Agro Rural

Plano Safra recebe críticas do SOS Agro RS durante reunião em Cachoeira do Sul

Agricultores protestam contra morosidade do governo em apoiar o agro gaúcho após a catástrofe climática de maio

Plano Safra
Foto: Camila Cunha

Nesta quinta-feira (04), milhares de pecuaristas e agricultores se reuniram no parque da Fenarroz, em Cachoeira do Sul, na região central do Rio Grande do Sul, para protestar e exigir medidas do governo federal quanto ao Plano Safra. A manifestação foi organizada pelo Movimento SOS Agro RS, composto por representantes de diversas áreas do setor agropecuário do estado. O objetivo é obter apoio governamental para atenuar os prejuízos causados por desastres climáticos e resolver questões de endividamento rural.

Os produtores destacaram que enfrentam três anos consecutivos de estiagem, agravados pelas recentes chuvas e enchentes que inundaram o solo gaúcho. As principais culturas afetadas são soja, arroz, milho em grãos e silagem. O excesso de chuva inviabilizou as colheitas, afetando quase 20 mil famílias rurais e causando danos em cerca de 200 agroindústrias familiares.

A estimativa é que pelo menos 10% da área plantada no estado foi perdida, impactando também a criação de suínos, aves e bovinos. José Fernando Almeida Vieira, presidente do Sindicato Rural de Minas do Leão e Butiá, estima que os dois municípios perderam quase metade da colheita.

“Nossos prejuízos estão na casa dos 40% da área plantada. O governo federal precisa entender que quem tem perdas nesse nível não consegue custear investimentos, ainda mais depois da inundação dos campos”, afirmou.

Lucas Scheffer, um dos organizadores da mobilização, explicou que os alagamentos impedem a operação de colheitadeiras e a umidade reduz a fertilidade do solo e a qualidade dos grãos.

“É impossível utilizar equipamentos e máquinas em propriedades alagadas. Em outras palavras, com o solo inundado não há como realizar colheitas. Como se não bastasse, a umidade também diminui a qualidade dos grãos, ou seja, nem a pouca quantidade colhida fica apta para comercialização”, declarou.

Scheffer acrescentou que o movimento não busca anistia das dívidas, mas sim a prorrogação dos débitos, a criação de uma linha de crédito com juros de 3% e prazo de pagamento de 15 anos, com até dois anos de carência. Ele reconheceu que o Plano Safra 2024/2025 proporciona um alívio momentâneo ao setor, mas afirmou que o auxílio é insuficiente para compensar os prejuízos acumulados nos últimos anos. O Plano Safra 2024/2025, anunciado recentemente, inclui mais de R$ 400 bilhões em financiamentos, um aumento de 10% em relação à safra anterior, e R$ 368,3 milhões em seguro rural, um aumento de 170% em comparação ao ano passado.

Apesar das medidas, Scheffer e Gedeão Pereira, presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), criticaram o Plano Safra por não abordar o endividamento rural nem a necessidade de reconstrução do setor agropecuário gaúcho.

“Não basta cobrir os danos que sofreremos neste ano. Seria preciso que o auxílio também compreendesse as dívidas que estão acumuladas desde 2020. São três anos de perdas. O valor do prejuízo é imenso”, disse Scheffer.

Gedeão Pereira afirmou que está em negociações com os ministros da Reconstrução, Paulo Pimenta, e da Agricultura, Carlos Fávaro, em busca de soluções específicas para os agricultores do RS.

“As negociações com o governo federal estão andando. Deixei claro aos ministros que uma coisa é anunciar um plano que englobe produtores em todo o Brasil. Outra, é ter um plano que solucione o problema dos agricultores no RS. Não adianta anunciar Plano Safra se os produtores gaúchos estão endividados. Não conseguimos financiar mais nada, porque não temos créditos”, destacou Pereira, enfatizando que o estado perdeu 30 milhões de toneladas de grãos nas safras passadas.