A decisão da big tech Meta em finalizar o programa de verificação de fatos motivou o Governo Federal a protocolar uma notificação extrajudicial para que a empresa explique as potenciais implicações da mudança nas diretrizes das redes digitais que controla, como Facebook e Instagram. A decisão ocorreu após reunião realizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na última sexta-feira (10), com a participação de ministros, secretários e assessores no Palácio do Planalto, em Brasília.
De acordo com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o presidente foi claro ao dizer que não abrirá mão da soberania do país e que toda e qualquer empresa nacional ou multinacional terá que respeitar o arcabouço fiscal e a justiça brasileira.
“Impacta quando se fala de conteúdo impróprio, de informações que dizem respeito a práticas criminosas, do respeito à vida humana, de agressões por discriminação racial, de gênero, regional, discursos de ódio, e nos preocupa muito quando esse controle deixa de existir também para divulgação de fake news”, listou o ministro, que reforçou que o país já tem uma série de regramentos consolidados em torno desses temas.
Como consequência desse contexto, a Advocacia-Geral da União (AGU) protocolou, ainda nesta sexta-feira, uma notificação extrajudicial para que a empresa explique, em até 72 horas, qual será a política adotada para o Brasil.
“O Brasil tem uma legislação rigorosa na proteção de crianças e adolescentes, de populações vulneráveis, do ambiente de negócio e nós não vamos permitir, de forma alguma, que essas redes transformem o ambiente em uma carnificina ou barbárie digital”, afirmou o advogado-geral da União, Jorge Messias.
Ele enfatizou que o governo brasileiro não ficará de braços cruzados e que buscará todos os mecanismos legais para que a Meta respeite as legislações em vigor do país.
Antes mesmo da reunião, na quinta-feira, o presidente Lula já havia se manifestado sobre o tema, durante visita a uma exposição no Palácio do Planalto com obras recuperadas depois das invasões de 8 de janeiro de 2023.
“Eu acho que é extremamente grave as pessoas quererem que a comunicação digital não tenha a mesma responsabilidade do cara que comete um crime na imprensa escrita, sabe? É como se um cidadão pudesse ser punido porque ele faz uma coisa na vida real e pudesse não ser punido porque ele faz a mesma coisa na digital. O que nós queremos, na verdade, é que cada país tenha a sua soberania resguardada”, disse Lula.
Paralelamente, o Governo Federal pretende abrir uma discussão com sociedade, meios de comunicação, associações que representam a comunicação, para tratar do tema de forma mais ampla. O ministro, Rui Costa, também enfatizou que o Executivo vai priorizar no diálogo com o Congresso Nacional a regulação mais clara para a atuação das redes digitais no país.
Preocupação internacional com a Meta
O tema da soberania diante das grandes empresas do mundo digital também ocupou parte da conversa telefônica do presidente Lula com o presidente da França, Emmanuel Macron, também na sexta-feira.
Na ligação recebida por Lula, o brasileiro elogiou as manifestações do governo francês sobre a recente decisão da Meta de reduzir a checagem de fatos de suas publicações. Eles concordaram que liberdade de expressão não significa liberdade de espalhar mentiras, preconceitos e ofensas.
Ambos consideraram positivo que Brasil e Europa sigam trabalhando juntos para impedir que a disseminação de “fake news” coloque em risco a soberania dos países, a democracia e os direitos fundamentais de seus cidadãos.