Caxias do Sul

Morre, em Caxias do Sul, o comentarista esportivo Hilton Britto

Ex-colegas e fãs falam sobre a vida e o trabalho do profissional considerado como um dos ícones da crônica esportiva da Serra Gaúcha

Foto: Ivan Sgarabotto
Foto: Ivan Sgarabotto

Faleceu nesta terça-feira (28), aos 88 anos, Hilton Antônio de Mendonça Britto, icônico desportista, ex-atleta, ex-dirigente e, por décadas, comentarista do futebol de Caxias do Sul. Ele marcou época como goleiro do futebol amador da cidade, no Tupi e Vasco da Gama, e depois do Grêmio Esportivo Flamengo. No mesmo clube, foi dirigente e trabalhou com grandes equipes e atletas, que marcaram época na instituição. Também foi dirigente da Associação Caxias e do Juventude.

Como comentarista, se caracterizou por encontrar equilíbrio entre as críticas mais ácidas e o reconhecimento dos méritos. Metódico, respeitava a liturgia de uma transmissão esportiva, sempre cronometrando o tempo de fala, anotando cada detalhe em uma planilha cuidadosamente preparada a caneta e lápis, que levava uma borracha portátil na ponta.

Começou na Rádio Caxias, em 1961. Depois, passou pela Rádio Difusora, Independência, de Flores da Cunha; e por 16 anos, trabalhou na Rádio São Francisco, onde, além de comentarista, era o apresentador do tradicional programa de debates esportivos das 13h.

Natural de Cachoeira do Sul, pai de um casal de filhos, empreendedor, dono de uma fábrica de calendários no Bairro Petrópolis, ele usava o próprio produto para construir uma espécie de escudo na cabine de transmissão, por dois motivos: o que ele dizia ser o real, que era impedir o reflexo dos refletores ou do sol no olhar, e o verdadeiro – que ele preferia ocultar da luz – que era meio que se esconder dos torcedores, que na época costumavam ofender bastante as equipes de transmissão das rádios. Não é por outro motivo que ele colocava os calendários também abaixo do nível do olhar.

Britto portava uma pasta daquelas dos antigos executivos, que balançava ludicamente ao caminhar. Dentro dela, ia uma conjunto de lápis, canetas, borrachas até kits “sobrevivência” de higiene pessoal para os inóspitos ambientes de estádios esportivos. Ele também se caracterizou pelos bordões, que antes, por justiça, eram mais premissas verdadeiras, de fato, do que propriamente narrativas ou frases feitas. A principal delas, o inesquecível e correto: “tudo cessa quando um valor maior se levanta”, algo que repetia amiúde, mas sempre dentro de um contexto para lá de pertinente.

Comentarista da Rádio São Francisco nos áureos tempos do futebol caxiense, sua voz se eternizou nas transmissões que contaram a conquista do título gaúcho de 1998 do Juventude; da Copa Ênio Andrade, do Caxias, no mesmo ano; da conquista da Copa do Brasil de 1999 do Juventude; do título gaúcho do Caxias, em 2000. Em seguida, foi colega do narrador Gladir Azambuja na UCS FM, em projeto terceirizado de cobertura esportiva que também marcou época no início dos anos 2000.

Na Rádio Caxias, esteve na campanha que deixou o Juventude com o 7º lugar de 2004 e comentou a Sul-Americana de 2005.

Colegas e fãs lamentam a perda e relatam aprendizados

Ex-colega na UCS FM, na Rádio Caxias e mais tarde na IFC Web Rádio, o narrador Gladir Azambuja, atualmente residindo em Chapecó-SC, falou sobre a figura e as lições deixadas por Hilton Britto.

“Nós não estamos nos despedindo somente do radialista, do comentarista que fez história na comunicação de Caxias do Sul. Nós estamos nos despedindo de um personagem, de uma figura emblemática, de alguém que verdadeiramente marcou toda uma geração de desportistas, de ouvintes, de pessoas apaixonadas pela conjugação entre o rádio e o futebol”, disse.

Gladir ainda relata a firmeza de caráter do amigo.

Particularmente, aprendi muito com o Britto. E das inúmeras lições que tive com ele, posso destacar duas. A primeira, pensar de eu dizer que ele é personagem, e ele era, mas o Britto era o mesmo. Quando estava no ar, comentando, participando de debates. O mesmo Britto era encontrado lá dentro da casa dele, na convivência com a família e com os amigos. Era único e, por isso, verdadeiro. Ninguém, jamais, poderia acusá-lo de não ter sido autêntico. A segunda grande lição que aprendi com ele foi o entusiasmo e a seriedade que ele encarava o trabalho, mesmo nos jogos menores”, relata.

Ouvinte e fã, o comentarista e pós-graduado em jornalismo esportivo, Alexandre Vanin, relata as virtudes técnicas de Britto no ofício.

“O Britto era um mestre na forma de se comunicar e comentar futebol. Misturava frases marcantes e inesquecíveis, com análises objetivas, além de ter uma leitura de jogo que ilustrava muito bem, pelas ondas do rádio, o que acontecia no estádio. É uma inspiração pra sempre e uma legenda história do futebol caxiense”, define.

Ouvinte, Marcus Vinícius Gomes Velho esteve no velório do ex-comentarista na manhã desta quarta-feira (28) e falou sobre sua partida.

“Ele era um dos melhores do estado. Sacadas muito rápidas e muito boas. Inteligente, bem humorado sempre e tinhas ótimas histórias. Vai fazer muita falta”, resume.

O corpo de Hilton Britto está sendo velado na Capela E do Memorial São José de Caxias do Sul. O sepultamento ocorre às 17h, no Cemitério da Sociedade do Bairro Nossa Senhora de Lourdes.