Nesta quarta-feira (01), o Rio Grande do Sul se vê novamente diante da maior tragédia que já aconteceu no estado. Quase nove anos depois, quatro réus vão a julgamento pelo incêndio que matou 242 pessoas e deixou 636 feridos na Boate Kiss, em Santa Maria, no dia 27 de janeiro de 2013. A princípio, o júri terá início às 9h, no plenário do 2º andar do Foro Central I, em Porto Alegre.
Por conta disso, uma das moradoras da Serra Gaúcha que sobreviveu a tragédia conversou com a reportagem do Grupo RBS às vésperas do julgamento. Bibiana Meireles Cembranel, de Bento Gonçalves, estudou Farmácia na Universidade Federal de Santa Maria e esteve presente na noite mais assustadora da história do estado. Hoje, com 29 anos, ela relembra que conseguiu sair da boate com os amigos que estavam com ela naquele dia e que o grupo mantém contato até hoje.
Segundo a sobrevivente, a tragédia foi causada por uma série de erros que poderia ter sido evitada. “Eu acredito que cada pessoa envolvida na fiscalização, na montagem da boate, todos têm a sua parcela de culpa. Mas espero que a justiça realmente seja feita, que cada um deles (réus), na sua responsabilidade pelo que aconteceu, que tenha um julgamento da melhor forma possível, que seja justo com as famílias que perderam seus filhos. Até porque é algo que jamais vai voltar”, disse Bibiana.
Irão a julgamento os proprietários da Boate Kiss, Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus, e o produtor Luciano Bonilha Leão. Os responsáveis pela apresentação pirotécnica respondem pela morte de 242 pessoas e por 636 tentativas de homicídio com dolo eventual, ou seja, quando se assume o risco de matar.
Felizmente, Bibiana não teve sequelas graves ou grandes cicatrizes por conta das chamas. Contudo, as marcas que aquela noite deixou são muito mais profundas do que qualquer machucado. Ela relembra que estava muito próxima de onde tudo começou e afirmou que não conseguia assimilar que se tratava de um incêndio. “Eu estava bem embaixo de onde começou (as chamas). Eu vi, mas não conseguia assimilar que era fogo. Era um clarão e foi muito rápido para a fumaça se espalhar. Eu caí próximo à porta de saída, tinha muito caco de vidro, foi um bombeiro que me tirou lá de dentro”, lembrou.
O julgamento está previsto para ser o mais longo da história do judiciário gaúcho: tanto a defesa, quanto a acusação estimam duração de 15 dias. Serão ouvidas 14 vítimas, 19 testemunhas, além dos réus. As testemunhas devem ficar isoladas até o dia do depoimento, enquanto os jurados precisam ficar incomunicáveis durante todo o período do júri. Além disso, como não é possível somar as penas conforme o número de vítimas, a expectativa dos promotores é que os réus sejam condenados a pelo menos 15 anos de prisão. Atualmente, eles respondem em liberdade.