Bento Gonçalves

Após perder esposa e sogro em deslizamento, funcionário da Casa Bucco, de Bento Gonçalves, é exemplo de resiliência na Expointer

Igor Longaray, de 27 anos, relembra tragédia pessoal na Serra das Antas e reúne forças para recomeçar

História de resiliência marca presença de cachaçaria de Bento Gonçalves na Expointer
Foto: Jürgen Mayrhofer / Secom

A Expointer 2024, realizada no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, reúne 413 empreendimentos no Pavilhão da Agricultura Familiar, muitos dos quais enfrentaram desafios causados pelas chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul. Entre os expositores está Igor Longaray, de 27 anos, que carrega uma história de dor e resiliência. Ele é vendedor da Casa Bucco, cachaçaria localizada em Bento Gonçalves.

No dia 1º de maio, um deslizamento de terra dentro da propriedade da empresa, no distrito de Tuiuty, tirou a vida da esposa de Longaray, Alice Estivalet Santos, de 21 anos, e de seu sogro, Anilton de Oliveira Santos, de 60 anos. Anilton era o alambiqueiro da empresa, enquanto Alice atuava como responsável técnica pela produção da cachaça. Foram necessários oito dias de buscas até que os corpos das vítimas fossem encontrados.

“Foi um momento bem triste. Está sendo muito difícil e com certeza vai ser por muito tempo. Isso nunca vai sair da minha memória”, relatou o Longaray.

Mesmo com a tragédia que afetou parte do terreno da agroindústria, Longaray tomou a decisão de estar com a Casa Bucco na Expointer. Natural de Pelotas, ele se mudou para a Serra Gaúcha há alguns anos, onde conheceu sua esposa, que era natural de Uruguaiana e também trabalhava na Casa Bucco.

“Acabei decidindo vir para a Expointer pelo legado que a minha esposa me deixou: de muito amor, companheirismo e dedicação. Com certeza, os sonhos deles dois ainda estão vivos dentro de mim, e é o que eu vou levar para a minha vida, todo o amor e todo o carinho que eles tinham por mim e que eu tenho por eles”, expressou Longaray, reforçando seu compromisso com o legado familiar.

Confira o depoimento:

 

Igor Longaray e Alice Estivalet Santos. (Foto: Redes Sociais)
Anilton de Oliveira Santos. (Foto: Redes Sociais)

A tragédia

Longaray relembra os momentos da tragédia em Bento Gonçalves. 

“Tudo aconteceu no dia 1º de maio, às 15h30. Estávamos eu, minha esposa e meu sogro em uma outra parte da cachaçaria naquele momento. A minha esposa e o meu sogro acabaram indo lá na casa para pegar umas roupas para atender uma família que nós tínhamos socorrido algumas horas antes, que perderam tudo também ali na região. Então, a minha esposa e meu sogro foram na nossa casa buscar umas roupas para poder abrigar essa família e foi quando tudo aconteceu”, relatou Longaray sobre o momento em que ocorreu o deslizamento que vitimou Alice e Anilton.

Em relato, Igor descreveu os últimos momentos que passou ao lado da esposa:

“Cinco minutos antes de tudo acontecer, eu estava dando risada com a minha esposa, a gente estava se abraçando. Ela falou para mim ainda: ‘Meu amor, fica aqui com a mãe que eu e o pai vamos ir ali e eu já volto, tá?’, me deu um beijinho e foi até lá. Em questão de dois, três minutos depois que eles saíram de perto de mim, só escutei o barulho.”

Igor e a sogra se salvaram, pois estavam em outra parte da cachaçaria, fazendo limpeza dos bueiros na empresa, pois a água naquele momento estava muito forte. No dia seguinte, quando conseguiu sinal de telefone e entrou em contato com os bombeiros, Longaray chegou a gravar um vídeo relatando a situação para as equipes de busca, que foi muito compartilhado nas redes sociais naquela época (confira abaixo).

 

 

“Tentei de todas as formas encontrar minha esposa, encontrar meu sogro naquele momento, só que sozinho você não consegue fazer muita coisa. Nós tivemos ali na minha casa um deslizamento que contabilizou 600 metros de queda por 80 metros de largura. Então foi muita terra, muita pedra, muita árvore que desceu lá de cima do morro. Aí, infelizmente, não tive o que fazer”, comentou.

As equipes de resgate do Corpo de Bombeiros só encontraram os corpos de Alice e Anilton no oitavo dia de buscas, quando uma máquina escavadeira que estava trabalhando na BR-470, do Daer, conseguiu entrar dentro da propriedade e chegou até eles.

“Minha sogra perdeu um marido, com 39 anos de casados, e a filha de 21 anos. Eu perdi um grande amigo, meu sogro, que era praticamente um pai para mim e a minha esposa, então está sendo uma batalha diária. É um momento que a gente tenta ser reflexivo para a vida, mas é um momento de muita dor, e isso, infelizmente, é para o resto da vida. Eu nunca mais vou poder abraçar a minha esposa, falar o quanto eu amo ela, mas o amor dela vai estar sempre vivo dentro do meu coração. E todas as vezes que eu puder falar da minha esposa eu vou falar com todo orgulho, porque sempre foi e sempre vai ser uma pessoa maravilhosa”, desabafou Longaray.

Ouça o relato na íntegra:

 

Sobre a cachaçaria

A Casa Bucco, que produz cerca de 60 mil litros de cachaça anualmente, não foi completamente afetada pelo deslizamento e retomou gradualmente suas atividades. Com quase duas décadas de participação na Expointer, a empresa espera alcançar recordes de vendas este ano, enquanto continua a atender seus clientes na Serra das Antas, no km 194,3 da BR-470. Mais informações estão disponíveis no site: www.casabucco.com.br.