Caxias do Sul

Proposição de estudante vira lei municipal em homenagem às mulheres trabalhadoras de Caxias do Sul

Isadora de Oliveira Brando, 14 anos, do 9º ano da EMEF Alberto Pasqualini, apresentou sugestão como 'vereadora por um dia' inspirada nas vítimas da explosão da Metalúrgica Gazola em 1943

Proposição de estudante vira lei municipal em homenagem às mulheres trabalhadoras de Caxias do Sul
Foto: Marcelo Oliveira/Grupo RSCOM

Esta semana, Caxias do Sul ganhou o Dia Municipal das Mulheres Trabalhadoras, que será comemorado anualmente em 22 de julho. A data homenageia as sete operárias que morreram em decorrência da explosão da fábrica de munições da Metalúrgica Gazola, em 1943, fato que abalou o município na época e marcou a história caxiense.

As vítimas do acidente, que trabalhavam com substâncias inflamáveis, foram Graciema Formolo, 15 anos, Irma Zago, 17, Julia Gomes, 16, Maria Bohn, 20, Olívia Gomes, 18, Tereza Morais, 18, e Anoema da Costa Lima, 17 (que morreu por complicações da explosão em janeiro de 1945). Entre os feridos, Odila Gubert, 17, que precisou amputar uma das pernas, faleceu em 2003.

A indústria, que também produzia material bélico para a Segunda Guerra Mundial, ficava às margens da BR-116, próximo ao Monumento Nacional ao Imigrante. De acordo com o Memorial Gazola, o desastre foi tão intenso que pôde ser ouvido no centro da cidade e arredores do bairro São Pelegrino.

A proposição da homenagem, entretanto, não surgiu na Câmara de Vereadores nem na prefeitura, mas sim em uma sala de aula. Estudante do 9º ano do Ensino Fundamental, Isadora de Oliveira Brando, 14 anos, inspirada pela passagem dos 80 anos da tragédia e empolgada por levantar bandeira contra a exploração do trabalho, elaborou o projeto durante aula de História do professor Saulo Rodrigo Velasco, na Escola Municipal Alberto Pasqualini.

Em paralelo, a instituição foi uma das 23 inscritas no programa Vereador por Um Dia, iniciativa do Legislativo que proporciona aos estudantes de escolas públicas e particulares a experiência política de um parlamentar.

“Ela buscou o resgate histórico, a exposição de motivos (justificativas para existência da lei), e os dois artigos, que entram em vigor assim que o projeto é sancionado. Foi dentro da sala de aula que a Isadora teve essa feliz ideia, porque ela tem participação, tem interesse nessa questão do trabalho, principalmente na questão das mulheres. Tem um destaque nisso enquanto estudante“, revela Velasco, que atua na Alberto Pasqualini há sete anos.

Vista aérea dos prédios da Indústria Metalúrgica Gazola Ltda., que compreendiam a Fábrica de Materiais Bélicos e a nova Fábrica de Talheres | Foto: Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami
Funcionárias da metalúrgica | Foto: Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami
Trabalhadores na Seção de Embalagem de Material Bélico da Gazola Travi & Cia | Foto: Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami

Vereadora por um Dia

Escolhida para representar a escola, Isadora levou a proposta do Dia das Mulheres Trabalhadoras para defender na simulação de uma sessão ordinária, no dia 23 de outubro do ano passado, ao lado de outros 22 estudantes. A pauta da gurizada incluiu 14 requerimentos, nove projetos de lei e um projeto de lei complementar que tratavam, entre outros temas, de sustentabilidade, saneamento e pedidos como de aumento de linhas de transporte coletivo.

Para a estudante, o intuito da sua proposta é homenagear todas as mulheres.

“É importante representar as mulheres que morreram na explosão da (Metalúrgica) Gazola e também todas as mulheres que sofrem por exploração do trabalho hoje em dia. É para homenagear todas as mulheres”, destaca Isadora.

Isadora de Oliveira Brando está no 9° ano da EMEF Alberto Pasqualini | Foto: Marcelo Oliveira/Grupo RSCOM

 

Projeto de Lei na Câmara

Organizadora de uma exposição que resgatou os 80 anos da explosão em julho do ano passado, a vereadora Rose Frigeri (PT) apadrinhou a proposta da estudante e a apresentou como projeto de lei, aprovado por unanimidade pela Câmara em março passado.

“É um projeto singelo, mas cheio de significado – de valorizar as mulheres trabalhadoras, de resgatar a história das vítimas da trágica explosão, de valorizar a juventude, a educação, os trabalhos em sala de aula, e o significado de valorizar esta proposta da Escola do Legislativo que é o Vereador por um Dia”, reflete Rose.

O prefeito Adiló Didomenico sancionou a proposta como lei municipal n° 9.093/2024 nesta segunda-feira (1°), no Salão Nobre do Centro Administrativo. Isadora, o professor Velasco, a vereadora Rose, e o secretário de Governo, Flávio Cassina, acompanharam a assinatura, que inclui oficialmente o Dia das Mulheres Trabalhadoras no Calendário Oficial de Eventos do Município.

Promulgação da lei pelo prefeito Adiló Didomenico ocorreu na segunda-feira (1°) | Foto: Ícaro de Campos/divulgação

Incentivo à cidadania

Professor há 24 anos, Saulo Velasco reforça a importância de abordar em sala de aula a história de Caxias do Sul que, segundo ele, tem influência em fatos regionais, nacionais e até mundiais.

“Que a gente possa utilizar a política para cada vez mais incentivar os alunos a serem agentes da sociedade, não só ficarem ouvindo e aprendendo, mas trazer o conhecimento deles junto com o conhecimento do professor dentro da sala de aula. É incentivar a participação cidadã, a participação política do jovem. Porque o jovem não é o futuro, é o presente”, ressalta.

Alvo de elogios dos colegas pela iniciativa, Isadora não garante que seguirá necessariamente pela política quando for adulta. Ela se vê trabalhando com gastronomia ou direito, mas ainda está “pensando muito bem no que fazer”. De qualquer forma, deixa o recado para os amigos também participarem do programa.

É muito legal, porque foi um aluno que fez o projeto, que iniciou, teve a iniciativa da pesquisa. Espero que os colegas possam participar em um novo Vereador por um Dia”, celebra.