A Embrapa e a Apassul – Associação dos produtores de sementes e mudas do Rio Grande do Sul) iniciaram na última semana a distribuição aos viveiristas licenciados a distribuição de selos para as sementes de videiras certificadas. A inclusão dos selos de qualidade de mudas – Premium, Superior e Standard – tornará mais fácil para os viticultores identificarem os níveis de qualidade das mudas comercializadas. Além dos selos colocados nas sacarias e nas caixas. Mais ainda, os feixes de mudas também terão etiquetas indicativas da sanidade viral do material vegetal utilizado. Isso representará a ausência das principais viroses que afetam a videira. A distribuição dos selos e etiquetas começou a ser feita nos últimos dias aos viveiros na Serra Gaúcha e nas demais regiões do estado, além de Santa Catarina. O recebimento das mudas poderá ser verificado.
Foram certificados 53 lotes de mudas em 9 viveiros nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina para o recebimento do selo de qualidade de muda somente neste ano. Além disso, desde 2023, 143 campos de plantas matrizes foram analisados para o recebimento da etiqueta de qualidade viral.
“Quando iniciamos o projeto em 2013, a situação era muito complicada, as mudas comercializadas eram contaminadas por vírus e doenças de tronco em níveis elevados, não apresentavam padrão morfológico unificado e muitas vezes eram obtidas na informalidade. Isso representava um grande prejuízo ao viticultor, pois uma muda de qualidade é o ponto de partida para a garantia de produção e da longevidade do parreiral”, pontua Daniel Grohs, engenheiro agrônomo da Embrapa Uva e Vinho, um dos coordenadores da iniciativa.
Para o coordenador do Comitê de Mudas dos viveiristas associados Apassul e proprietário ao lado do irmão Edgar, do Viveiro Sinigaglia, Lucas Sinigaglia ao lado do irmão Edgar, o selo marca uma nova fase para o viveiro.
Estamos recebendo o selo de qualidade Premium, que é o resultado de um trabalho que iniciou há três anos, uma parceria entre a Associação dos Viveiros, a Embrapa e a Apassul, que faz a certificação das mudas. Isso é uma garantia para o produtor que está adquirindo as mudas dos viveiros licenciados da Embrapa, de que vai ter uma muda de alta qualidade para a formação de vinhedos longevos, produtivos e sanitariamente confiáveis, avaliou.
A engenheira agrônoma e desenvolvedora de Mercado de Mudas da Apassul Elisangela Sordi é a responsável pela vistoria. Ela garante que os parâmetros estabelecidos estão sendo cumpridos. Isso resulta na qualidade final da muda.
O conjunto das visitas, coletas de amostras e análise de diferentes parâmetros, que vão desde o diâmetro da muda até a presença de doenças, é que nos permite definir se a muda irá receber o selo de Premium, Superior ou Standard. Esse padrão foi estabelecido a partir de sistemas de certificação de outros países mas ajustados às características locais dos viveiristas, explica Elisangela.
Mudas de Qualidade
De 2013 a 2019 a Embrapa Uva e Vinho executou o projeto Mudas de Qualidade, que contou com a participação de diversas instituições e organizou a produção profissional de mudas de videira. Dentre os avanços, segundo Grohs, pode-se destacar a obtenção de plantas básicas de elevada sanidade viral. Também houve a consolidação da oferta de material propagativo básico aos viveiristas. Além disso, o desenvolvimento de tecnologias para melhoria dos sistemas de produção de mudas.
No que se refere à qualidade de mudas, o maior impacto que conseguimos ao longo dos anos foi a mudança de comportamento dos produtores de uva, que hoje exigem a chamada “muda de qualidade” no momento da compra. Muda de qualidade é sinônimo de um padrão de muda produzido a partir do conjunto de recomendações técnicas da Embrapa, associada a uma genética conhecida com elevada sanidade viral, define Grohs.
Sobre os viticultores, Grohs relembra que no início do programa foi necessário explicar quais as características de uma muda de qualidade e como eles deveriam avaliar este padrão. O treinamento foi importante para o produtor participar de forma ativa neste processo. Eles tiveram consciência de que uma muda fora do padrão traz impactos negativos ao seu vinhedo. Com o tempo, tornou-se comum exigir características da muda de qualidade. Assim, eles se tornaram fiscais dos próprios viveiristas.
No caso dos viveiristas, Grohs comenta que o setor produtivo tinha uma visão distorcida da atividade. De maneira geral, essa atividade era considerada amadora. Com o programa, a busca pela muda de qualidade exigiu aporte tecnológico e maior rigor no processo de produção da muda. Ele complementa que foi inevitável a profissionalização desse segmento. Hoje o segmento está em pleno crescimento e altamente valorizado. Atualmente, mesmo pequenos viveiristas sem perfil para serem licenciados, recorrem à Empresa de Pesquisa para obter orientações técnicas. Isso serve para qualificar a produção deles, pois o mercado tem exigido esse novo padrão.
Parceiria com viveiristas
Após a finalização do projeto em 2019, se observou um aumento da demanda pela entrega de mudas qualificadas. Tanto pelos licenciados, inclusive de fora do Rio Grande do Sul, como pelos viticultores. O setor passou a ver a muda de qualidade como uma marca de alto valor agregado.
Porém, o custo, a logística e a necessidade de mão-de-obra especializada inviabilizaram a Embrapa a permanecer à frente de um amplo programa de acompanhamento da produção em escala nacional. Assim, iniciou-se uma articulação junto à Apassul para atendimento nessa nova etapa. Apassul passou então a liderar o processo de acompanhamento da qualidade. Eles têm o apoio técnico e curadoria da Embrapa. Isso foi feito a partir da entrada oficial de 11 licenciados do RS e SC, na associação.
Com esse movimento, a partir de 2025, o setor conta com viveiristas altamente tecnificados. Estes são autorizados a comercializar as cultivares protegidas da Embrapa. Além disso, eles também comercializam mudas com qualidade classificada e rastreável. Os viveiristas podem ser identificados pelo “selo de viveirista associado Apassul”.
A base do programa de acompanhamento de qualidade de mudas de videira Apassul inicia com a legalização do viveiro. Durante este processo, verifica-se sua adequação e respeito às normas oficiais para produção de sementes e mudas. Posteriormente, é realizado o monitoramento da condição sanitária dos matrizeiros. Em especial, o diagnóstico molecular laboratorial quanto à presença das principais viroses. As mudas procedentes dos campos aprovados recebem a “etiqueta amarela” em cada fardo comercializado.
A comprovação da origem sanitária da muda sempre foi um gargalo técnico que agora pode ser comprovado pelas etiquetas amarelas
Existe a etapa de amostragem de lotes de mudas em pré-comercialização. Nessa etapa, é realizada a análise morfo-sanitária visual de mudas para a classificação nos três níveis de qualidade de mudas: Premium, Superior e Standard. A diferença entre as classes se dá sobre a tolerância de ocorrência de desuniformidades no que é considerado um padrão ideal de mudas. O padrão leva em conta soldadura, presença de necroses internas, assimetria radicular entre outros. A muda Premium é aquela que apresenta a menor tolerância. A Superior tem tolerância intermediária. A Standard tem a maior tolerância.
A inclusão das etiquetas com níveis de qualidade em mudas é mais um dos resultados de uma verdadeira revolução que vem acontecendo na viticultura brasileira
Grohs reforça que esse é um programa voluntário e o viveirista encaminha antecipadamente os lotes que deseja classificar.
Pela primeira vez na nossa viticultura, temos uma forma de quantificar a qualidade do lote entregue e o viticultor passa a ter uma métrica para entender pelo que estará pagando. Esse é um sistema já usado em outros países viticultores. Agora o Brasil se insere nesse modelo internacional. Além disso, nacionalmente, se destaca no segmento de fruteiras, por aplicar um sistema de autocontrole que pode servir de base a outras espécies. Será a aceitação e o reconhecimento pelo setor produtivo deste esforço que ditará a continuidade e envergadura deste programa nos próximos anos, finaliza Grohs.