Memória LEOUVE

A hipocrisia da corrupção como coisa normal

A hipocrisia da corrupção como coisa normal

As cada vez mais conhecidas delações dos executivos da Odebrecht escancaram uma realidade que eu venho dizendo aqui há muito tempo: há um sistema que institucionalizou a corrupção na relação entre governos e as grandes empresas do país que funciona há décadas, e só uma reforma profunda no sistema político pode nos tirar desse atoleiro de imoralidade que só agora vem à tona.

 

Porque, muito antes do PT ou do PSDB terem usado dessas relações pra financiar suas campanhas como agora as delações estão mostrando, muitas das grandes empreiteiras já se beneficiavam de relações promíscuas com o Estado desde o seu surgimento, lá entre as décadas de 1930 e 1950, e o pagamento de propinas se consolidou desde a ditadura militar.

 

Por isso, o que disse o patriarca dos Odebrecht sobre a população estar sendo apresentada agora a fatos sabidos há mais de 30 anos é a mais pura verdade e não surpreende ninguém que conheça pelo menos um pouco da história recente dessa nossa república de bananas.

 

Não é à toa que todos os presidentes eleitos no país depois da redemocratização são citados em alguma denúncia. Sarney, Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma, todos estão lá, e mesmo Michel Temer aparece, agora com o requinte de ter encaminhado um acerto de 40 milhões de dólares pras campanhas do seu PMDB.

 

Porque só agora isso vem à tona, perguntou Odebrecht. E a resposta é um escárnio com o povo, uma vergonha pro país, mas, infelizmente, não pode ser surpresa pra mais ninguém.

 

Afinal, o patriarca da construtora disse com todas as letras que os acertos entre autoridades e grandes empreiteiras não só eram um “negócio institucionalizado”, mas eram vistos como “uma coisa normal”.

 

Só que não são, e é preciso acabar de uma vez por todas com essa prática imoral que empobrece o país, e, pra mim, não há outra saída pra nação dos botocudos senão a reforma política comandada pelas organizações que representam toda a sociedade e a antecipação das eleições gerais.

 

 

Porque a gente não pode admitir que o país espere quatro ou cinco anos por uma definição judicial das culpas e das responsabilidades de cada um dos envolvidos, investigados e delatados nesse esquema que joga todos os partidos na lama e todas as principais lideranças da política tupiniquim no mesmo saco como um fantasma arrastando as correntes que ainda nos prendem a um passado de demagogia, hipocrisia e corrupção.