Um dos doces preferidos do meu pai João Carlos Finger, que faleceu no último dia 6 de junho, era a torta Martha Rocha.
Criada por uma confeiteira em homenagem a Miss Brasil de 1954, o bolo possui recheio de doce de ovos, chantilly com nozes carameladas e disco de merengue.
Já hospitalizado em função da insuficiência respiratória e da anemia, num final de tarde, após horas em jejum em função de um exame, ele fez um pedido que demonstrou o quando ali havia vida.
Quis comer um pedaço da sua sobremesa preferida. Ele se deliciou como se soubesse que aquela seria a última fatia de torta antes de sua passagem.
Seus últimos pedidos, sem ele e nem nós saber que lhe restavam poucos dias de vida, foram para ver seus irmãos, filhas, netas e amigos queridos. Ouvir suas músicas preferidas. E degustar o doce que tinha sabor de infância.
Desejo que a minha vida seja feita de Martha Rocha.
Porque no final das contas o que fica são esses instantes, coisas simples, abraços demorados, a companhia de quem amamos.
Desde a sua partida meus olhos estão sempre marinados. Tento ser forte e não demonstro minhas dores. Creio que só meu travesseiro conhece as minhas feridas. Mas a escrita me ajuda a externar meus sentimentos e interpretar os teus ensinamentos.
Chris Finger é jornalista, mãe da Louise e da Lis, em busca de uma vida simples e com propósito