Opinião

Quando o santo de casa não faz milagre

Excepcional: é a definição que podemos dar para o mês de agosto no mercado financeiro.

Quando o santo de casa não faz milagre

Excepcional é a definição que podemos dar para o mês de agosto no mercado financeiro. A excepcionalidade, dessa vez, foi causada pelos estrangeiros, pois voltaram a comprar ativos nos países emergentes diante das expectativas do início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos.

Indicadores

A bolsa brasileira foi o grande destaque no mês de agosto, com uma alta de 6,5%. Chegamos a ver a máxima histórica ser renovada por três dias consecutivos. Quase a totalidade dos indicadores do mercado financeiro terminaram o mês em território positivo.

Cenário Macro

O mercado de trabalho foi o estopim para o aumento das apostas no corte de juros americanos. Os investidores até especulam que esse corte possa ser de 0,5%, o que parece improvável diante dos pronunciamentos dos diretores do Fed.

A inflação ao consumidor e ao produtor vieram em linha com o esperado, por isso Jerome Powell sinalizou que a redução da política monetária contracionista estaria se aproximando. Todavia, ainda há algum receio de que a economia americana já esteja em recessão.

A Europa segue sua luta para controlar a inflação. É provável que o Banco Central Europeu corte os juros na reunião que se aproxima. Enquanto a Alemanha, a maior economia do bloco, vive um momento delicado, com a manufatura em longo declínio.

Situação semelhante ocorre na segunda maior economia do mundo, a China, que não consegue atingir o crescimento prometido pelo Partido Comunista. As vendas no varejo e a produção industrial seguem decepcionando, o que faz com que os investidores aguardem uma ação do governo de Pequim para impulsionar a atividade econômica. O Japão segue monitorando a inflação e deve novamente aumentar os juros. Vale lembrar que as operações de carry trade podem ser afetadas, desencadeando movimentos similares aos vistos no início de agosto.

Brasil

O Brasil foi um dos destinos preferidos dos investidores estrangeiros, com uma entrada de quase R$ 10 bilhões, o que impulsionou a bolsa brasileira. Não restam dúvidas de que fatores externos foram os principais responsáveis por essa alta expressiva das ações.

Nem mesmo o PIB do 2º trimestre de 2024 conseguiu aliviar a tensão dos investidores domésticos, já que boa parte do crescimento econômico foi impulsionado pela forte expansão dos gastos do governo.

Os desafios fiscais brasileiros se intensificaram nas últimas semanas, porque as receitas estão aquém do projetado enquanto a redução de gastos prometida não é cumprida. O reflexo da dissonância entre receitas e despesas impacta diretamente nas expectativas para a inflação e a taxa Selic deste ano. Muitos agentes de mercado esperam um aumento da Selic até 12%.

Comentários

Apesar de agosto ter sido um excelente mês para o mercado financeiro, nuvens negras pairam sobre a situação fiscal do país. Gabriel Galípolo foi confirmado como a indicação do governo para futuro presidente do Banco Central, e o mercado está atento ao tom do próximo comunicado, buscando entender como os novos diretores, indicados pelo atual governo, irão lidar com a desancoragem das expectativas de inflação.

Vivemos um momento de indefinição na política monetária brasileira, mas os juros futuros já precificaram em boa medida os novos passos da autoridade monetária. O desempenho das ações chamou a atenção, mas não foi uma surpresa, pois era esperado que, em algum momento, os Estados Unidos iniciassem o ciclo de corte de juros, resultando na entrada de capital em países emergentes.

A missão agora é acompanhar de perto o posicionamento do governo, do Banco Central brasileiro e do Federal Reserve para que o investidor possa alocar seu capital de forma segura e rentável.