Opinião

Resistência ou persistência?

Comentário de Sílvia Regina. (Foto: Reprodução)
Comentário de Sílvia Regina. (Foto: Reprodução)

Abordei isso na Rádio Jovem Pan da Serra outro dia e acho que vale a pena comentar sobre esse tema aqui também.

Os dicionários de língua portuguesa costumam conceituar “resistência” como o ato ou o efeito, ou propriedade de um corpo que reage à ação de outro corpo. Mas há outros conceitos. Meu marido, se indagado, seria simples, direto e reto, como bom mineiro que é, e diria: “uai, é aquele negócio que queima no chuveiro elétrico”.

O Direito dirá que é um crime: o delito previsto no artigo 329 do Código Penal consistente no ato de se opor ou resistir à execução de ato legal, com violência ou ameaça, à pessoa que o esteja praticando.

Semanticamente, há outros sentidos como a capacidade que o ser humano tem de suportar a fome e a fadiga; a defesa contra uma investida; a recusa do que é considerado contrário ao interesse próprio; a não aceitação da opressão; a qualidade de quem é persistente; o movimento de luta nacional contra o invasor; a qualidade do que é firme, resistente ou durável; solidez.

Figurativamente, pode ser qualquer coisa que represente um obstáculo; a qualidade de certos materiais que os tornam capazes de resistir a desabamentos ou a outras intempéries, razão de uma diferença de potencial aplicada às extremidades de um condutor pela intensidade da corrente que por ele circula, um movimento de luta nacional contra o ataque do inimigo, para manter a posição ocupada; mecanismo de defesa utilizado pelo analisando para recusar-se a não tomar consciência de suas motivações, dificultando o retorno aos traumas vivenciados.

Por que isso me veio à mente? É que, chegando neste último mês do ano, eu começo a pensar que resistir é ir em frente a pensar de tudo. Mais, particularmente, neste 2022 que, para mim, foi um ano difícil. Já vivi piores, emocionalmente, é verdade. Porém, neste, tivemos problemas de saúde em toda a família. Muitas internações hospitalares, inclusive perda de pessoa próxima: a nossa “Branquinha”, que esse ano não vem para o Natal, e o nosso “neto canino Thor”, tragicamente, nosso peludo mais lindo e totalmente humanizado em nossas vidas.

Por outro lado, também tivemos a alegria de vermos nascer e conviver com o nosso primeiro neto que é, em sentido muito similar a um filho com açúcar! Um sentimento que é mais bem sentido que definido, pois não cabe em palavras.

Nessa época do ano, eu fico sempre mais nostálgica. Sinto-me cansada, como se quase não pudesse mais resistir. Penso nas perdas, as que foram minhas e as que foram dos outros, e penso: a vida é mesmo isso? Sofrimento?

Ou somos desafiados à resistência a todo instante e este é o grande desafio da vida, é dizer, o seu verdadeiro sentido? A vida é superação pura? Ao mesmo tempo, vejo a vida se renovando a todo instante, e isso pode nos levar ao sentido de persistência”.

Será só teimosia ou por que será que, com todos os problemas, ainda queremos persistir e seguir a caminhada, mesmo sem saber o que nos espera no futuro?

Estou lendo um livro da Ariane Severo, “Freud, de Viena a Paris”, e me defronto com algo que pode explicar esses sentimentos contrapostos, pois a autora fala que “as coisas boas da vida não perdem seu valor pela falta de permanência”.

Acho que com isso podemos pensar nas duas coisas: isso quer dizer que as coisas boas que vivemos continuam memorizadas e eternizadas em seu valor, e elas nos dão a exata medida de o porquê precisamos resistir e, também, persistir, apesar de tudo!