Memória LEOUVE

Um governo réu confesso

Um governo réu confesso

É quase inacreditável a capacidade que esse nosso governo tem de continuar nos surpreendendo mesmo depois que a gente acha que daquele limite não pode passar.

 

Pois veja só você que apenas poucos dias depois de brindar o país com a promoção do Angorá Moreira Franco a ministro, agora o temerário presidente indica ninguém menos que o seu próprio ministro da Justiça pra vaga no Supremo Tribunal Federal aberta com a morte do ministro Teori.

 

Eu podia dizer que o governo tá curtindo com a nossa cara, mas seria muito pouco. Eu podia então dizer que é uma vergonha sem tamanho, uma indignidade imensurável, um escárnio, uma falta de ética sem tamanho, mas tudo isso ainda seria muito pouco diante da infâmia.

 

Pra mim, a indicação do ministro da Justiça Alexandre de Moraes ao STF é nada menos que uma confissão. É isso mesmo: pra mim, depois dessa, o governo dos corruptos é réu confesso.

 

Porque nada pode justificar a indicação de um funcionário pra julgar o patrão. Porque é isso mesmo que é, e é isso mesmo que vai acontecer.

 

Pra quem não sabe, o cara indicado pelo presidente terá a missão de ser o revisor dos processos da Lava-jato! Então, lá, ele vai ter a nobre missão de… estancar a sangria, como disse com todas as letras um dos mais reluzentes líderes do governo, o senador Romero Jucá, ou o Caju, pra lembrar o apelido dele na famosa lista, ele próprio um dos que está sangrando.

 

Afinal, não podemos esquecer que o temerário presidente foi citado mais de 40 vezes na Lava-jato e que vários dos seus ministros também, e alguns deles até já estão sendo investigados. Por isso, no mínimo, esta não era a hora de escolher para o STF alguém da cozinha do poder e, não bastasse isso, tucano de carteirinha.

 

Não custa lembrar que a nomeação do Dias Toffoli, que tinha sido advogado do PT, pelos governos do PT, gerou uma não sem razão desconfiança natural. Na época, o ilibado ministro Gilmar Mendes chegou a dizer que queriam transformar o STF em uma corte bolivariana. Pois agora, o indicado é filiado a partido, defende posições controversas, tem sua atuação no ministério altamente questionada e, como advogado, já defendeu até um braço do PCC. E o Gilmar mendes não vê nada demais. Ao contrário: apoia e dá fé.

 

É claro que ninguém é ingênuo a ponto de não saber que a indicação ao STF é política e que presidentes indicam juristas com afinidades a seus grupos políticos pra esse cargos. Nesse caso, o atual ministro da Justiça tem todas as condições.

 

Mas no momento atual que enfrenta nossa república de bananas, o cara não tem as mínimas condições. E olha que eu nem falo por suas posições.

 

O problema maior é que, como ele mesmo apontou em sua tese de doutorado, defendida lá no final do século passado, a nomeação de cargo de confiança durante o mandato do presidente da república em exercício no momento da escolha deveria ser proibida. Pra ele, isso evitaria qualquer demonstração de gratidão política ou a aceitação de compromissos que comprometam a independência do magistrado.

 

 

É ou não é uma confissão? Sem mais, meritíssimo.