Caxias do Sul

Problemas nas escolas infantis da Gestão Compartilhada são debatidos durante audiência pública em Caxias do Sul

Entre os principais apontamentos indicados pelo Senalba estão problemas de estrutura, falta de profissionais e escassez de alimentos

(Foto: Alice Corrêa/Grupo RSCOM)
(Foto: Alice Corrêa/Grupo RSCOM)

Na última quarta-feira (30) foram debatidos os problemas enfrentados em algumas das 48 escolas de Educação Infantil da Gestão Compartilhada em Caxias do Sul. Dentre os principais pontos abordados pelo Senalba (Sindicato dos Empregados em Entidades Culturais, Recreativas, de Assistência Social, de Orientação e Formação Profissional) estão os problemas em estruturas, falta de profissionais e escassez de alimentos servidos para as crianças. A audiência pública ocorreu no Plenário da Câmara Municipal de Vereadores.

A discussão foi promovida pela Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação, Cultura, Desporto e Lazer (CECTICDL), presidida pelo vereador Adriano Bressan (PTB), e estiveram presentes autoridades como Claiton Melo, presidente do Senalba Caxias; Isabel Galli representante Associação Educacional Jardelino Ramos (AEJAR); Alvaro Nascimento, Presidente da Associação de Educação Integral Educarita e João Batista Monteiro, representante do Centro Filantrópico Simon Lundgren, além dos representantes das educadores, merendeiras, professoras e da SMED.

Após a abertura da audiência, Claiton Melo usou a palavra da tribuna, falhas na gestão educacional, como falta de docentes nas escolas, a superlotação, problemas estruturais, falta de acessibilidade e escassez de alimentos. O presidente destacou ainda que essas deficiências precisam de soluções imediatas. “Atualmente temos 5.900 crianças matriculadas e, mais ou menos, quase 700 funcionários. O ano passado tínhamos mais de 700 funcionários de 5.500 crianças, hoje temos mais crianças e menos profissionais, sendo que no ano passado já tinha dificuldade. Ao invés de aumentar o número, diminuiu”.

Sobre as faltas de alimentos ficou a cargo de Angela Maria Catarina, representante das merendeiras do Senalba, para expor que houve redução no repasse de legumes, verduras, frutas e carnes no plano alimentar das crianças, precisando até compor com outros alimentos para que os alunos consigam ter uma alimentação completa. A representante apontou também que o problema acontece em diversas escolas da rede. “Temos alguns apontamentos, que aconteceu neste ano. Nesses cinco anos em que estou trabalhando nunca tinha visto uma diminuição nos alimentos. O número de crianças está igual no começo do ano e houve, dentro desse segundo semestre, uma diminuição de 140 pães que eu usava foi diminuído para 70 sem nenhuma justificativa do porque. A mesma coisa aconteceu com a carne. Isso não é em uma escola, isso é em todas as escolas. Ficamos quinze dias sem leite devido à composição dele. Foi dado suco, chá, uma troca enorme no cardápio”.

Débora Leite Fin, representante das educadoras infantis, relatou que a falta de monitores acarreta em sobrecarga das professoras, que precisam atender a muito mais crianças durante o turno, em até cinquenta alunos. Ela ampliou que as principais refeições de muitas crianças são realizadas nas escolas e grande parte delas fazem dois turnos nas escolas de educação infantil. “Muitas vezes estamos sobrecarregadas nas escolas, tendo que muitas vezes improvisar nas salas de aula, com nossas crianças que são nosso objetivo maior. Duas professoras que chegam no início da manhã, sendo que tem autistas junto nessa chegada, e a gente sozinha para atender quarenta, cinquenta alunos com apenas duas professoras. Se acontece alguma coisa com as crianças quem é responsabilizada? As educadoras. Muitas pessoas dizem ‘não tem mais educadores’, mas não é como era há quinze anos atrás, em outras administrações, onde éramos muito valorizadas”.

Representantes da Gestão apontam que não há problemas nas escolas

A representante Associação Educacional Jardelino Ramos, Isabel Galli, salienta que as 16 escolas administradas pela organização não possuem as deficiências apontadas pelo sindicato, além de destacar que há total comprometimento com o desenvolvimentos das crianças. “A maneira como a gente gere essas escolas é com a maior seriedade possível. Falo da AEJAR, de como a gente vê as escolas e como estamos preocupados em reestruturar as coisas que ainda precisam ser feitas. Parece que a gestão compartilhada não acontece nada, a gente simplesmente pegou as escolas e não se fez nada. Convido a todos para verificar as escolas e ver que não é bem assim. Não vi um aluno da escola Morada dos Alpes com fome. Essa fala realmente não é da nossa realidade”.

Alvaro Nascimento, representante da Educaxias, da Associação de Educação Integral Educarita, demonstrou preocupação com os apontamentos do Senalba, e relatou que as escolas administradas pela associação não possuem os devidos problemas. O representante pontuou que a entidade está sempre aberta à visitação e prestação de contas sobre o atual funcionamento da instituição. “Se existisse, na amplitude como foi colocado aqui, em um extremo de que tudo está errado, por certo essas três entidades já não estariam mais prestando serviços, pois todas as entidades trabalham sob contrato detalhado como deve ser um contrato administrativo. Já visitei várias escolas, testemunhei principalmente em horários de refeições, não me pareceu, pelo menos nas escolas em que estive, que esteja acontecendo essa calamidade toda posta aqui”.

O representante do Centro Filantrópico Simon Lundgren, João Monteiro, ressaltou que a instituição atende as escolas com equipes dedicadas e competentes, relatou que situações pontuais apresentadas pelo sindicato não é uma realidade geral. Ele salientou que as 16 escolas atendidas pelo centro de educação funcionam em boas condições para o desenvolvimento das crianças. “Jamais eu, na qualidade de presidente, no terceiro ano da entidade, jamais ia permitir, tendo conhecimento de que há situações aqui narradas, jamais ia permitir, pois violação, agressões, violações dos direitos da criança e do adolescente não é só bater, não é só agredir fisicamente, molestar sexualmente, mas também falhar com a alimentação, como aqui foi falado. Tenho certeza absoluta e confio na equipe que gesta os recursos humanos da entidade que isso não acontece em nenhuma das 16 escolas de educação infantil”.

Representando a Secretaria de Educação (SMED), Marcos Antonio da Silva, relatou que todas as demandas do Senalba e das entidades de Educação Integrada serão apresentadas à pasta para os devidos procedimentos. Marcos Antonio também elevou a importância das discussões para escuta de todas as partes envolvidas. “Temos várias situações que envolvem outros setores da SMED que vamos levar à secretaria para que seja discutido e dado retorno. Posto isso, essa é a consideração que tenho agora, nós levarmos essas demandas para serem discutidas e respondidas junto aos demais servidores da SMED”.

Fotos: Alice Corrêa/Grupo RSCOM

(Foto: Alice Corrêa/Grupo RSCOM)

 

Próximos passos

Conforme o presidente do Senalba, as escolas precisam urgente de Recursos Humanos, com mais mão de obra de profissionais para atender a alta demanda. Serão encaminhados ao Estado e a União os problemas com alimentação para que seja levantada uma investigação. “Há indícios de uma má gestão porque a alimentação na conta não está fechando, estamos com inúmeros relatos, estamos aqui com documentos. Precisamos também que as entidades junto com o Poder Público dê mais suporte. Os trabalhadores não desaprenderam a trabalhar, é impossível. Antes de 2017 as pessoas faziam carreira na Educação, hoje as pessoas ficam semanas. Será que o problema está no educador e no profissional que está no educador lá dentro?”, questiona.