A Cooperativa Aurora está empenhada em fazer da próxima safra de uvas uma virada de chave nas relações com os trabalhadores e isto se dá especialmente na propriedade de seus 1.100 associados. Um amplo programa de Boas Práticas foi estabelecido e mudanças sensíveis – outras apenas ajustes – foram implantadas. Tudo com a concordância do associado.
Na manhã desta quarta-feira, 29, um grupo de jornalistas esteve na propriedade da família Gabardo (Nei, Solange e o filho Diego) na localidade de Santa Lúcia, Vale Aurora. O presidente do Conselho de administração Renê Tonello e as assessorias técnicas na área de campo, de marketing e comunicação e também o responsável pela implantação do Projeto de Boas Práticas apresentaram as mudanças que estão sendo implantadas. A propriedade de cinco hectares dos Gabardo é um recorte da média dos associados – na verdade um pouco maior, pois os 1.100 associados somam 3.000 hectares de onde retiram 56 variedades de uva.
Renê Tonello não deixou de mencionar o ocorrido em fevereiro deste ano como “um episódio infeliz em que todos fomos pegos de surpresa”. A referência é ao flagrante de pessoas hospedadas em pensão por empresa terceirizada numa situação rotulada como regime análogo ao da escravidão. Nesta nova safra nenhum funcionário será contratado através de empresa terceirizada pela Aurora.
Os 1.100 associados da Aurora contabilizam 650 propriedades e segundo o engenheiro agrônomo Felipe Bremm, responsável pela implantação do programa de Boas Práticas, a totalidade das famílias precisou fazer adaptações em suas propriedades. Cerca de 450 precisaram investir em alojamento para que estes ficassem dentro dos padrões exigidos pela NR 31. “Teve que construir alojamentos novos – muitas obras em atraso por conta da questão climática e em outros casos apenas foi necessário fazer adequações.
Tais adaptações requerem investimento, portanto houve uma resistência inicial encarada com naturalidade pelos profisionais da Cooperativa. “Não forçamos ninguém, fomos conversando e permitindo que os investimentos sejam feitos de forma gradual”, garante Bremm. Ele entende que eventuais sobressaltos na safra podem vir do fator clima, mas as famílias associadas estão aptas a receber as auditorias do Ministério do Trabalho que, certamente, virão.
Além dos alojamentos, muda por completo a forma de contratação da mão de obra temporária. A partir de agora a CLT será seguida à risca. Em média cada família associada contrata quatro funcionários temporários pelo período de 15 dias. Para isto as famílias precisaram se adequar e recorrer à contratação de um serviço de contabilidade. Mas antes ainda a própria Cooperativa deu todas as condições para que os associados se enquadrassem nas normas legais.
Mecanização
A adoção de bins – caixas plásticas que comportam aproxiadamente 450 quilos de uvas não chega a ser uma novidade na colheita, mas a sua implementação tanto na recepção da vinícola, como nas propriedades ganhou grande impulso. A prática requer a compra das grandes caixas, e a colocação de uma torre no trator. Um investimento aproximado de 50 mil reais – custo que se dilui em várias safras. Segundo o testemunho de Diego Gabardo, o trabalho da colheita fica muito mais leve desta forma, já que antes eram preciso carregar no braço centenas de caixas de 25 quilos de uvas por dia de colheita.
A expectativa do presidente Renê Tonello é que em no máximo três anos, todos os associados já tenham o sistema de bins impantado em sua propriedade,
Outro tema abordado durante a visita foi a qualidade da safra, tendo em vista o clima chuvoso e que apresentou forte tempestade de granizo em muitas parreiras. Segundo o agrônomo Murício Bonafé, houve necessidade de mais tratamento – portanto o mais gasto – mas até agora a sanidade dos grãos está mantida. A Qualidade está garantida, mas poderá haver uma diminuição na quantidade de uvas colhidas, seja porque ouve perdas ou porque os cachos em alguns casos estão mais ralos. A varietal Chardonnay, por exemplo, deverá ter perdas.
Família Gabardo
O casal Nei e Solange Gabardo, junto com o filho Diego, são um bom exemplo de núcleo familiar associado à cooperativa Aurora. Durante o ano dão conta do trabalho, mas nos 12 à 14 dias de safra precisam contratar quatro colaboradores. Eles sabem que agora o contrato deve estar assinado. Preço médio de R$160,00 à R$230,00 por dia de serviço. Some-se agora o valor do trabalho do contador, mais impostos. A jornada diária será de oito horas – com possibilidade de suas horas extras.
O alojamento novo ainda não está concluído e terá inclusive uma cozinha. mas o local da refeição não muda: é na mesma hora e na mesma mesa da família e lembremos que a qualidade e fartura das refeições na serra são um atrativo à parte muito valorizado pelos trabalhadores temporários.
A manutenção do alojamento em condições de higiene e limpeza é um trabalho incorporado à rotina de dona Solange sem queixas. Ela gosta das coisas organizadas em casa e não será diferente no alojamento, garante.
Agora é esperar que o clima melhore e partir para um novo tempo nas relações de trabalho na agricultura familiar que é uma das razões da prosperidade na serra gaúcha.