Com uma dívida que passa dos R$ 38 milhões, um prejuízo mensal calculado em R$ 961 mil, uma necessidade urgente de um aporte de R$ 3 milhões para enfrentar os compromissos financeiros mais prementes, salários atrasados e a ameaça de ter que ressarcir a prefeitura de adiantamentos realizados, a situação do Hospital São Carlos, de Farroupilha, é de difícil solução, e a ameaça de que o hospital seja obrigado a fechar as portas em julho é real.
Esta é a conclusão evidente do encontro promovido pela Câmara de Industria, Comércio, Serviços e Agronegócio de Farroupilha (Cics) na noite desta quarta-feira, dia 21, que reuniu mais de cem pessoas, entre representantes do poder público, promotoria, vereadores, empresários e comunidade, para debater e apresentar os números da crise financeira vivida pelo hospital.
De acordo com os números apresentados na reunião, o hospital tem mais de R$ 12 milhões de dividas vencidas, R$ 23 milhões de dívidas renegociadas, um conjunto de ações de R$ 1,5 milhões e um bloqueio mensal de R$ 70 mil. Os maiores débitos são com bancos e com impostos. Ainda segundo o relatório apresentado, o endividamento maior começou no ano de 2014 e de lá para cá só aumentou. É também de 2014 o atraso nas contas de água e luz, que ainda não foram cortadas devido a negociações feitas, mas cujo o prazo está se acabando.
Mas o problema é ainda maior porque há um déficit estrutural na operação do hospital. Conforme os dados apresentados, mesmo que não existisse a dívida, o hospital teria hoje um prejuízo de R$ 350 mil mensais.
Conforme a superintendente do hospital, Janete Toígo, a situação chegou no limite, e não há mais recursos suficientes para manter a casa de saúde funcionando. “Já estamos com a corda no pescoço, infelizmente não tenho mais recursos para manter o hospital em funcionamento, o dinheiro que eu tenho vai dar para seguirmos no máximo até o início de julho. Como eu falei durante a reunião, precisamos de um engajamento maior por parte dos poderes público, estadual e federal, junto com a nossa comunidade”, afirma.
Segundo Janete, essa situação pode ser agravada caso a prefeitura comece a descontar o adiantamento de R$ 1 milhão do repasse anual de R$ 13 milhões proposto pela prefeitura, conforme havia sido acertado. Para ela, a prefeitura precisa rever esse acordo para que o hospital possa se manter funcionando.
“Temos esse adiantamento de recurso feito ainda pelo administrador passado, e esse valor vai ser descontado agora em junho e julho, o que vai nos quebrar de vez. Ao meu ver o poder público podia renegociar esse desconto, dar um prazo maior, porque sem esse dinheiro infelizmente não vamos conseguir cumprir com nossos compromissos financeiros e não cumprindo corremos sérios riscos de fechar as portas”, salientou.
De acordo com o chefe do gabinete do prefeito, José Adamoli, a prefeitura é parceira do hospital para tentar achar uma solução para a crise financeira, porém, o município não poderá comprometer o seu próprio orçamento.
“O poder público é parceiro e queremos ajudar a encontrar uma solução para o nosso hospital, mas entendemos que o estado e o governo federal também precisam ser cobrados, até porque eles são os que menos repassam recursos. Hoje, o que o município não pode é comprometer todo o seu orçamento doando mais recursos para a casa de saúde”, assegurou.
A prefeitura de Farroupilha repassa ao hospital São Carlos R$ 1 milhão por mês. Desse total, mais de R$ 500 mil são utilizados para a compra de serviços e R$ 498 mil é para subvenção. O valor que está previsto para o ano todo é de mais de R$ 12 milhões, sendo que a administração já repassou um subsídio no valor de R$ 1 milhão em abril.
Adamoli disse que o desconto pode até ser prorrogado, mas não tem como não ser cobrado, pois comprometerá o orçamento do município. “Podemos prorrogar esse desconto lá para o mês de setembro, mas o que não podemos é não descontar esse valor. Já estamos repassando recursos a mais para o hospital e ao nosso ver, o hospital não está cumprindo com os serviços”, afirmou.
Confira as entrevistas com a superintendente, Janete Toígo e o chefe de gabinete José Adamoli: