Caxias do Sul

CPI da Saúde de Caxias entrega relatório de atividades ao Ministério Público, e pede “investigação aprofundada”

Encaminhamento à promotora de Saúde Pública em exercício, Fernanda Soares Pereira, ocorreu na tarde desta terça (19)

CPI da Saúde de Caxias entrega relatório de atividades ao Ministério Público, e pede “investigação aprofundada”
Presidente da CPI, Rafael Bueno, promotora Fernanda Soares Pereira (C) e a relatora Estela Balardin seguram a versão simplificada do relatório, junto aos vereadores Zé Dambrós (D), Adriano Bressan e Velocino Uez. | Foto: Luca Roth/Grupo RSCOM

Na tarde desta terça-feira (19), os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde de Caxias do Sul entregaram o relatório de atividades do grupo, contendo apontamentos e responsabilizações, ao Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS). Na sede caxiense do MPRS, a promotora de Saúde Pública em exercício, Fernanda Soares Pereira, recebeu uma versão simplificada das mais de 9 mil páginas de denúncias, que são resultado de 160 dias de diligências da CPI. Os vereadores pediram por uma “investigação aprofundada” da promotoria.

O encaminhamento ocorre um dia antes do recesso do poder judiciário, portanto, as análises podem ter início somente a partir de 8 de janeiro de 2024, data em que os trabalhos serão retomados. Além do relatório completo das atividades, que aponta 9 fragilidades específicas da saúde e responsabiliza 40 pessoas e o poder Executivo, o MPRS terá acesso aos materiais audiovisuais produzidos pela CPI: foram realizadas mais de 53 horas de audições com 16 depoentes, e 23 reuniões parlamentares. O conteúdo foi transmitido pela TV do Legislativo.

A promotora Fernanda Soares Pereira garantiu que “tão logo possível será dado uma resposta a comunidade”, ainda que não seja possível especificar quando as investigações terão início ou quanto tempo levará para o Ministério Público analisar os documentos. Ela explicou que, se for o caso, algumas das situações expostas no relatório podem ser direcionadas para outras esferas da promotoria de justiça, como as áreas criminal e de patrimônio público.

“Esse trabalho é a análise do todo. A questão política, claro, a gente abstrai, o Ministério Público não interfere na questão política, assim como também não deve interferir na discricionariedade dos gestores e, sim, visualizar e verificar se houve ilegalidade, irregularidade, para assim tomar as providências“, afirmou.

Estiveram presentes o presidente da Câmara, Zé Dambrós (PSB), o presidente da CPI da Saúde, Rafael Bueno (PDT), a relatora Estela Balardin (PT), e os integrantes do grupo Adriano Bressan (PRD) e Velocino Uez (PRD), além de assessores parlamentares e jurídicos da Casa.

Bueno destacou à promotora alguns dos pontos centrais colocados pela CPI, como a ‘fraude’ dos cartões ponto na unidade de pronto atendimento (UPA) Central. De acordo com o relatório, que foi finalizado em 4 de dezembro passado, mais de 7 mil horas foram registradas de forma irregular, resultando num pagamento indevido de R$ 1,3 milhão, por parte do município, ao InSaúde – empresa terceirizada, que gerencia a unidade. O pedetista reforçou que o caso aconteceu em um período delicado da saúde, durante a pandemia da Covid-19, entre fevereiro de 2020 e julho de 2022.

“Foi um trabalho extenso (o da CPI), e a gente não quer que fique só na parte administrativa, apenas na devolução de recursos, como foi o caso da fraude no ponto dos médicos. Mas que o Ministério Público investigue cada pessoa que cometeu essa fraude e outras ilegalidades que nós apontamos, como possíveis ilegalidades na construção da obra (ampliação de leitos) do Hospital Geral, e que essas pessoas sejam punidas a rigor da lei”, apontou o presidente da CPI.

Foto: Luca Roth/Grupo RSCOM
Foto: Luca Roth/Grupo RSCOM
Foto: Luca Roth/Grupo RSCOM
Foto: Luca Roth/Grupo RSCOM

 

Outros tópicos denunciados pelo grupo, e que também foram comentados ao longo do encontro:

  • 2) Ilegalidade da subcontratação nas unidades de pronto atendimento;
  • 3) Alta rotatividade no quadro de pessoal na UPA Central;
  • 4) Ausência de procedimento licitatório para gestão na UPA Zona Norte;
  • 5) Não cumprimento integral do plano de metas da UPA Central e fragilidade de fiscalização, por parte do Poder Executivo;
  • 6) Indicadores de saúde divergentes dos parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Saúde;
  • 7) Inauguração da nova ala do Hospital Geral (HG), sem condições de uso, e descumprimento da lei municipal 8.888/2022;
  • 8) Possível conflito de interesses no fornecimento de materiais para a Fundação Universidade de Caxias do Sul (FUCS) e para as obras do HG;
  • 9) Atendimento materno-infantil na Rede de Saúde Pública Municipal.

No relatório, a CPI responsabiliza, nominalmente:

  • 36 funcionários da UPA Central por recebimento indevido de horas médicas não trabalhadas;
  • Ivete Borges, ex-diretora da UPA Central;
  • Nelson Alves de Lima, presidente do InSaúde, responsável pela realização do contrato entre o InSaúde (empresa licitada da UPA Central) e a JC Serviços Médicos;
  • José Quadros dos Santos, ex-presidente da Fundação Universidade de Caxias do Sul (FUCS);
  • Sandro Junqueira, diretor-geral do Hospital Geral (HG);
  • Poder Executivo Municipal.

É possível ter acesso ao documento entregue ao MPRS clicando aqui.