Caxias do Sul

ONGs de proteção animal em Caxias do Sul desabafam sobre resgates na cidade “estamos exaustas”

Voluntários expõem dívidas, falta de locais de abrigo para animais resgatados e afastamento do Poder Público, além de pedir que a comunidade não as responsabilize

(Foto: ONG SRD/ONG Instituto Patinhas/Reprodução)
(Foto: ONG SRD/ONG Instituto Patinhas/Reprodução)

Nas últimas duas semanas, as redes sociais em Caxias do Sul ilustraram o relato dos voluntários, por meio dos perfis de ONGs (Organização Não Governamental) de proteção animal. A mensagem que mais chama atenção é “estamos exaustas”, no sentido de várias questões que estão impedindo as organizações de continuarem com os resgates na cidade. Os principais motivos são à falta de locais para animais resgatados, dívidas em clínicas veterinárias e o afastamento do Poder Público.

A reportagem do Portal Leouve esteve em contato com duas ONGs de Caxias do Sul que atuam na causa animal, dentre muitas outras, que expuseram os problemas enfrentados e pedindo cobranças do poder público nos resgates. O trabalho das ONGs de proteção animal na cidade atuam na castração em massa, resgates, arrecadação de valores para auxílio geral e ajuda em casos específicos, além de prestar acolhimento aos animais em situação de rua, promovendo também a adoção consciente, entre outras pautas.

A ONG SRD (Sem Raça Definida – @ongsrdoficial), através da presidente Andressa Mallmann Bassani, salienta que as organizações não possuem nenhum auxílio, necessitando de doações. São promovidas rifas e jantares para os animais poderem ter o atendimento que precisam, como alimentação e remédios, além de consultas e castrações. Porém, a questão de resgates se tornou uma problemática, onde recebem inúmeros casos diariamente de animais em maus-tratos ou abandonados, e que em determinadas vezes, não conseguem resgatá-los, sendo que a comunidade acaba responsabilizando os voluntários. “Os denunciantes de casos inclusive escrevem que as ONGs não fazem nada, que existem para arrecadar dinheiro, e quando precisam, não são atendidos. Temos 31 cães em lares temporários pagos, o que nos demanda R$ 5 mil fixo por mês, mais 34 gatos em clínicas veterinárias parceiras, retirados de maus tratos. Nos colocamos em uma situação difícil para verificar todos os casos. A ONG SRD trabalha somente com maus-tratos, a gente se sente invisível diante ao poder público”.

A organização também não possui espaço para mais resgates, e isso acaba influenciando que tenha que pagar por lar temporário, tornando as dívidas cada vez mais altas. “Em dois meses resgatamos 60 animais, entre cães e gatos, em somente 2 meses. Não temos gatil, canil, não temos carro específico para os transportes, então também custeamos táxi dog de confiança, estamos com mais de R$ 30 mil em dívidas em clínicas, fora os fixos mensais de lar e alimentação”.

A presidente da ONG Instituto Patinhas@institutopatinhascaxias, Natiele Gomes, destaca que a motivação para expor os problemas enfrentados no Instagram da organização foi para a comunidade caxiense entender que a ONG não é a principal responsável pelos resgates de animais na cidade. Conforme ela, as pessoas acabam procurando primeiramente à ONG, e não a proteção animal da Semma (Secretaria do Meio Ambiente). “Por qualquer motivo elas [pessoas] avistam um animal na rua, que está abandonado, e já mandam para a ONG, e acabam não fazendo nada em relação a isso. Então nós quisemos colocar isso porque as pessoas são as maiores responsáveis pelos animais estarem na rua. Se o animal está ali é porque ele foi abandonado de certa forma e só repassar a responsabilidade para alguém acaba que fica super lotando as ONGs. A gente colocou ali para eles cobrarem também da Secretaria do Meio Ambiente, a SEMMA. Por quê? Porque a SEMMA é responsável pelos animais aqui em situação de rua em Caxias, e eles recebem para isso, muito ao contrário das ONGs, que não recebem um centavo para isso. Nós não recebemos nada. Todos nós somos voluntários na ONG, a maioria das ONGs funciona assim, não temos rede física, dedicamos parte do nosso tempo para ajudar os animais”.

A voluntária também destaca qual a orientação também para a população que se encontrar em determinadas situações em que um animal precisar de ajuda. “A ONG pede, orienta a pessoa, que se ela avistou um animal de rua para ver se ele está machucado, se ele estiver, para ela levar numa clínica veterinária, solicitar ajuda a baixo custo, e dar um lar solidário para esse animal até que ele seja adotado. Pode mandar uma fotinho para as ONGs, que as ONGs fazem a postagem, e não simplesmente dizer “lá em tal lugar tem um animal” e não fazer nada em relação a isso, só avisar. As pessoas também têm que ser responsáveis perante esses animais”.

Em contato com a SEMMA, a reportagem foi atendida pelo Coordenador do Departamento de Proteção Animal DPA, Paulo Vinícius Bastiani. O coordenador destacou que os principais meios de denúncias na cidade é presencialmente, ou no site semma.caxias.rs.gov.br, onde tem os formulários de animais em vulnerabilidade e animais em situação de maus-tratos. “Chegando pra nós essa denúncia, então a gente faz o cadastro dela e verifica se o animal esta numa situação em que ele tem tutores. Essa denúncia ela é encaminhada, é acompanhada ao setor de fiscalização, o qual vai até o local, então para verificar em que situação que o animal está sendo mantido. Lá ele tem uma veterinária, também no setor de fiscalização, e ela normalmente sempre acompanha também o fiscal para fazer essa verificação”.

Sobre os resgates, Paulo Vinícius salienta que a pasta não consegue realizar todos os resgates de animais por questões de falta de espaço e porque o Canil Municipal já trabalha com animais resgatados acima da capacidade. “Temos em torno de 450 cães lá no Canil Municipal, todos bem cuidados e tratados. Então, devido à lotação, a gente recolhe somente os animais que realmente precisam de cuidados veterinários imediatos, que não possam ser feitos ali no local, como o animal atropelado, o animal que está com lesões, com doenças, estes são recolhidos. Agora, aquele simplesmente abandonado ou que é de rua e ele está visualmente saudável, ele não é recolhido por não ter onde mantê-lo no momento. Então, nossa atenção, nossa prioridade é para aquele animal que está, sim, necessitando dos cuidados por devido a alguma doença ou devido alguma lesão que alguém ou que ele mesmo causou, que ele mesmo veio adquirir por briga ou outras circunstâncias”.

Quando o cidadão se deparar com alguma situação de animal que precisa de atendimento ou de resgate, a orientação da SEMMA é pelo telefone (54) 3901.1445, que funciona de segunda a sexta-feira, das 10h às 16h, ou pelo site semma.caxias.rs.gov.br, que funciona 24 horas. “Todas as denúncias que chegam até nós, sejam as com tutores ou sem tutores, são verificadas pela secretaria. Nós temos uma média do Departamento de Proteção Animal, de 20 a 25 animais por semana que verificamos e recolhemos em torno de uns 5 a 6 animais. O que a gente tem que focar, e é o nosso objetivo, na adoção, posse responsável, conseguir identificar quem causa o abandono ou quem faz o abandono, evidentemente, maus-tratos aos animais e conseguir punir estas pessoas. Então, a identificação de quem está abandonando, sim, é fundamental. E nisso a gente depende muito do apoio da comunidade”, pontua o coordenador.