Comportamento

Familiares de jovem morta em incidente com aparelho de fondue pedem por justiça

O corpo de Jaqueline Tedesco, de 26 anos, foi sepultado em Garibaldi, após passar seis dias internada na Santa Casa de Rio Grande

(Foto: Lilian Donadelli/ Grupo RSCOM)
(Foto: Lilian Donadelli/ Grupo RSCOM)

O sentimento é de dor e muita comoção pela morte de Jaqueline Tedesco, de 26 anos. A jovem teve sua vida interrompida após um acidente durante o que era para ser um dos momentos mais felizes de sua vida, a comemoração pela sua formatura.

Jaqueline, formada em Direito pela Universidade Federal de Rio Grande (FURG), estava celebrando sua conquista junto com familiares e amigos quando um acidente com um aparelho de fondue resultou em queimaduras graves em 30% do seu corpo. A jovem morreu nesta última sexta-feira (15) na Santa Casa de Rio Grande, onde estava internada desde o dia 9 de março. Ela teve 30% do corpo queimado em um incidente durante a celebração de sua formatura em um restaurante localizado em Rio Grande.

Natural de Planalto, no Norte do RS, ela passou parte de sua vida em Garibaldi, cidade em que foram prestadas às últimas homenagens na tarde do sábado (16). Seu corpo foi sepultado no Cemitério Público Municipal.

Em uma entrevista à reportagem do Grupo RSCOM, a mãe de Jaqueline, Jocelí Morais, seu irmão Valdeir Tedesco e o tio João Moraes compartilharam memórias da estudante, descrevendo-a como uma jovem solidária, inspiradora e sempre sorridente. Jocelí relembrou os planos preparados para a festa de formatura de Jaqueline e expressou sua tristeza ao ver seus sonhos interrompidos de forma tão abrupta.

“Eu tinha preparado uma festa para ela aqui na AABB de Garibaldi. Tudo foi feito do jeito que ela queria. Ela merecia tudo isso. Tenho lá em casa o vestido que ela escolheu para a festa, o sapato que ela ia usar no dia, o anel, que foi um presente da família e amigos. Só não conseguimos salvá-la. Fui buscar um diploma de advogada e voltei com uma certidão de óbito. As duas datas, o dia do acidente e o dia da formatura, seriam os mais importantes de sua vida e para nós também”, conta a mãe. 

A mãe, que estava presente no momento do acidente, agora busca por justiça. Em meio ao luto, ela exige que os responsáveis sejam responsabilizados, “Quem chamou ele (proprietário do restaurante) na segunda-feira foi o namorado da Jaque […] e daí ele se ofereceu para ajudar no que fosse preciso. Mas, antes disso, não havia entrado em contato. Na mídia saiu uma nota dizendo que o restaurante prestou assistência desde o início, isso é mentira”.

“Não foi um acidente. Jaqueline foi arrancada de nós de uma maneira estúpida. Não há explicação. Estamos procurando respostas, mas ainda não encontramos. Como? Por quê? Não conseguimos entender. Estamos sem respostas. Ali no momento do acidente, incidente, sei lá o que eu posso dizer, a gente não teve nenhum socorro por parte deles (restaurante), nem uma ajuda. Foi pedido pra gente não fazer muito escândalo pra não atrapalhar o andamento do restaurante”.

Além de Jaqueline, uma funcionária do estabelecimento ficou ferida devido ao acidente. Em uma nota publicada nas redes sociais, o restaurante afirmou que o “incidente ocorreu nо reabastecimento do rechaud, o qual continha resquício de chama, resultando no espalhamento e ferimento em uma de suas colaboradoras e cliente”. O estabelecimento também apontou que “imediatamente ao fato, prestaram toda assistência à colaboradora e à cliente”.

JAQUELINE: O ORGULHO DA FAMÍLIA

(Foto: Arquivo Pessoal)

“Em Rio Grande, ela estava fazendo estágio no Fórum. Em janeiro, fevereiro, que terminou o estágio, ela foi efetivada e tinha ganhado uma bolsa. Ela foi e é inspiração de muita gente. É o orgulho da nossa família!” 

Sempre sorridente, apaixonada pela vida, tinha vários planos de um futuro promissor. Muito mais do que uma estudante de sucesso, ela era um símbolo de representatividade e superação.

Originária da comunidade Kaingang, sua jornada acadêmica foi marcada por conquistas notáveis, incluindo ser a quarta indígena a se formar em Direito pela FURG e a primeira mulher indígena a ocupar a coordenação-geral do Diretório Central de Estudantes da universidade, além de ser militante da Kizomba.

Ela havia também sido eleita para compor o Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI). Seu compromisso com a justiça social e sua dedicação em abrir caminhos para outros indígenas no meio acadêmico deixam um legado eterno.

 

INVESTIGAÇÕES 

A Polícia Civil está conduzindo uma investigação para esclarecer as circunstâncias do incidente. Câmeras de segurança do estabelecimento foram recolhidas para análise pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP).

A advogada Aisllana Zogbi, que representa a família de Jaqueline, explicou que o inquérito não foi concluído. “Ainda não sabemos dar maiores informações, justamente porque a Polícia Civil segue efetuando oitivas e aguardando pelo resultado das perícias. Em vista disso, seguimos aguardando pela conclusão do inquérito para então recalcular a rota e ver quais serão os próximos passos”.

Confira a entrevista cedida à reportagem do Grupo RSCOM da mãe de Jaqueline, Jocelí Morais, seu irmão Valdeir Tedesco e o tio João Moraes: