Quando um erro desculpa o outro

Minha opinião sobre a exibição do vídeo da reunião ministerial exibida nas redes de TV na sexta-feira é definitivamente bipartida….

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09:17 - 23/05/2020

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"Vamos passar de baciada"

Minha opinião sobre a exibição do vídeo da reunião ministerial exibida nas redes de TV na sexta-feira é definitivamente bipartida. Ela tem o poder de nitroglicerina e ainda assim poderá não derrubar ninguém. Prova cabal dos tempos sombrios que vivemos. Passei a infância vendo campanha eleitoral em que os candidatos não podiam manifestar ideias (Lei Falcão) e agora vemos um presidente que arma um picadeiro em torno de si e encurrala seus comandados chicoteando-os com palavrões.

Diante das mais assombrosas proposições e manifestações que cito a seguir, vemos boa arte dos cidadãos considerando tudo normal e para justificar logo vem a lorota de que “nos tempos do PT”. É o caso de encontrar um erro para desculpar o outro, quando o que se deve querer é o fim dos erros e das esfarrapadas desculpas para cometê-los intencionalmente ou não.

A Ministra Damares, que erroneamente julguei domada, mostra garras ao ameaçar prefeitos e governadores. Weintraub diz uma grande verdade ao falar do caráter de boa parte dos moradores de Brasília, pra em seguida quase me fazer enternecer pelos corruptos do poder, tamanhos os vitupérios que saem de sua boca e expressam seus olhos de ódio. Reencarnação de Torquemada.

E o Salles, Ministro do Meio Ambiente? Aquilo que ele propõe, se acontece numa Câmara de Vereadores qualquer, é motivo para cassação. Ora, “vamos aproveitar que a mídia está distraída, tudo é Covid, e vamos passar desregulamentações de baciada”. Bem, se havia uma mínima dúvida sobre o mau-caratismo do cara, ele foi desnudado. Não sei se em filmes ficcionais se veria tamanho descaramento.

Sim, eu sei. Quando Bolsonaro fala dos seus propósitos: armar a população, não ter medo da não reeleição e reafirma que ninguém está roubado – vale lembrar que ele dizer apenas não garante nada – certamente encontra eco em seus eleitores e muitos que estavam debandando talvez sejam reagrupados agora. Mesmo assim, é preciso entender que a reunião em que Guedes fala em socorrer os grandes pra ganhar dinheiro e perder dinheiro com os pequenos, não era reunião de gangue, quadrilha ou facção. Não se pode achar normal que o time que comanda a Nação menospreze a pandemia e supervalorize a proteção a um líder que parece estar mirando o alvo errado. “Ah! eu falo palavrão, sou assim mesmo” se justifica o rei ao perceber que será desnudo ante seus súditos.

Sim, Bolsonaro interferiu na PF, trocou ministro e continuará fazendo isto. Despido e protegido por um bando de puxa-sacos desqualificados a quem chama de Ministros, ele ainda será o presidente. Um presidente que foi eleito com propósitos dos quais até se pode ideologicamente discordar, mas cujo direito de implementação por quem foi eleito é preciso respeitar. O que não se pode é pensar que qualquer meio justifica o fim.

Não dá pra perdoar despreparo e o descaso com que se trata a pandemia; a falta de habilidade para lidar com os entes federados e os demais poderes. Não se governa pregando ódio na saída do Palácio a cada alvorada.

O presidente se encarrega de destruir biografias. Usa pessoas no ministério até desidratá-las como se faz ao espremer laranjas para o suco. É um ególatra.

Todo este circo de horrores serve para nos distrair a cada sexta-feira. Mas atrás deste circo há uma Nação sendo corroída e um povo que a cada dia se divide mais. Precisamos de concertação.

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