruim, abaixo de remédios e cuidados.
Vimos partir esta semana uma jornalista rara e que dentro de seus 70 anos e tantos viveu duas ou três vidas repletas de emoções. Confesso que torci o nariz para o trabalho dela em mais de uma oportunidade. Não gostava quando me parecia ser mais protagonista do que o assunto ou personagem que eram alvo das reportagens. Só mesmo nos últimos anos vi que ali estava uma desbravadora, rompendo fronteiras. Ao se jogar de bungee jump, fumar maconha ou se declarar a Michael Jackson, ela estava experimentando ser um pouco de cada um de nós e vivia emoções por todos. Ela saltou, escalou, mergulhou e foi a lugares onde jamais estarei. Foi humana e corajosa vivendo um pouco por todos nós e mostrou novos caminhos. Então o que eu imaginava ser vaidade, na verdade era bondade.
Na vida profissional há espaço para vários tipos de personalidade, seja o trabalho que a gente escolher, teremos a opção de sentir a dor do outro e preferir tabular tudo no computador. Há quem esteja à frente das câmeras e os que ficam editando as imagens de uma forma que permita que o outro brilhe.
Convivo com gente mais velha e com sonhadores recém saídos da academia. Tento tomar um pouco de cada. A experiência, a temperança e o ceticismo de quem já tomou muita rasteira na vida; a convicção, as fórmulas certeiras e a fé de que tudo vai dar certos dos mais novos. Destes, tolero sua ingênua arrogância da certeza; daqueles, admiro a concessão de que podem não estar certos apesar de todas as lições acumuladas.
A vida, afinal, é isto, um ir e vir de convicções que se desmancham no refluxo da maré. De pessoas que admiramos e saem cedo de cena, de gente que não suportamos e insiste em ficar. Tudo depende de como vamos lidar com estas percepções e com a finitude da vida.
Bom mesmo, é poder conceder que não estávamos tão certos assim, vislumbrar que há pessoas que dignificam certas profissões e gente que, mesmo não tendo um diploma de mestre é doutor na arte de viver e de compreender o mundo. Bebamos desta sabedoria. E… desculpa aí Glória Maria.