Num país polarizado artificialmente entre mortadelas e coxinhas, parece natural dividir o mundo entre heróis do bem e anti-heróis que representam todo o mal sobre a terra, mas não é.
Desse jeito, parece até correto afirmar que hoje teremos o duelo final entre o mocinho Moro e o bandidão Lula, como tentam nos fazer acreditar as capas das revistonas semanais que circulam na nossa Pindorama.
Mas não é.
Porque o que teremos hoje logo mais em Curitiba, e precisamos garantir que seja assim, será um juiz – isento, imparcial e impoluto como se requer de todo juiz – questionando um réu – suspeito, acusado e processado como todo e qualquer réu – pra tentar buscar elementos pra formar sua convicção pra depois tomar uma decisão que se assemelhe ao máximo com aquilo que entendemos como Justiça.
Mas também é evidente que esse encontro tenha conotação política, mobilização de apoiadores e contrários, implicações nas próximas pesquisas eleitorais e ilações pra 2018. Afinal, todos sabemos o que realmente está em jogo.
Mas elas não podem partir do juiz, que não deve criar um palco pra posar de salvador da pátria maculada, e nem do réu, que não pode criar um circo onde ele é o mártir atirado aos leões vorazes famintos por injustiçá-lo.
Porque o que está em jogo nessa nossa república de bananas, aviltada pela corrupção, pela imoralidade política e pela promiscuidade entre o poder público e a iniciativa privada, é muito maior que Moro e também é muito maior que Lula.
O que os precisam hoje é simplesmente tratar sobre a acusação de que Lula recebeu propina da empreiteira pra influenciar no fechamento de contratos da construtora com a Petrobrás. E tratar isso como apenas mais um momento natural de um processo. Porque é isso que efetivamente é.
E num país onde mais se acusa do que se prova, menos se aceita o contraditório e mais difícil é desmentir o boato.
Porque, num país em que um ministro do Supremo é acusado de favorecer o cliente da esposa, onde a filha do procurador que acusa tem contra si a suspeita por trabalhar pra gente investigada pelo pai e a esposa do juiz se vê envolvida pela mídia em escândalos que o marido julga, definitivamente, não há heróis.
Mas, o que é mais importante, é que nós nem precisamos deles.
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