Bento Gonçalves

Homenagens e esperança marcam o desfile cultural da Fenavinho em Bento Gonçalves

Durante todo o domingo, o reconhecimento ao trabalho do voluntariado se aliou à pujança dos distritos

Foto: Augusto Tomasi/Divulgação
Foto: Augusto Tomasi/Divulgação

As homenagens se intercalaram às oportunidade de boas compras de produtos agro produzidos por empresas familiares, neste domingo (30), no centro de Bento Gonçalves. O clima da Fenavinho dominou a Via Del Vino e, de forma inédita, o ar de festa tinha uma conotação de reconhecimento e agradecimento aos voluntários que trabalharam nas ações solidárias devido às chuvas de maio, que tantos estragos causaram em localidades do interior, além de ceifarem vidas.

O desfile de carros alegóricos sempre foi uma maneira de integrar a população do interior à festa e, ao mesmo tempo, de mostrar ao público da zona urbana as tradições e o legado do ‘colono’. Assim, além da exaltação às origens, o corso trilhou por um caminho de agradecimentos, homenagens e solidariedade. O desfile foi aberto pelos voluntários. Foram cerca de 800 pessoas divididas em 12 alas.

Crédito: Augusto Tomasi

A força do interior apareceu também no Tratoraço, que contou com 10 máquinas. Retroescavadeiras, patrolas e caminhões, responsáveis por abrir caminhos no interior devastado, seguida pela passagem de mais de 15 viaturas da ala das Forças de Segurança e de 25 veículos, como jipes, quadriciclos e camionetes 4X4, dos grupos de voluntários, emocionaram o público. A pé, voluntários cruzaram pela avenida empunhando bandeiras dos Estados brasileiros que enviaram ajuda humanitária ao Rio Grande do Sul. Psicólogos voluntários também desfilaram.

 

“Hoje é um dia para agradecer ao trabalho de cada de vocês. E preciso fazer um agradecimento, mais uma vez, a cada um dos voluntários, aqueles que arriscaram as próprias vidas no momento mais complicado da nossa história. Nossa população arregaçou as mangas e foi salvar os seus irmãos que estavam em Faria Lemos e Tuiuty”, comentou o prefeito Diogo Siqueira.

Ex-distritos também participaram

A ala da Prefeitura de Bento Gonçalves, com servidores de diversas secretarias envolvidas no atendimento à população, trouxe ao desfile a esperança que volta a mobilizar a comunidade. Ela passou com um carro carregando a Pipa-Pórtico, em alusão ao turismo tão presente nas atividades enoturísticas que representam os distritos.

Até mesmo ex-distritos, hoje municípios, apareceram no desfile. Monte Belo do Sul abriu a passagem, aproveitando para convidar o público para o 12º Polentaço, nos dias 2, 3 e 4 de agosto. Santa Tereza, município que sofreu com a cheia do Rio Taquari, surgiu na avenida destacando sua Associação Trivêneta, com o objetivo de resgatar a cultura italiana. Por fim, Pinto Bandeira, Capital Estadual do Pêssego de Mesa, se juntou à festa representada pela corte da sexta edição do evento, e por integrantes do Grupo Teatral Urta Con La Pansa.

A religiosidade, uma das marcas herdadas da imigração italiana na região, também passou pela avenida, com a presença das paróquias São Roque e Nossa Senhora do Rosário. Elas abrangem os distritos de Tuiuty e Faria Lemos, respectivamente.

O evento ainda ganhou realização de uma feira da agroindústria, reunindo produtores dos quatro distritos. Uma demonstração da força coletiva responsável por minimizar os efeitos do desastre climático que mobilizou o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG) a reativar o Unidos por Bento, e se aliar aos esforços da prefeitura, das forças de segurança e dos destemidos voluntários que enfrentaram chuva e lama e perigo para salvarem vidas.

“Esse é um dia emblemático, que simboliza a retomada das atividades no interior, a partir do agricultor que tão bem representa a Fenavinho e o trabalho nessa cidade”, disse o presidente do CIC-BG, Carlos Lazzari.

Releitura de carros históricos

Crédito: Jonathan Zanotto

As alas do CIC-BG e da Fenavinho encerraram o desfile, ratificando o desejo de reconstrução dos distritos responsáveis, justamente, por fazer a festa. Dois carros da Fenavinho causaram nostalgia nos moradores que acompanharam as primeiras edições da festa. O carro oficial da corte da 19ª Fenavinho é uma releitura festiva do original de 1985, que celebra a beleza da azaleia cor de vinho, e transportou a Imperatriz do Vinho, Ana Paula Côrtes Foresti, e as Damas de Honra, Thaís Dall’Osbel Centenaro e Liege Sobirai. Logo atrás, desfilando a pé, estavam as embaixatrizes que concorrem à corte da 20ª Fenavinho.

Outro carro com referência a outras épocas foi o do Vinho Borbulhante. Inspirado na criação alegórica da terceira edição, em 1975, tem uma garrafa derramando vinho numa taça, fazendo alusão ao vinho encanado, em que o vinho jorra pelas ruas de Bento Gonçalves. O carro do Bodegão, espaço criado na última festa para exaltar a cultura das bodegas do interior, e o carro que carrega a pipa da Fenavinho elevaram o astral do desfile e passaram entregando vinho ao público.

Para concluir as homenagens, a Ala Esventolão, instrumento que carrega a marca dos antepassados e que solta papel picado como forma de celebrar a vida, passou transmitindo a mensagem de que dias melhores virão.

“Vamos nos rever e prosperar mais uma vez”, disse a coordenadora do Comitê da 19ª Fenavinho, Patrícia Pedrotti.

O diretor-geral da 32ª ExpoBento, que ocorre junto com a festa de 11 a 21 de julho, disse que muitos empreendimentos contam com a realização de ambas para reestabelecerem seus negócios.

“Juntas, feira e festa propõe o movimento de retomada tão necessário nesse momento”, reforçou.

homenagens
Crédito: Augusto Tomasi

Feira da Agroindústria agrada produtores

O evento também teve a realização de uma feira da agroindústria, na Via del Vino. Durante todo dia, produtores dos quatro distritos comercializaram itens como vinhos, espumantes, biscoitos, capeletti, geleias e frutas.

“É uma proposta bem válida, justamente para que as agroindústrias possam vir para a rua e mostrar o seu diferencial, visto que nesse momento as pessoas não podem ir até os varejos para visitar”, disse Marcia Gallon, da Sucos Gallon, de Faria Lemos, que perdeu dois hectares de vinhedos devido aos deslizamentos de terra.

Impactado de outra forma pelo temporal em São Pedro, o produtor rural Jonatas Debona também aprovou a feira.

“Tudo que é incentivo para ter um alcance maior de público, para ter uma visibilidade maior, é muito bem-vindo”, disse ele, cuja produção de morango teve quebra de 90% devido às chuvas de maio e o café da família, Bonna Fragole, perdeu visitação pelos problemas logísticos.