Memória LEOUVE

Bois de piranha

Bois de piranha

Quer saber? Nem importa se o restaurante servia carne brasileira ou de onde quer que seja, mas a imagem do presidente Michel Temer e os embaixadores de diversos países parceiros se refestelando na picanha gorda não passa de uma estratégia óbvia e sem criatividades pra tentar evitar um desastre na imagem que a carne brasileira tem no mercado internacional depois do estrago causado pela Operação Carne Fraca.

 

Além do churrasco, o contra-ataque governamental incluiu um rodízio de reuniões de emergência, a tentativa de minimizar a operação, apontar excessos e contradições da polícia e afirmar que tudo o que foi revelado não passa de casos isolados, e, claro, anunciar uma forte auditoria nas empresas investigadas a partir de hoje.

 

Mas, da picanha malpassada ao mimimi que conseguiu unir esquerdistas e a bancada ruralista pela primeira vez na história, o que importa mesmo é cobrar esclarecimentos sobre a Operação que cortou na carne das duas gigantes do setor.

 

Porque é possível sim questionar a pirotecnia, o espetáculo pras câmeras de televisão e o aparato policial hollywoodiano que reuniu a operação, mas não se pode negar que a polícia cortou um generoso e suculento naco da corrupção de quem deveria garantir a sanidade do sistema e as práticas irregulares além de um eventual papelão da polícia.

 

É evidente que há mais interesses comerciais em jogo do que a disputa do bife, e é claro que haverá pressão de quem é triturado pela carne brasileira, que abocanha 15% do mercado mundial. Eles vão mugir, vão fazer barulho e pedir a suspensão das importações da carne tupiniquim.

 

Por isso não dá pra agir como um boi gordo e vencido a caminho do matadouro, mas também não podemos engolir em seco a carne podre sem espernear e dar coices.

 

Por isso, é preciso revelar esse esquema de pagamento de propinas a fiscais agropecuários pra liberação de carnes impróprias, identificar os frigoríficos suspeitos, retirar os lotes irregularidades do mercado e sanear o sistema dando nomes a todos os bois mesmo que vá doer na própria carne.

 

Tudo com total transparência, porque todos nós estamos cansados de saber que por aqui a carne é mesmo fraca.

 

 

Caso contrário, seremos todos devorados como bois de piranha.