Memória LEOUVE

Favor não confundir alcatra com picanha

Favor não confundir alcatra com picanha

Ações espetaculosas sevem bem à mídia. Ajudam a manter o interesse das pessoas, mas às vezes e paga um preço alto por elas.

 

Quero crer que a operação da força tarefa do Programa de Segurança Alimentar do Ministério Público (MP) do Estado do Rio Grande do Sul que resultou na apreensão de mais de 10 toneladas de carne imprópria para o consumo em Bento Gonçalves ontem e que continua hoje, venha para o bem da sociedade.

 

Vejo arrolados entre os infratores, amigos meus. Sou cliente de pelo menos dois dos estabelecimentos e trago da operação duas impressões: uma é a de que este tipo de vigilância vem para proteger o consumidor. Impede que tenhamos à mesa carne deteriorada e fora do prazo de validade. Aplausos, pois parece que em pelo menos um destes estabelecimentos foi isto que aconteceu. Havia lá falta de condições de higiene e também carne estragada. Que a punição, neste caso, seja exemplar.

 

Mas também houve apreensão de toneladas de carnes porque estavam a venda em açougues locais “sem o devido registro de licença e inspeção sanitária para este tipo de atividade” para restaurantes, cozinhas industriais e até mesmo para o hospital da cidade. Além disso, haveria também irregularidade no transporte dos produtos para entrega, que utilizariam veículos comuns, sem refrigeração.

 

Ou seja, faltam registros e autorizações dos órgãos específicos dos sistemas de inspeção municipal, estadual e federal. Entre as irregularidades encontradas pela fiscalização, estão carnes impróprias para o consumo, com validade vencida – em alguns casos desde 2015 –, e outros problemas, como a falta de procedência e a ausência de autorização para o fracionamento ou mesmo para a venda de carne temperada.

 

Olha, a gente sabe que estas ações possuem dois cunhos: o da saúde pública e o da arrecadação. Então é preciso separar ambos e lembrar que empresas tradicionais da cidade, empregadores respeitados estão tendo sua reputação comprometida.

 

 

O Ministério Público, a Vigilância Sanitária e o Gaeco sabem da velha história de atirar penas ao vento. Em tempos de redes sociais e em que fotos e notícias viralizam em segundos, não dá pra apreender dez toneladas de carne e deixar para conversar com a imprensa apenas no outro dia. Aí pode ser tarde e o pânico se instalar entre os consumidores.

Em respeito a estes consumidores, é preciso discriminar o que é carne sem nota, carne fracionada sem permissão e carne sem condições para o consumo. Tudo é passível de punição. Mas há mais de um peso a ser dado a cada tipo de infração. Não dá pra confundir carne de segunda com carne podre, assim como ninguém quer comprar gato por lebre ou alcatra por picanha.