O ano é 2020 e a tecnologia impera. Temos aí o edital para empresas que queiram instalar e explorar a telefonia 5 G. Isto vai garantir ainda mais e novas funcionalidades a esta revolução tecnológica iniciada por Graham Bell e outros pesquisadores que o antecederam.
Leia mais
O ano é 2020 e quem precisar de uma consulta num postinho da prefeitura deverá e submeter a uma fila partir das 5h30min da manhã, sem garantia de alcançará seu intento se não for dos primeiros da fila.
Quem quiser a ficha da tarde precisa estar na fila às 10h30min da manhã. Tem um porém: se tiver 60 anos ou mais terá o privilégio de agendar a consulta por telefone. Maravilha, a notícia da invenção do senhor Bell chegou por lá.
Há muitos anos e em raras ocasiões passo nas primeiras horas da manhã pela frente do postinho (mesmo prédio da Previdência Social), às vezes passo quando o sol está escaldante, às 11h30min e me compadeço das pessoas que estão na fila. Acho humilhante. Decidi desde sempre que enquanto puder, não vou pra esta fila. Espero completar 60 e ter o direito de agendar por telefone. Será que já descobriram o computador XT ou o 286 por lá?
Bem, é uma opção pessoal. Ao longo de dois ou três meses, deixo de consumir meia-dúzia dos caros vinhos de preço médio da serra gaúcha (R$ 60,00) e vou pagar consulta particular pra não me sujeitar a ficar ao relento na fila. Sempre lembrando que ao deixar de consumir vinho a tendência é de que minhas veias vão entupir, doutor…
Surge uma dúvida, estarei sendo esnobe? se for, paciência. E, algumas conclusões que tiro desta história: se pode agendar pra quem tem mais de 60 anos, porque não agendar para os demais? Se há tanta procura que obriga as pessoas a estarem na fila tantas horas antes para tentar a sorte de fisgar uma “ficha”, isto não é sinal de que há pouca oferta de médicos? Marca sim nas duas respostas que não vai errar.
Sei, em se tratando de Brasil, vivemos no paraíso ao falar de saúde pública. Mas não dá pra se conformar com fila às 5h30 da manhã. E nem falo do horário. Falo da espera e da situação de estar na rua. A coletividade não merece.
E pra não dizer que não vejo o lado bom, depois de dias sem falar ou dormir direito por conta de uma amigdalite fui ao plantão 24 horas na manhã de domingo. Entrei e tinha um cheiro ruim. Depois notei que provinha de um morador de rua em busca de ataduras. Ele deixou cobertores e trapos do lado de fora, mas o cheiro da falta de asseio veio junto. Tão logo saiu uma zelosa funcionária da recepção tratou de aspergir um perfume no ambiente. Pois bem. Não tinha ninguém na fila e em meia hora saí com a ambicionada receita de antibiótico e a recomendação de uma bateria de outros exames. Nota 10 para o atendimento no 24 horas. Aliás lá já estive umas outras três vezes e sempre saio com esta boa impressão. A única coisa que me tira do sério é quando vem junto a recomendação de que devo ir ao postinho. Aquilo pra mim é o retrato, esculpido em Carrara, do arcaísmo do serviço público.