A acessibilidade no enoturismo é tema de um estudo inédito em parceria entre a Vinícola Salton e o Instituto Federal de Educação (IFRS). Os resultados foram levados à comunidade na quinta-feira, 29 de agosto, em encontro realizado na Casa di Pasto Família Salton. O objetivo é desenvolver soluções para incluir as pessoas com deficiência no enoturismo e no setor vitivinícola. Como resultado, foi criado o Guia de Acessibilidade no Enoturismo e o Glossário em Libras do Enoturismo.
O trabalho para o desenvolvimento do Guia foi realizado entre os meses de outubro de 2022 a outubro de 2023, envolvendo pessoas com deficiência, profissionais da área da inclusão, da arquitetura, do turismo, do design e da programação visual.
Entre as etapas, estiveram a capacitação de estudantes, servidores e colaboradores dentro das temáticas de acessibilidade e inclusão. Além disso, foram mapeadas as barreiras existentes no enoturismo que impedem ou dificultam o acesso de pessoas com deficiência em ambientes físicos e digitais, a realização de pesquisas sobre turismo e enoturismo acessível, a proposição de experiências enoturísticas acessíveis, o estudo de normativas sobre acessibilidade física e digital e a sugestão de ações que possam reduzir ou eliminar as barreiras identificadas.
“Pensar em enoturismo acessível significa buscar acessibilidade em todas as suas dimensões. É assegurar que pessoas com deficiência possam agendar visitas, visitar lojas, realizar passeios, escolher produtos e entender conteúdos, ou seja, que não existam barreiras físicas, digitais, comunicacionais e principalmente atitudinais”, explica Anderson Dall Agnol, coordenador do projeto pelo IFRS e também pessoa com deficiência visual.
Guia disponível em forma digital
O Guia de Acessibilidade no Enoturismo é um arquivo que está disponível de forma digital e contempla mais de 100 páginas com ilustrações, orientações e dados relevantes que contribuem de forma prática para melhorar a experiência enoturística de diferentes públicos. As ações foram pensadas para pessoas com deficiência visual, auditiva, física, intelectual, múltipla, surdocegueira e Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Orientações de acessibilidade em espaços físicos estão contempladas no arquivo. No material, é possível entender, por exemplo, o conceito de rota acessível, que é um trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado, que conecta os ambientes externos e internos de espaços e edificações. Dentre os detalhes, estão dicas de como escolher o mobiliário que compõe um empreendimento turístico — as mesas devem ter dimensões adequadas para o usuário de cadeira de rodas, bem como as portas devem garantir um espaço que permita que uma cadeira de rodas estacione para realizar o retorno. Além disso, é reforçada a importância de uma sinalização que comunique de forma precisa, clara e completa.
Exemplo disso é a Casa di Pasto Família Salton, empreendimento da vinícola inaugurado em 2023, que dispõe de piso tátil, sinalização em braile, elevador e mobiliário com dimensões que facilitam o acesso de cadeirantes com mais independência. Outro diferencial quanto à acessibilidade na Casa di Pasto Salton são os cardápios em braile e em Libras. Desta forma, pessoas cegas e membros da comunidade surda podem fazer seus pedidos, promovendo cada vez mais a autonomia do público.
Além de abordar a acessibilidade nos espaços físicos, o Guia de Acessibilidade no Enoturismo também esclarece outro assunto que precisa ser cada vez mais difundido: a acessibilidade nos espaços digitais. Com as orientações, a ideia é estimular a produção de conteúdos com bons níveis de acessibilidade que ampliem a acessibilidade nos espaços digitais, permitindo assim que pessoas com deficiência possam ter mais autonomia no uso de sites, redes sociais e demais serviços digitais. Por fim, o tema acessibilidade no atendimento também resume tópicos importantes que visam reduzir barreiras relacionadas ao atendimento de pessoas com deficiência, fundamental para garantir o enoturismo acessível. As sugestões de iniciativas contemplam desde pontos como reservas, formas de pagamento, e cardápio, entre outras questões importantes.
“Buscamos implementar o máximo de adaptações, e todas as frentes desenvolvidas junto com o IFRS enriqueceram nossas experiências, garantindo que possamos receber nossos clientes da melhor forma possível”, conta a coordenadora de Trade Marketing e Customer Experience Nicole Salton, responsável pelo projeto na vinícola.
“Este projeto foi profundamente enriquecedor e trouxe melhorias significativas a todos os nossos processos internos. Compreendemos que a plena acessibilidade é um desafio contínuo, mas reconhecemos a importância de dar o primeiro passo”, completa.
A ideia é que as iniciativas possam estimular outras vinícolas, visto que os demais empreendimentos enoturísticos poderão ter acesso às informações e aos resultados, bem como órgãos públicos. O documento está disponível neste link.
Glossário em Libras do Enoturismo
Também disponível de forma online e com acesso público, o Glossário em Libras do Enoturismo reúne informações, termos, conceitos e detalhes que agora ganham versão na língua de sinais para pessoas surdas desbravarem com autoridade o universo do vinho. Isso porque a enologia, ciência dedicada ao estudo de todos os aspectos do vinho, está repleta de termos, conceitos e detalhes que podem ser desconhecidos ou gerar dúvidas entre os amantes da bebida.
O glossário reúne vídeos com sinais inéditos que comunicam palavras como enoturismo, vinho tinto, perlage, vinhedo, terroir e até variedades de vinhos e espumantes como brut e moscatel. Um dos diferenciais deste glossário é o fato de a produção dele ter sido feita, desde o início, por especialistas juntamente com a comunidade surda, o que garante que a novidade seja aplicada pelos principais interessados no assunto. Para ter acesso ao conteúdo, basta acessar esse link.