Caxias do Sul

Luto em Galópolis: 50 dias depois, corpo de idosa levada pela enchente ainda não foi localizado

Águas do arroio Pinhal destruíram a sala da casa de Docelíria Lourenço da Silva, 80 anos, onde ela se encontrava, durante o temporal do dia 2 de maio. Família sofre pela impossibilidade de uma despedida digna até o momento

Foto: Marcelo Oliveira/Grupo RSCOM
Foto: Marcelo Oliveira/Grupo RSCOM


A tragédia que atingiu a comunidade de Galópolis, no interior de Caxias do Sul, foi desencadeada pelo transbordamento violento das águas do Arroio Pinhal durante as intensas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio. O evento climático resultou em perdas de vidas, pessoas desaparecidas e danos significativos a moradias, algumas das quais foram completamente destruídas. Entre os residentes afetados estava Docelíria Lourenço da Silva, de 80 anos.

A casa modesta onde a idosa, conhecida por sua bondade e simplicidade, viveu por décadas não resistiu à força das águas. O desabamento parcial da sala de estar no dia 2 de maio foi um marco do trauma que se seguiu. Familiares e vizinhos se uniram em desespero, tentando salvar quem pudessem, mas Doceliria desapareceu rapidamente sob a correnteza implacável.

Dias se passaram desde o trágico incidente e a família, ainda mergulhada na dor, enfrenta a dura realidade. As buscas continuam, mas a esperança de encontrar Doceliria com vida são nulas. Em meio à comoção da tragédia, restam apenas memórias preciosas de uma vida dedicada à família e à comunidade.

O QUE DIZ A FAMÍLIA:

Paula Fanton, familiar da idosa, diz que o desaparecimento dela deixou um vazio profundo, agravado pela ausência de um momento de despedida adequado, o que torna tudo ainda mais doloroso.

“É bem complicado, ainda estamos bem abalados, principalmente por ter acontecido o desaparecimento por meio dessa tragédia horrível. Mas o pior de tudo é não terem a encontrado para podermos velar e nos despedirmos dela de forma digna”, lamenta.

Paula relata que Docelíria, que era deficiente visual, estava no quarto mais próximo ao rio quando a casa desabou, sendo arrastada pela correnteza. Ela morava com uma irmã.

O QUE DIZ O CORPO DE BOMBEIROS:

Capitão Vinicíus Manfio, comandante da 1ª Companhia do 5º Batalhão de Bombeiro Militar de Caxias do Sul, destaca que enquanto não se esgotarem todas as áreas e as possibilidades de  busca, os bombeiros não irão desistir do trabalho.

“Quando a residência dela foi atingida pelas águas do arroio Pinhal, o Corpo de Bombeiros Militar, junto com outros corpos de bombeiros do Estado, esgotou as buscas em todas as áreas que dão acesso ao Rio Caí. Da residência até o rio, utilizamos todas as ferramentas disponíveis e descartamos essa área. Agora, a busca continua pelo rio Caí.

Fazemos reavaliações diárias dos acessos ao rio Caí para continuar as buscas pela senhora. Diariamente, reavaliamos a operação com base nas condições climáticas e na segurança das equipes. Enquanto não esgotarmos todas as áreas de interesse e confirmarmos que ela não se encontra nelas, não encerraremos as buscas”, assegura.

AOS 50 ANOS, DOCELÍRIA PERDEU A VISÃO

Sem nunca ter casado nem tido filhos, Docelíria era uma figura marcante em Galópolis, sua localidade natal em Caxias do Sul.

Com uma vida inteira dedicada à comunidade e à sua própria jornada pessoal, Docelíria enfrentou desafios significativos desde os 50 anos, quando foi diagnosticada com retinite pigmentosa, uma doença degenerativa que gradualmente tirou sua visão.

Apesar das adversidades impostas pela deficiência visual, Docelíria manteve-se resiliente e determinada. Sua jornada começou com a adaptação a uma nova realidade, aprendendo a viver de maneira independente mesmo com a perda progressiva da visão.

 

VEJA COMO FICOU A RESIDÊNCIA: