Memória LEOUVE

A apoteose dos alienados

A apoteose dos alienados

Bum bum paticumbum prugurundum. Esse som não me sai da cabeça. Eu confesso que até cheguei a pensar que era o barulho das panelas batendo indignadas com a corrupção cada vez mais escancarada na nossa república das bananas.

 

Mas logo caí na real.

 

O barulho é dos pandeiros e tamborins do nosso samba, minha gente, é isso aí. A festa mais popular do país dos botocudos abre alas pra alegria e faz a vida parecer mais fácil nos quatro dias de folia.

 

 

Crise pra quê?

 

 

Afinal, se a minha alegria atravessou o mar e ancorou na passarela num desembarque fascinante no maior show da terra, porque é que vamos perder tempo com as delações da Odebrecht, com a falta de vergonha do temerário presidente ou com a saúde frágil dos ministros delatados pela Lava-jato?

 

 

Afinal, é hoje o dia da alegria; e a tristeza nem pode pensar em chegar.

 

 

Diga, espelho meu, se há na avenida alguém mais alienado do que eu?

 

Mas então que tititi é esse que vem da Sapucaí? É a festa da alegria como se tudo não fosse acabar em ressaca numa quarta feira, e alimenta a ilusão de uma falsa liberdade onde os ricos curtem com seus carrões luxuosos, seus camarotes blindados e suas fantasias e exageros, mas são os pobres que podem ser reis por uma noite.

 

 

Do outro lado da avenida, tudo segue igual na apoteose, os corruptos continuam roubando no poder, a violência segue fazendo vítimas nas ruas, o desempregado continua sem esperança.

 

 

Mas não me leve a mal, hoje é carnaval!

 

 

Como será o amanhã? Responda quem puder.

 

Porque hoje eu vou tomar um porre, e não me socorre que eu to feliz.

 

 

Afinal de contas, quem não gosta de samba bom sujeito não é, e atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu.

 

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