O ano vai acabando qual vela que tremula antes do brilhozinho final naquela indecisão entre o ir e o ficar. Parece a gente na indecisão antes de dar o próximo passo. Precisa coragem, nas no fim não há escolha, navegar é preciso, dizia Fernando Pessoa.
Podemos ainda tomar emprestado um outro dito popular: melhor uma má escolha que escolha nenhuma (será?) Vale mais o remorso de não ter feito ou a culpa e o sofrimento de ter ido quando o mais seguro era ter permanecido qual pedra inerte? Como quase todo mundo, já enveredei pelas duas vereadas, a da mesmice e a da mudança. Certa vez me arrependi por ter mudado. A perda foi grande, mas sem ela não teria singrado por mares que me levaram a ilhas paradisíacas. É isso, quase sempre a coragem traz sangue suor e recompensas que podem não aparecer na hora. Mas atenção: podem não aparecer nunca. É o velho paradigma da iniciativa privada, há uma chance de ficar risco, mas a probabilidade de quebrar a cara também é muito forte. Não há receita por mais que coaches ou livros de administração tentem prevenir.
Numa reta final de ano me sinto compelido a refletir sobre as pessoas que encontro angustiadas no trabalho ou na relação pessoal. Num emprego sem perspectivas mas que ainda assim promete a recompensa do vital salário com o qual se remará por mais um mês este bravio mar da vida. Casais unidos por conveniência, por rotina, pela força da inércia, sem ter a certeza de que vale a pena ficar.
Não me pediram este conselho mas vou dizê-lo ainda assim. Há um preço a pagar nestas escolhas e sempre que o preço for a própria dignidade, aí sim, já é hora de partir. Nenhuma fidelidade é mais importante do que a que devemos ter para conosco. Afinal, só há uma vida a ser vivida e o sujeito principal desta vivência é a primeira pessoa. Respeito ao próximo sim. Ms dignidade própria, respeito à sua vida vem à frente de qualquer outra. A pior traição é aquela que fazemos conosco. Não há arrependimento nem punição maior do que trair a sua consciência e a sua liberdade.
O ano chega ao final e talvez não seja o melhor momento, este de festas e férias, para uma decisão radical. Recomenda-se esperar o fim das festas, o início de um novo período e aí sim, içar velas. Afinal, cuidar do bem-estar da circunvizinhança é importante e demonstra empatia.
De minha parte, desejo a quem chegou neste ponto que o ano novo seja de bons ventos, singrando pelos mesmos ou por outros mares. Este que vos escreve afirma que está feliz pela jornada. Prossigamos por este norte. Feliz 2022.