Caxias do Sul

Aeroporto de Caxias do Sul receberá melhoria, mas solução para pousos com neblina ainda é distante

Instalação de equipamento que permite referências visuais aos pilotos, novo procedimento para pousos e alargamento da pista serão executados no próximo mês

Aeroporto de Caxias opera com mínimos limitadores nos dias de neblina. Foto: Instagram @spotterkelwin
Aeroporto de Caxias opera com mínimos limitadores nos dias de neblina. Foto: Instagram @spotterkelwin


O Aeroporto Hugo Cantergiani, de Caxias do Sul receberá melhorias no mês de junho. No entanto, as benfeitorias, de caráter emergencial, ainda manterão o principal terminal aéreo da região distante da realidade de suportar pousos em dias de neblina, tão comuns na Serra Gaúcha, sobretudo no inverno.

Diante da interdição do Aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre, o aeroporto regional passou a ser alternativa para passageiros que usualmente embarcavam na Capital. Com isso, as necessidades de melhorias no aeródromo passaram a despertar maior atenção de políticos e empresários.

 

Providências

No início da semana, o deputado Marcel Van Hatten (NOVO) participou de um encontro em Caxias do Sul com o prefeito Adiló Didomenico (PSDB), pegou voo no Hugo Cantergiani e, enquanto embarcava, anunciou em suas redes sociais a destinação de R$ 1,3 milhão em emendas parlamentares para melhorias no local. Os recursos serão solicitados entre os dias 10 e 12 de junho, quando uma ‘janela’ para direcionamento de verba parlamentar se abre no Congresso.

Dias depois, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) vai publicar um novo procedimento para aproximação, o RNP AR 0.15. O procedimento vai fazer evoluir os chamados “mínimos operacionais” do aeródromo, permitindo que a tomada de decisão para pouso seja mais próxima em distância e altitude em relação à cabeceira da pista.

Infraestrutura

Com verba da emenda, será instalado o PAPI (Precision Approach Path Indicator, em português Indicador de Percurso de Aproximação de Precisão), equipamento que permite referências visuais que balizam os pilotos em relação à rampa (altura) que desenvolvem na chamada ‘perna final de aproximação’ até o toque. Desta forma, é mandatória a substituição do obsoleto AVASIS, sistema disponível hoje em Caxias do Sul.

Com recursos da Prefeitura, oriundos de um projeto do Ministério de Portos e Aeroportos que captou R$ 4 milhões de taxas pagas no aeroporto, previstos para investimentos imediatos, também será ampliada a largura da pista, atualmente de 30 metros. A execução da obra será noturna e não interferirá nas operações de pousos e decolagens ao longo do dia.

 

Resoluções definitivas são praticamente inviáveis

 

Sistema de pouso exige colocação de ALS (antenas) por um longo espaço desde as cabeceiras. Foto: FAB

Segundo o piloto comercial, habilitado em aeronaves multimotores, instrumentos e instrutor de voo, Mauricio Adamatti, as obras emergenciais passam longe de resolver as limitações dos pousos em Caxias do Sul. A resolução dos problemas do Hugo Cantergiani, acrescenta, envolve melhorias bem mais complexas.

“Caxias do Sul já possui AVASIS, que a gente chama de ‘caixa de abelha’, tanto na cabeceira 15 quanto na 33. Só que o AVASIS não tem tanta precisão de rampa para o piloto. O PAPI é mais preciso, sobretudo para operações em instrumentos. Porém, não vai interferir em nada em dias de nevoeiro”, garante.

Adequação às condições climáticas

Adamatti explica que somente o ILS (Instrument Landing System, em português: Sistema de Pouso por Instrumento) resolveria a questão. Atualmente, há três tipos de ILS disponíveis. Para além, ele assegura que só um ILS CAT III se adequaria às necessidades climáticas da região, mas que a instalação demandaria recursos, tempo e logística praticamente impossível e certamente demorada.

No Brasil, somente o principal aeroporto do país tem essa tecnologia, o Internacional de Guarulhos, em São Paulo. Em Porto Alegre, por exemplo, operava o ILS CAT I, mas só em uma das cabeceiras – e estava estragado recentemente, antes das cheias. “Somente o CAT III em modo Charlie geraria pousos automáticos. Mas isso gera restrições, porque as aeronaves precisam estar homologadas e equipadas para esse tipo de operação. Então é uma limitação enorme”, explica o piloto.

 

Instalação exigiria maior terreno

“Para instalar um CAT III teria que desabrigar famílias ou conseguir espaços em muitos terrenos da cidade, no prolongamento do eixo da pista, para conseguir colocar toda a extensão da ALS, que é um feixe com vários pontos, como torres longas, que se espalham por uma grande área. Se utilizar nas duas cabeceiras, afeta muito também. O ILS opera separadamente em cada cabeceira e teria que ter nas duas em Caxias, devido aos ventos”, projeta.

Adamatti conta que, em 2012, esse sistema foi orçado em R$ 8,9 milhões, mas que hoje custa o dobro, pois o material é importado e comercializado em dólar. “Se a ideia é resolver as coisas na questão do nevoeiro, não tem lógica só com o PAPI”, insiste.

De qualquer maneira, o deputado Van Hatten acredita que, a médio prazo, é possível instalar o ILS, e que esse sistema pode ser transportado para o Aeroporto de Vila Oliva, quando este estiver pronto.

 

Fotos: @spotterkelwin

Fotos: Instagram @kelwinspotter