Desconstruindo-me

A cada dia me dou conta de que meu maior obstáculo sou eu mesmo. A desconstrução daquilo que penso ser talvez seja o portal para a ação da Providência Divina. Não é a elevação o desafio mais árduo, mas sim a difícil tarefa de nos olharmos com sinceridade e compreender quem realmente somos, desmantelando os alicerces corroídos pelos vícios e ilusões que carregamos e formam a nossa identidade.

Começo a entender que o melhor de mim não está em mim isoladamente, mas se reflete nas pessoas ao meu redor, no olhar alheio que me devolve uma nova perspectiva de quem devo ser. A cura das minhas feridas espirituais parece se encontrar na benevolência que preciso desenvolver com mais intensidade. Quanto mais eu aprendo a amar, mais descubro que esse sentimento é o sustentáculo da minha jornada, a escada que me conduz, degrau por degrau, a uma conexão maior com o Supremo.

Ofender o outro é, na verdade, uma autoagressão, pois somos todos interligados no tecido da existência. Cada ofensa ergue barreiras, me afastando das promessas de Cristo, que nos chama a fraternidade. “Quem não ama, não conhece a Deus, porque Deus é amor” (João 4:8). Esse princípio filosófico ressoa como um lembrete de que o bem-querer é a essência de tudo, a única via pela qual nos aproximamos verdadeiramente do Criador.

A consagração ao outro, então, não é apenas um gesto altruísta, mas um ato de descoberta de si mesmo, um retorno ao nosso ser mais autêntico. Na medida em que nos despimos das ilusões do ego, abrimos espaço para que a afeição e a verdade, como potências universais, possam reformular nossa existência. É nesse gesto, aparentemente simples, que percebo a verdadeira ascensão espiritual.

Desconstruir-me, portanto, é mais do que um ato de mudança; é um ato de abertura. Ao romper com as antigas estruturas do egoísmo e do orgulho, crio espaço para que o amor, em sua forma mais pura, preencha minha vida. E só então, nessa reconstrução silenciosa e contínua, sinto que estou caminhando rumo ao que é Divino, ao que é eterno.