Foi lançada, nos EUA, nova tradução, para a língua inglesa, de Memórias Póstumas de Brás Cubas. A obra esgotou em 24 horas!
O fato prova que, se Machado de Assis tivesse traduzido, à época, suas obras para a língua inglesa, teria alcançado voos inimagináveis. Claro, o escritor carioca já está solidificado na galeria dos maiores da língua portuguesa, ao lado de José Saramago, Fernando Pessoa, Mia Couto, Carlos Drummond de Andrade e, cá nos pagos, Érico Veríssimo. Mas é um sacrilégio que não tenha sido agraciado com o Nobel de Literatura, pois o “Bruxo do Cosme Velho” é, de fato, um dos maiores da história.
Joaquim Maria Machado de Assis era jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo. Mas, o que poucos sabem é que, além disso, era exímio enxadrista e sofria com a caligrafia, por vezes, indecifrável. Sua obra é atemporal. A gravitação em torno da febre amarela traz reflexões acerca da clausura imposta pelo coronavírus. O caráter simbólico da descendência de escravos, e, mesmo assim, outeiro no mundo das letras, inclusive figurando como fundador da Academia Brasileira, é um memorável eco em desfavor do racismo sistêmico, combustível das torrentes manifestações nos EUA.
Os elogios dos americanos enfileiram-se. O poeta beat Allen Ginsberg o chama de novo Kafka. Harold Bloom disse que se trata do maior escritor negro de toda história. Eggers derrama elogios no proêmio da obra. A revista New Yorker estampou que Memórias Póstumas de Brás Cubas é “o livro mais espirituoso já escrito”.
Espera-se, agora, que o brasileiro, num momento em que a leitura de obras densas perde espaço para o mundo da lesta excitação das redes, não se esqueça de Bentinho, Capitu e de um dos mais ricos universos literários que um intelectual brasileiro foi capaz de criar. Como poucos, Machado de Assis soube desnudar “os sentidos da existência humana”. “A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal”.