Memória LEOUVE

Dilma, Temer e o moto-contínuo da farsa

Dilma, Temer e o moto-contínuo da farsa

Amanhã será um dia histórico no nosso país: começa o primeiro julgamento de uma chapa presidencial na história da República. E isso significa que essa será a primeira vez que um Tribunal Superior Eleitoral vai determinar se algum candidato à presidência abusou do poder político e econômico na campanha eleitoral.

 

E aí eu te pergunto: abusaram? Não abusaram? Mas, convenhamos, não se abusa sempre do poder econômico nessa nossa política tupiniquim?

 

A resposta é um estrondoso sim, se abusa sempre do poder econômico em qualquer eleição nessa nossa república de bananas.

 

Infelizmente, é assim que a banda toca.

 

Caixa dois, como bem delatou o patriarca dos Odebrecht, sempre existiu, desde que existem eleições no nosso Brasil.

 

Isso significa que todos abusam do poder econômico, tanto os eleitos quanto os não-eleitos.

 

Hoje sabemos que quem venceu as eleições de 2014 abusou do poder econômico, porque recebeu dinheiro não declarado via caixa dois, no mínimo, e sabemos que também os derrotados receberam dinheiro por caixa dois.

 

Ou seja, como quase tudo nesse país, é o sujo falando do mal lavado, o roto tentando impugnar o esfarrapado.

 

Mas então, você me pergunta, o que vai acontecer quando, a partir de amanhã, inicia o embate no TSE?

 

E eu respondo que, num tribunal presidido por ninguém menos que o polêmico Gilmar Mendes, o homem que informalmente presta consultoria aos advogados do ora presidente Michel Temer, que é quem efetivamente tem algo a perder, porque Dilma já perdeu o que tinha, tudo pode acontecer.

 

Por conta disso, não é de espantar que algumas manobras deixem as coisas como estão, seja pedindo vistas e levando esse processo até depois das eleições de 2018, seja separando a campanha de Dilma da campanha de Temer, o que seria um escárnio, seja pela absolvição pura e simples ou pela sempre prudente falta de provas.

 

O certo é que se o crime eleitoral beneficiou Dilma, o mesmo crime também beneficiou Temer, e só isso deveria deixar vermelha a cara sem-vergonha de quem defende o contrário.

 

E veja que nem estou falando do cheque nominal, da delação do Sérgio Machado ou da confirmação do delator da Odebrecht.

 

Ou do clamor por eleições diretas ou das implicações de uma eleição indireta no Congresso caso caia a casa do plantonista do Planalto.

 

Mas como tudo pode no país dos botocudos, até mesmo o PSDB que entrou com a ação não querer mais que ela chegue ao fim, seguiremos engolindo a célebre lição que Lula nos ensinou no mensalão: eu não sabia.

 

 

E, como se verá logo a seguir, a história seguirá se repetindo, sempre e eternamente, como o cachorro correndo atrás do próprio rabo, no moto-contínuo de uma farsa que teimamos em aplaudir.